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Freitag, 29. April 2011

O Hospital


José P. saiu tarde do emprego, numa noite como esta.
À porta da empresa, tropeçou num grupo de mendigos cadavéricos deitados. Através dos seus olhos transparentes via-se a putrefacção de sonhos ingénuos acumulados ao longo de vidas que se arruinaram num abrir e fechar de olhos. Pediram-lhe dinheiro, por favor, algo para comer, por bondade; mas José P. não tinha nada.
Desceu as escadas imundas e entrou na estação inundada de massas disformes de mártires anónimos. Nas caras empalidecidas via-lhes o desespero; o seu silêncio plúmbeo tresandava a medo do futuro.
Foi aí que lhe ocorreu pela primeira vez que os túneis do metro, nos dias que correm, não são senão os esgotos ocultos das sociedades decadentes. Todo o pus segregado pela injustiça flui nos canais ininterruptamente: os incontáveis cansados, explorados, desempregados, cegos, imigrantes, estudantes esquecidos sonhando com a emigração, pequenos e médios empresários falidos, estagiários sem nome nem futuro, idosas solitárias que se alimentam de pouco mais que a amargura da velhice miserável, advogados agrilhoados em torres de intermináveis processos de insolvência.
Saiu e apanhou o autocarro para a sua cidade-dormitório, o império da insónia dos desempregados e dos pequenos comerciantes - que contam em angústia os segundos que faltam para perderem o subsídio ou para dívidas invencíveis vencerem. No caminho, pensou que como a noite estava escura e o Município tem dinheiro para criar para primos e camaradas de partido empresas que nascem deficitárias e inúteis, mas não para assegurar uma iluminação suficiente nas ruas, talvez ainda fosse assaltado e devia era andar depressa para chegar a casa.
Mas depois lembrou-se que não tinha dinheiro. Nem mesmo anel de noivado, que tinha entregue com grande relutância a um daqueles homens muito honestos que se vê por aí cada vez mais, daqueles que compram o ouro a pessoas quase falidas ao preço da chuva.
José P. lembrou-se que não tinha nada na vida, nunca teve, e nunca teria; e viu que lhe era completamente indiferente se era assaltado ou não. Mesmo que fosse, não tinha vontade de voltar a ir à esquadra e rogar insistentemente a mais um chui gordo, imbecil e imprestável o favor de lhe dar os tais impressos para não-sei-quê para os preencher antes que fossem definitivamente perdidos nos abismos da Administração Pública e da Justiça portuguesas sem que ninguém se voltasse a chatear com o assalto: nem o chui indiferente e inerte, nem o ladrão que dorme descansado na segurança da sua impunidade certa, nem os funcionários públicos bafientos ausentes na sua permanente indignação por os seus privilégios deixarem de ser tabu, nem o juiz frustrado com a desorganização patológica do sistema judicial que suspira de desgosto quando tem a certeza absoluta que acabou de ouvir ratazanas a fornicar dentro de um dos muitos buracos encharcados nas paredes da sala de audiências.
Das janelas do autocarro ainda passou pela parte rica da cidade, por breves momentos. E José P. conseguiu ver altos muros armados com alarmes protegendo vivendas de intocáveis de fato e gravata, intocáveis que se alimentam de jantares de negócios, que levam os filhos para o colégio de BMW e Jipe até à idade em que estes já podem conduzir o seu próprio BMW e Jipe para a Universidade privada. Também eles vivem com medo de serem roubados, mas não do desemprego ou da pobreza: afinal, conhecem um gajo, pá, que conhece outro gajo, pá.
Chegou à casa vazia e abriu a caixa do correio.
Viu que tinha chegado mais uma remessa de cartas do banco, de velhos amigos que tinham emprestado algum dinheiro em alturas difíceis e agora pediam amavelmente o dinheiro de volta, visto estarem eles próprios a apertar tanto o cinto que em breve estariam cortados em dois. Havia também inúmeras cartas das telecomunicações, da água e do gás e da electricidade, que exigiam mais e mais e mais ainda; afinal, podiam fazê-lo impunemente, como monopolistas ou oligopolistas, longe de um mercado livre guardado por Autoridades da Concorrência activas.
José Pedro suspirou, sentiu uma dor de cabeça profunda.
Como ia pagar aquilo tudo? Era impossível, agora que tinha voltado pela última vez a casa vindo da empresa. Lembraram-lhe que aquilo que ele tinha não era bem um contrato e que podiam fazer com ele o que quisesse.

