Sonntag, 24. Februar 2008

Filosofia de Wittgenstein sobre o Mundo

"Neste mundo não há nada de terrível nem nada de maravilhoso, apenas coisas assim-assim"

Fédon: Ideias interessantes

Há alguns tempos pus-me a ler "Fédon" de Platão. Apesar de ser, como todos os diálogos socráticos, uma dialéctica cheia de argumentos muito primitivos, por sua vez cheios de metafísica com 2500 anos, houve uma ideia que me chamou a atenção. Que até acho podermos interpretar num sentido mais amplo...

Na obra relata-se o dia da morte de Sócrates, enfatizando a sua aceitação da morte. Grande parte da sua argumentação a explicar o porquê disso é, a meu ver, uma caca. Os argumentos e exemplos que usa são completamente despropositados e irracionais; as perguntas retóricas manipulativas que coloca metem respostas ainda mais idiotas nas bocas dos seus discípulos, que nada mais fazem a não ser concordar com Sócrates.

No meio disso tudo surge a teoria da alternância dos opostos.
Sócrates afirma que tudo no universo nasce do seu contrário: A vida leva à morte, a morte origina a vida.
Se conhecemos, por outro lado, o significado da palavra "frio", é porque conhecemos o seu oposto para podermos estabelecer comparações: se sabemos o que é o frio, então conhecemos o quente. O frio aquece, dá lugar ao quente, o quente esfria e cria o frio.
Da mesma forma... para determinarmos, na nossa opinião, o que é o "justo", temos também de conhecer o "injusto".
A existência do "bem" tem como pre-requisito a existência do mal.
É a partir dos contrastes, em suma, que orientamos o nosso conhecimento.

Montag, 4. Februar 2008

O ABISMO

Pascal em si tinha um abismo se movendo.
- Ai, tudo é abismo! - sonho, acção, desejo intenso
,Palavra! E sobre mim, num calafrio, eu penso
Sentir do Medo o vento às vezes se estendendo.

Em volta, no alto, embaixo, a profundeza, o denso
Silêncio, a tumba, o espaço cativante e horrendo...
Em minhas noites, Deus, o sábio dedo erguendo,
Desenha um pesadelo multiforme e imenso.

Tenho medo do sono, o túnel que me esconde,
Cheio de vago horror, levando não sei aonde;
Do infinito, à janela, eu gozo os cruéis prazeres,

E meu espírito, ébrio afeito ao desvario,
Ao nada inveja a insensibilidade e o frio.
- Ah, não sair jamais dos Números e Seres!


Charles Baudelaire

Sonntag, 3. Februar 2008

Maias para crianças?

No outro dia, quando estava numa paragem de autocarro, não pude deixar de reparar num anúncio do semanário Sol, que fazia publicidade a uma adaptação dos Maias de Eça de Queirós para crianças, feita pelo Luis Peixoto.
Quem já tiver lido Os Maias, há de perceber de onde veio o meu espanto - aliás, porque é que toda a rua desatou a olhar para mim quando me viu a dar uma gargalhada enorme e descontrolada quando fiz a ligação:
Os Maias tem como tema central um incesto. Duvido que, independentemente de quão fofinhos os desenhos sejam, as criancinhas inocentes de 4 anos ou assim não perguntem aos papás:
"Papá. O que é adultério?(com enormes olhos de bambi)" "Mamã, o que é incesto?" "mamã, o que quer dizer "aos dezoito anos já tinha o seu bastardozinho"?"
Péssima escolha de livro para fazer a adaptação. É um livro excelente para gente crescida, mas pouco ou nada podem aprender miúdos com aquilo.

Samstag, 2. Februar 2008

De "Candide"

Ultimamente, ando a ler "Candide", de Voltaire, ou François-Marie Arouet. Já que foi uma obra escrita com todo o espírito do iluminismo, "Candide" tem uma fortíssima componente filosófica. Mas não é por isso que a obra me fascina, apesar de a filosofia transmitida ser muito interessante. O próprio estilo de Voltaire, embebido em ironia e humor, leva leitores a violentos ataques de riso 250 anos depois.
Ainda vou a meio do livro, mas posso fazer um resumo do que tem acontecido: Candide, é um jovem que vive no castelo do Barão de Thunder-ten-tronckh, que, como Voltaire escreve, é o barão mais poderoso da Vestfália, pois "o seu castelo tinha uma porta e janelas". Candide é o seu sobrinho, filho da sua irmã que se recusou casar porque o seu amado só podia provar a ascendência pura e nobre "apenas" até à sexta geração.
No castelo mora também o sábio Pangloss, que ensina a Metafisicó-teologó-cosmolonigologia, que a bela Cunegonde, a amada de Candide, encontra uma vez no jardim a dar uma lição de "física experimental" à criada. Fascinada com o que tinha visto, Cunegonde pratica o mesmo com Candide, sendo apanhados os dois na mesma altura pelo barão, que não é mais do que o pai de Cunegonde.
Candide é expulso a pontapé do paraíso e viaja, vendo os terrores da guerra, aldeias ávaras saqueadas e queimadas pelos búlgaros e aldeias búlgaras às quais os ávaros tinham dado o mesmo tratamento, e acaba por ser recrutado à força para o seu exército. Um dia, como soldado, Candide decide dar um passeio para fora do campo, é apanhado, declarado desertor e castigado com seis mil vergastadas.
Numa certa batalha, deserta mesmo e viaja para a Holanda, onde trabalha para um fabricante holandês de tapetes persas. Um dia, ao ver um pedinte a morrer na rua de sífilis, fica atónito ao saber que é na verdade Pangloss, que tinha sido infectado pela criada, que tinha sido infectada por um franciscano que tinha por sua vez recebido a sífilis de uma velha condessa. Essa devia a doença a oficial, que a devia a uma marquesa, que tinha sido infectada por um pagem que tinha sido contagiado por um jesuíta.
Depois de se tratar de Pangloss, viajam os três (Candide, Pangloss e o fabricante) para Lisboa em negócios.

E é nessa parte que eu fiquei. Como se pode ver, toda a escrita de Voltaire gira à volta do absurdo, do irónico, do sarcástico, do hilariante, da crítica. É o meu sentido de humor.