De repente, a dor ficou ainda pior. Lembrou-se que para a semana tinha de pagar os impostos. Talvez se o banco lhe pudesse emprestar dinheiro? Mas agora já não emprestam dinheiro a ninguém para nada, ao passo que antigamente emprestavam a todos para tudo. Tirou a mão do bolso e saiu o talão do supermercado. Pegou nele antes de o pôr no lixo e, subitamente, desatou a chorar descontroladamente. Chorou como uma criança abandonada. O IVA já estava a 25% e ia de certeza subir de novo. E sabia que deles não sairia nada para o subsídio de desemprego agora até arranjar outro trabalho, ou para a reforma: ia, sim, para bónus de gestores públicos na casa dos 30-40 evidentemente inaptos para mais do que ir falar de bola e para almoços da sua Juventude partidária; aquele IVA ia, sim, para as indemnizações compensatórias de empresas públicas que são nados-mortos ou mortos-vivos económicos.

José P. não aguentava mais. Todos lhe exigem tudo o que tem e os seus filhos haveriam de ter, mas ele não pode sequer pedir impressos para não-sei-quê com a mais inocente facilidade.
Atirou-se do seu 5.º andar e caiu sobre a rotunda.
Os vizinhos, em alvoroço, chamaram a ambulância para levar o pobre Sr. P. ao Hospital.
Lá veio a ambulância, passados 20 minutos, que logo arrancou e levou José P., moribundo.

A viatura parou à porta do Hospital. Os enfermeiros coçaram a cabeça quando perceberam o que se passava e tentaram acordar José P.. Explicaram-lhe que pediam muita desculpa, mas que tinha havido um mal-entendido e que o tinham levado para o Hospital do Município, ignorando que as obras da sua construção ainda nem sequer tinham terminado. E ainda por cima, acabavam de reparar que se tinham esquecido de encher o depósito com gasolina.
Agora já era tarde demais. José P. ia mesmo morrer ali. Consta que as suas últimas palavras foram:
«Mas... então isto é assim? Eu a morrer e vocês nem têm o cuidado para ver se o Hospital está a funcionar? Mas não conseguem fazer o vosso trabalho?»
Ao que o enfermeiro respondeu, como qualquer português o teria feito:
«Isso das informações é lá com a central. Não é a minha área. Mas se quiser, dou-lhe o endereço do meu superior hierárquico para enviar uma carta a queixar-se. Só não garanto que algum dia alguém a leia.»





F. B. B.

Samstag, 19. März 2011

Newton


Newton, retratado por William Blake como grande arquitecto do universo

Sonntag, 13. März 2011

"Cruelty has a human heart..."


Cruelty has a human heart,
And Jealousy a human face;
Terror the human form divine,
And secrecy the human dress.

The human dress is forged iron,
The human form a fiery forge,
The human face a furnace seal'd,
The human heart its hungry gorge.


William Blake

Samstag, 5. Februar 2011

Mitologia judaico-cristã e greco-romana.




«O Senhor viu o quanto havia crescido a maldade dos homens na terra e como todos os projectos de seus corações tendiam unicamente para o mal. Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração magoado. E o Senhor disse: "vou extreminar da face da terra o homem que criei e com ele os animais, os répteis e até as aves do céu, pois estou arrependido de tê-los feito". (...) durante 40 dias o dilúvio se abateu durante a terra. As águas cresceram e ergueran a arca, que se elevou acima da terra. As águas tornaram-se violentas e aumentaram muito sobre a terra de modo que a arca começou a flutuar na superfície das águas. As águas cresceram tanto sobre a terra que cobriram as montanhas mais altas que estão debaixo do céu. (...) Pereceram todas as criaturas que se moviam na terra, tanto aves, como animais domésticos, como animais selvagens, enfim todos os seres que fervilham sobre a terra, e todos os homens.» (GEN., 6-7)



«Após a geração de prata [do Homem, que teve na mitologia greco-romana quatro eras, correspondentes ao seu valor e bondade: a geração de ouro inocente, de prata, menos valiosa, e...] seguiu-se a terceira, a de bronze, de índole mais feroz, mais pronta para as horrendas armas, mais ainda não criminosa. Esta última é a do duro ferro. De súbito, todo o acto nefando irrompe nesta idade de metal menos valioso. Fugiram o pudor, a sinceridade, a lealdade, e no lugar destes, sucederam-se-lhes o logro, a traição, e as insídias, e a violência, e a criminosa paixão por possuir. (...) Já nem apenas as searas e os alimentos devidos se exigiam ao rico solo, mas descem pelas entranhas da terra abaixo, desatam a escavar riquezas que aquela ocultara e movera para junto das sombras do Estígio, estímulos para o mal. Já o pernicioso ferro de lá surgira, e o ouro, mais pernicioso que o ferro. E surge a guera, que luta recorrendo a ambos, e, com mão ensanguentada, brande as estrepitosas armas. Vive-se na rapina. O hóspede não está a salvo do hospedeiro, nem o sogro do genro: até a afeição entre irmãos é rara. O homem maquina a morte da esposa, e esta a do marido. As aterradoras madrastas misturam amarelentos venenos. O filho, antes do tempo, inquire sobre a idade do pai (...)
Então Júpiter quebrou de novo o silêncio [na Assembleia dos Deuses] com tais dizeres: (...) "A má reputação desta época chegara-me aos ouvidos. Desejando que fosse falsa, deslizo do píncaro do Olimpo e percorro as terras, deus sob uma aparência humana. Longo seria enumerar quantas malfeitorias eu descobri por toda a parte: a verdade era pior que a má reputação. (...) Julgá-los-ias conjurados para o crime: todos devem sofrer, quanto antes, o castigo que merecem. É a minha sentença." (...) Este convoca os rios. Depois de eles entrarem no palácio do seu rei, diz: "não temos tempo a perder com longas exortações. Derramai as vossas forças, abri as vossas mansões e, removidas todas as represas, lançai à rédea solta as vossas torrentes cá para fora" (...) Os rios transbordam e desabam nas planícies abertas, e arrastam colheitas e árvores, animais e gentes (...) Já o mar e a terra não ofereciam qualquer distinção: tudo não era mais que mar, mar a que faltavam costas (...) Sob as águas, as Nereides vêem pasmadas bosques, cidades, casas; golfinhos ocupam florestas e chocam contra altas ramagens, embatem e abanam os carvalhos. Nada o lobo entre as ovelhas, a onda leva fulvos leões, tigres leva a onda; de nada vale a força das fulminantes presas ao javali, ou velozes pernas ao cervo arrastado. E, após longamente procurar terra onde pudesse pousar, a ave vagueante vai no mar com as asas exaustas. O desatino desmesurado do mar sepultara montanhas, e vagas inéditas embatiam nos píncaros das serranias.»
(Ovídio, Metamorfoses, Livro I, versos 125-312)

Gostava apenas de salientar um pormenor que acho muito interessante. Apesar da semelhança das descrições do castigo da humanidade por um dilúvio, Ovídio escreveu as Metamorfoses antes do ano 8 d.C., pelo que é improvável que alguma vez tenha tido contacto com as crenças hebraicas, então apenas situadas num cantinho do Império quase não romanizado. Quer porque a Palestina se situava muito longe de Roma e da Grécia onde viveu e viajou, quer porque antes do Cristianismo, as religiões monoteístas eram muito reservadas e não tinham pretensões de expansão, pelo que não havia implantação apreciável de uma cultura judaica/judaico-cristã em Roma.

Acho apenas interessante que esta noção de uma era de pecado passado longínqua seguida por uma punição por dilúvio seja comum, aparentemente, a várias culturas e religiões da Antiguidade que não contactaram quase nada entre si.

Samstag, 6. November 2010

Julgamento


Num salão húmido de basalto coberto pela poeira legada pelas gerações das Eras do Mundo que se sucederam, pingava água gelada, algo ressonava, rangiam as dobradiças, e fungava impaciente o Juiz. Subiu ao estrado e sentou-se no cadeirão.
Todos se levantaram - os Autores, a sua defesa e o Réu.
Colocou os óculos, fungou, e leu:

«Após curta, irreflectida e arbitrária apreciação dos diferentes argumentos apresentados exclusivamente pelos Autores, o Tribunal decidiu condenar o Réu, D..., por quem nunca chegou a ter grande simpatia, à morte por esquecimento.»

Fungou e tossiu e fungou de novo. Os Autores e a sua defesa sussurravam palavras de alegria, o Réu aceitou tristemente o seu destino, e o advogado da sua defesa ressonava através da sua bocarra escancarada. Escorriam fetidamente gotas de água pelas estátuas e baixo-relevos negros, outrora lembranças do suspiro enamorado da Criação, hoje quebradiças testemunhas mudas da sua execução sumária, da farsa do seu julgamento.
O Juiz limpou o muco à manga da toga e continuou:

«Tendo o Juiz proibido toda e qualquer argumentação da parte do Réu, dada a sua insolência em permanecer doente, mudo e cego, e não tendo a sua defesa chegado a acordar, o Réu é considerado culpado pelos crimes que agora se passam a enunciar:»

O Velho estremeceu de frio e desespero, as suas pesadas algemas afundavam-se nas suas barbas brancas incomensuráveis que se iam fiando e desfiando em nuvens. Os seus pequenos olhos escuros gritavam mágoa, e a sua mágoa gritava de injustiça. E no entanto, seguiu-se a enumeração das atrocidades por que agora o sentenciavam. O Juiz tossiu e continuou:

«Infanticídio em massa de primogénitos; filicídio premeditado e preparado com particular perfídia; coacção a um pai para que matasse o próprio filho; sucessivos massacres por afogamento diluviano ou por bombardeamentos de enxofre e fogo; omissões que resultaram na morte dos seus seguidores nas mandíbulas de leões; incitamento à homofobia, à misoginia, à xenofobia; tortura em massa pelo sentimento de culpa e pelo terror de um suposto fogo; degradação dos Autores à ignorância e ao preconceito; burla espiritual ao convencer os Autores da existência de uma contraprestação fictícia pela vida de anhos que os coagia a levar; mentiras reiteradas, monumentais, universais e ruinosas com sequelas ainda por determinar no pensamento dos Autores...»

O Velho estremeceu de novo, eles não sabem o que estão a fazer. O Juiz prosseguiu:

«... e porque, e este foi o motivo determinante, qualquer papel do Réu no nosso novo mundo é impensável. Dispensamos quem nos criou a nós. A Nós, os Autores irados e foragidos, e a Nós, o Juiz débil e corrupto e câmara decadente da aplicação da anomia. Por termos sido tão maltratados, pensamos chegada a altura de exercer a injustiça popular e linchar o Pai, nesta mesma Sala. A Nossa era chegou. Seja Ele esquecido.»

E o Velho, doente, curvo, frágil, mirrado e espancado, teria chorado mais se pudesse ter visto o que lhe aconteceu. Mas era cego. E teria soluçado e dito últimas palavras, de conforto ou de despedida. Mas era mudo.
Esvaneceu-se. E as nuvens dissolveram-se, como se nunca tivessem existido.





Rafael Silveira Neves

Dienstag, 12. Oktober 2010

Bem vindos a....



... Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoch!

..... A povoação na Europa com o nome mais comprido!Adicionar imagem

Donnerstag, 23. September 2010

Verdade Universal e Insana n.º 4


Verdade Universal e Insana n.º 4:

«Os cães são como lobos sem pinta»

Pensem em lobos maus. Por piores que sejam, terão de admitir isto: São maus em conjunto, vivem em estruturas organizadas, cultivam valores de força e protecção da comunidade. Correm e caçam livres, são corajosos, e a sua crueldade valeu-lhes a sua elevação a pequenos deuses da noite e da guerra.

Pensem agora em cães patetas. Poderá alguma criatura ser mais patética que um cão? vemos neles lealdade, mas na verdade são apenas servis; chocam contra coisas; e agitam alegremente a cauda como se fosse o estandarte da sua estupidez. São ciumentos. Ladram de medo quando se deparam com coisas que lhes são desconhecidas. Em suma, as piores características dos cães são as piores características do Homem. Não admira que sejam melhores amigos.
Somos todos patetas. Mas estranhamente encantadores.

Donnerstag, 16. September 2010

Jerusalem


And did those feet in ancient time.
Walk upon Englands mountains green:
And was the holy Lamb of God,
On Englands pleasant pastures seen!

And did the Countenance Divine,
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold;
Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds unfold!
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight,
Nor shall my Sword sleep in my hand:
Till we have built Jerusalem,
In Englands green & pleasant Land.

William Blake

Dienstag, 31. August 2010

O Regresso


Vi-te nascer com um nome que não era o teu.
Vi-te florescer e perecer no pó e a definhar numa qualquer letra incógnita, num livro escondido na biblioteca dos teus pais.
E sempre ressuscitaste. Nem sabia como. Renascias, com o mesmo nome, que não era o teu, num verso arrancado à tua existência - segregado pela tua alma envelhecida com as dores de um parto muito tardio.

Onde estás tu agora? Mostra-te; respira; respira-te! Vive de novo, porque te cheguei a compreender como ninguém e as horas que conto para o teu renascimento são horas que contam os loucos para o meu fim.

Ingrato! Volta para mim, cobarde! Por vezes oiço-te os vítreos passos apressados, escapando de mim nas sombras pensantes; vejo os teus fugitivos contornos ígneos na loucura alheia e na alegria efervescente de quem amo; cheiro a tua presença breve e frágil, ó cisne de cristal no rebentar da onda, ó gaivota de papel no rugido da tempestade!

Cavaleiro errante! Poeta prematuro! Renasce!
Dança na ponta dos meus dedos, profeta mudo de palavras vazias!
Falso Moisés de mares de tinta! Regressa a mim!
Filho bastardo do sonho e da insónia! Onde estás?

- «Assina, Mestre, e a ti volto - como o filho pródigo ao pai regressa.»

Rafael Silveira Neves

Sonntag, 11. Juli 2010

Do direito e do Mundial

«As empresas a quem não dá jeito nenhum que a Espanha ganhe

A febre chamada Mundial levou determinadas empresas a lançarem campanhas condicionadas pela prestação da selecção espanhola na África do Sul. Agora, o aumento das probabilidades de a Espanha se sagrar campeã mundial está a gerar uma onda de preocupação. Empresas como a Media Markt e a Toshiba bem podem desejar que Espanha perca amanhã frente à Holanda. Caso contrário, serão obrigadas a reembolsar os seus clientes devido às suas campanhas de marketing agressivas.

A associação de consumidores espanhola Facua já alertou os clientes para que façam as suas reclamações caso as empresas não cumpram com o prometido.

A Media Markt é apenas uma das empresas que pode sair prejudicada. No entanto, a empresa tem chamado a atenção para todas as letras da campanha, que dizia que a empresa só devolveria o dinheiro aos seus clientes se Espanha ganhasse todos os jogos. É das poucas que pode festejar a vitória sem preocupações: a ressalva "ganhar todos os jogos" permitiu-lhe respirar de alívio logo no primeiro jogo da "Roja" contra a Suíça. Alguns consumidores ainda reclamaram, mas a Facua esclareceu: na campanha da Media Markt não houve publicidade enganosa nem "abuso de letra pequena": o texto do slogan era "muito claro".

Outras empresas não foram tão cautelosas como a Media Markt. A Panda Security, que comercializa antivírus, ofereceria aos seus clientes o mesmo número de licenças do produto que tivessem comprado em qualquer loja durante os meses de Abril, Maio e Junho. A Tom Tom, fabricante de GPS, lançou uma campanha com um apelativo "Se a Espanha ganhar, devolveremos o seu dinheiro": incluía o reembolso de quatro modelos mediante uma vitória espanhola. A PC City prometeu oferecer 10 euros por cada golo de Espanha no Mundial (excepto os que resultassem de penalti) a quem comprasse uma televisão de pelo menos 32 polegadas com tecnologia Led. A Toshiba prometeu reembolsar os compradores de televisões e de portáteis de gama média e alta adquiridos entre 10 de Abril e 10 de Junho. Com essa campanha contava vender 20 mil unidades, o dobro do habitual. Se Espanha ganhar, pode ficar a perder. A cadeia de hipermercados Carrefour não ficará melhor: Espanha ganha e a cadeia perde, nada mais, nada menos, do que um milhão de euros.»

por Sívia Caneco
in i

Sonntag, 27. Juni 2010

O Polvo. O outro!


É por estas e por outras que eu adoro os alemães!

Donnerstag, 10. Juni 2010

Revisão constitucional


Proposta de alteração ao n.º 1 do artigo 33.º da Constituição da República Portuguesa:


Artigo 33.º
(Expulsão, extradição e direito de asilo)

1. Não é admitida a expulsão de cidadãos portugueses do território nacional, com excepção dos cidadãos mencionados nas alíneas seguintes:

a) S.A.R. o Duque de Bragança, Senhor Dom Duarte;
b) S.A.R. a Duquesa de Bragança, Senhora Dona Isabel;
c) S.A.R. o Príncipe da Beira, Dom Afonso Santa Maria de Bragança;
d) S.A. a Infanta Dona Maria Francisca de Bragança;
e) S.A. o Infante Dom Dinis Santa Maria de Bragança;
f) S.A. o Infante Dom Miguel de Bragança, Duque de Viseu;
g) S.A. o Infante Dom Henrique de Bragança, Duque de Coimbra.


(publicado originalmente no Moção de Censura)

A Stoa


Caras Amigas e Amigos,

Esta noite, algo de extraordinário aconteceu.

Estava eu, à meia noite agreste, lendo lento e triste tomos vagos e curiosos de ciências ancestrais, e já quase adormecia, quando ouvi o que parecia alguém a bater-me à janela. Apenas o vento, e nada mais, pensei.

Mas o vento insistia demais para ser apenas vento. Portanto abri a janela e procurei o que fosse.

Era um Mocho - e não um corvo!... - com o elmo e a lança de Atena, que fixava em mim os seus enormes olhos, como dois poços escurecidos pela sabedoria acumulada de três mil anos.

"vem comigo" disse o Mocho. E assim foi.

Julgando-me a mim mesmo louco, por abandonar os meus vagos tomos tristes, que me consomem nas horas vagas em que não sou eu que os consumo, para sair de casa a meio da noite para perseguir um Mocho, sob uma chuva surpreendentemente fria para Junho.

Louco, seguramente.

E o Mocho levou-me para longe. Para os campos. Para um lugar ermo, sem árvores, no topo de uma colina escarpada, coroada por inexplicáveis blocos de mármore quebrados, envelhecidos, mastigados pelo Tempo e meio enterrados no solo.

Aí, iluminado pela lua silenciosa, o Mocho falou de novo.

"Água ou oliveira?"

E eu não soube que responder.

"Água ou oliveira?" insistiu o Mocho, indiferente à minha perplexidade.

O frio e a perseguição de um Mocho falante, com elmo e lança, em época de exames, pelos campos fora, a meio da noite - que excelente desculpa para procrastinação! - já me parecia uma situação tão absurda que achei que a única coisa que poderia fazer sentido era que eu desse uma resposta fundamentada.

"água todos têm." - respondi - "mas a oliveira dá fruto, alimento, e riqueza".

E o Mocho deu a sua sentença, solene e orgulhoso: "És digno". E depois voou para longe e desapareceu na noite.

De repente, a terra à minha frente começou a borbulhar. Uma oliveira nascia e crescia e envelhecia à frente dos meus olhos, apenas em alguns segundos, ganhando proporções que apenas atingiria passados milénios.
E quando terminou de crescer, notei que um dos seus ramos formava um braço com uma mão indicando algo.
O seu dedo apontava para uma lápide.

Desenterrei-a, com esforço, e limpei-a da terra e do pó que a cobriam, e tentei ler a sua inscrição com a luz da lua:

ἀναμνημονεύω

E eu soube imediatamente o que fazer. Erguer a nossa Stoa.

Montag, 31. Mai 2010

Eleições em Reykjavik

Meus caros, os tempos estão mesmo difíceis.

Em épocas de profunda crise política, assiste-se sempre à ascensão de grandes partidos... O Partido Comunista da União Soviética... O Partido Nacional-socialista... A União Nacional... de um modo mais democrático, os Lib-Dem's no Reino Unido...

E agora, o chamado "Besti Flokkurinn" - "o melhor partido" - da Islândia, que ganhou este fim-de-semana as eleições em Reykjavik! As cinzas do vulcão não parecem estar a fazer muito bem a esta gente...

por favor, vejam este link!

http://www.telegraph.co.uk/news/newsvideo/7768742/Besti-Flokkurinn-Simply-the-Best-video.html

Sonntag, 23. Mai 2010

Por linhas tortas.



«Para a tua dor, pecador, escancaro as portas;
As sulfúreas mandíbulas do Inferno.
Vai! sofre o pecado no fogo eterno!»
- Assim escreveu Deus por linhas tortas.

Rafael Silveira Neves

Sonntag, 25. April 2010

Preservativos ao Papa

Estes meus colegas do Porto gozam da minha total admiração e apoio por uma causa nobre : www.preservativospapa.blogspot.com


É muito triste que a Igreja trate desta questão com tanto pudorzinho e de forma tão enganadora, colocando em risco milhões de vida de fiéis em todo o mundo. Faz lembrar, de certo modo, aquilo que disse um célebre jornalista português há alguns tempos sobre a indústria do Tabaco: «é uma empresa que desenvolve um negócio antieconómico e absurdo que mata os seus melhores clientes». A Igreja está a chacinar seus crentes mais fervorosos, por beatismo. É o mesmo género de pensamento anacrónico e anti-científico que queimou gente que falava em átomos e em heliocentrismo. Não faz mal. Já pediram desculpa pela inquisição. Daqui a um século, estarão a pedir desculpa pela sua grosseira, boçal e tacanha ignorância que tanta gente tem vindo a massacrar no Terceiro Mundo.

Mas de pedidos de desculpa está a humanidade farta.

Gostava de ver se era possível ter estatísticas para saber quantos fetos foram abortados nos últimos 50 anos; e quantas pessoas morreram de HIV-SIDA no Terceiro Mundo por sombrios e inexplicáveis ditames do Vaticano. E aí era giro saber se a Igreja é mesmo guardiã da mensagem antropocêntrica e bondosa de Cristo (ex.: respeito pela vida humana, sei lá!...), ou se tem apenas vindo a desempenhar, nos últimos 1500 anos, o papel de Talho da sua própria Cristandade; e de carrasco do conhecimento, do progresso humano e da vida.

Dienstag, 20. April 2010

Unidade, Justiça e Liberdade para a Europa.

Es ist das erste Mal seit Jahren, dass ich einen ganzen Text auf Deutsch schreibe. Vielleicht hat mich die Überzeugung gehindert, dass ich es nicht mehr kann. Welches, natürlich, mir grosses Leiden bringt.
Heute aber werde ich meine zweite Sprache verwenden. Und es ist mir egal, ob ich Fehler mache oder nicht. Es ist MEINE Sprache. Die Sprache, mit der ich aufgewachsen - eher erwachsen geworden - bin.

Ich habe entschieden, über meine zweisprachige und bikulturelle Jugend und Kindheit zu sprechen, weil ich in den letzten Zeiten besonders stark eine Nostalgie, eine Schwermut, eine «Saudade» fühle, und mich selbst öfters frage, ob es ein Traum war oder nicht.

Konnten wirklich Menschen zusammengehören, indem sie zusammenwuchsen? Konnten wir unsere Unterschiede gegenseitig verzeihen, und miteinander lernen und uns menschlich bereichern?

Ich bin mir bewusst, dass die Fragen unverständlich scheinen können. Nur jemand, der selbst erlebt hat, wie zwei Nationen ihre Freundschaft besichern können, indem sie ihre Kinder zusammenwachsen lassen.

Kein Mensch versteht, wieso meine Jugend an meiner Schule soviel für mich bedeutet. Vielleicht - und wahrscheinlich - wissen sie nicht, dass eine einfache Schule zu einem kleinen «Kosmopolis» und zu einer Lerngemeinschaft werden kann. Zu einem Erdpol von internationalem Frieden durch Erziehung und Lachen.

Vielleicht deswegen waren wir fähig, die Idee von einer europäischen Union besser zu verstehen. Weil wir verstanden UND GEPRÜFT haben, dass verschiedene Völker doch gemeinsame Werte und Glauben und Interessen haben; und dass jeder, in seiner Seele, ein Weltbürger oder eher Europabürger sein kann, ohne seine Wurzeln zu verneinen und verlassen.

Es waren wir, lissaboner Portugiesen, die unseren deutschen Lerngemeinschaftskammeraden beigebracht haben, auf Deutschland, auf ihre Kultur und Geschichte stolz zu sein. Weil sie, wie wir, Gründe dafür haben. Und sie haben auch die Schönheit unseres Landes und der Geschichte unseres Volkes geliebt. Und freuten sich, dass wir sie ihnen mitgeteilt haben. Sowie wir uns gefreut haben, ihre Kultur zu lieben und zu verstehen.

So lasen wir Lessing und Goethe; und haben sie Fado "sehnsüchtig" zugehört und unsere Dichter gelesen.
So sangen wir «Einigkeit und Recht und Freiheit», am Anfang lauter als sie, und sie haben damit gelernt, dass es ein schönes und bedeutsames Lied ist, und dass wir sie nicht für ihre Vergangenheit beschuldigen, so sollen sie auch nicht - und so haben sie gelernt, ihr eigenes «Einigkeit und Recht und Freiheit» so laut und gerührt wie wir zu singen, weil sie (Welt-)Europabürger eines neuen Deutschlands sind - das tatsächlich und unfragbar ein Vorbild von Recht und Freiheit für alle Länder ist.

So haben sie gelernt, dass Portugal (laut die 2., allgemein unbekannte Strophe unserer Nationalhymne) "deu novos mundos ao mundo", der Welt neue Welter gab oder zeigte, und unsere Seefahrer geschafft haben, dass der See die Welt nicht mehr trennte, sondern verband (F. Pessoa); und wir haben gelernt, wie ein Land, der den unmenschlichsten Totalitarismus und Rassismus und imperialistischen Faszismus erlebt hat, sich innerhalb einer Generation neuerfunden hat - welches WIR nicht erreicht haben.

Wir haben miteinander beidseitig gelernt und uns gegenseitig gelehrt. Unsere Unterschiede haben uns damit nicht getrennt...sondern verbunden. Wir haben auf einer anderen Seite verstanden, dass unsere Gemeinsamkeiten grösser sind, als wir denken.
Wir waren, in einem Wort: Der Beweis. Dass Europa eines Tages zu dem Zustand kommen wird, in dem wir unsere Gemeinsamkeiten UND Unterschiede als gemeinsames Eigentum betrachten werden. Und dass wir doch «Brüderlich in Herz und Hand» leben können. Wie wir, eure Kinder, damals.

Terminologias germânicas no Rossio


Direito, mulheres, cogumelos, imperiais, conspirações, abominações, hambúrgueres, Alemão, música ambiente, batatas fritas, federalismo europeu, esmolas, Francês, etc... A pior profissão do mundo : um cagalhão vale 25 cêntimos ; para quem não é cliente.

Samstag, 17. April 2010

Verdade Universal e Insana n.º 2

Verdade Universal e Insana n.º 2:

«Entre o Peixe-Espada e o Peixe-Parede, ou nadas ou afogas-te

É verdade. Qualquer um que esteja tramado de qualquer modo terá sempre de estrebuchar como um peixe fora da água da normalidade circunstancial. Terá sempre de fingir que sabe nadar enquanto se afunda rogando pragas, degradado, mas sempre revestido num manto imperial de artificial dignidade. Afoga-se se não conseguir encontrar uma forma inteligente de esquivar-se aos peixinhos.

Ou aprende a nadar e manda o Peixe-Espada e o Peixe-Parede irem dar banho ao Peixe-Cão.

Ou se torna num tubarão e come o Peixe-Espada e o Peixe-Parede.

Ou então transforma-se num Peixe-Buldozer e dá cabo do Peixe-Parede.

Ou então transforma-se num Peixe-Rato e esburaca o Peixe-Parede, formando depois uma aliança com o Peixe-Cão contra o Peixe-Gato, vil e tirânico usurpador dos mares e assassino de massas do povo dos peixinhos.(sei que referir este traidor é uma massada, mas a menção do nome do ignóbil Peixe-Gato e do Ictiofagio-canibalismo que vivemos serve-me para demonstrar que, num mundo em que o peixe come o peixe, que come o peixe, que come o outro peixinho que comeu o peixao, é verdade - o Homem é o Peixe do Homem.)

Ou então pede ao Peixe-Balão para lhe dar uma ajuda e uma boleia para longe, depois festejando com ele a noite do Peixe-São-João, mesmo não sendo crente.

Ou então transforma-se num Peixe-Escudo para ensinar ao Peixe-Espada quem manda.

Ou então pede ao Peixe-Aranha para lhe fazer uma rede e apanhar o Peixe-Espada e o Peixe-Parede e os comer ao jantar, grelhadinhos com um bom vinho branco.

Ou então transforma-se num Peixe-Porco e (peço desculpa) caga-se para o Peixe-Espada e o Peixe-Parede.

Ou então afoga-se.

As possibilidades são muitas. E raramente se verifica uma total ausência e soluções para escaparmos a situações aparentemente inescapáveis.