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Montag, 29. August 2011

Tempos de Crise: Pessoa Revisitado

Prece

"Senhor, a noite veio e a alma é vil.

Tanta foi a tormenta e a vontade!

Restam-nos hoje, no silêncio hostil,

O mar universal e a saudade.


Mas a chama, que a vida em nós criou,

Se ainda há vida ainda não é finda.

O frio morto em cinzas a ocultou:

A mão do vento pode ergue-la ainda.


Dá o sopro, a aragem, – ou desgraça ou ânsia -

Com que a chama do esforço se remoça,

E outra vez conquistemos a Distância -

Do mar ou outra, mas que seja nossa!"


Freitag, 29. April 2011

O Hospital


José P. saiu tarde do emprego, numa noite como esta.
À porta da empresa, tropeçou num grupo de mendigos cadavéricos deitados. Através dos seus olhos transparentes via-se a putrefacção de sonhos ingénuos acumulados ao longo de vidas que se arruinaram num abrir e fechar de olhos. Pediram-lhe dinheiro, por favor, algo para comer, por bondade; mas José P. não tinha nada.
Desceu as escadas imundas e entrou na estação inundada de massas disformes de mártires anónimos. Nas caras empalidecidas via-lhes o desespero; o seu silêncio plúmbeo tresandava a medo do futuro.
Foi aí que lhe ocorreu pela primeira vez que os túneis do metro, nos dias que correm, não são senão os esgotos ocultos das sociedades decadentes. Todo o pus segregado pela injustiça flui nos canais ininterruptamente: os incontáveis cansados, explorados, desempregados, cegos, imigrantes, estudantes esquecidos sonhando com a emigração, pequenos e médios empresários falidos, estagiários sem nome nem futuro, idosas solitárias que se alimentam de pouco mais que a amargura da velhice miserável, advogados agrilhoados em torres de intermináveis processos de insolvência.
Saiu e apanhou o autocarro para a sua cidade-dormitório, o império da insónia dos desempregados e dos pequenos comerciantes - que contam em angústia os segundos que faltam para perderem o subsídio ou para dívidas invencíveis vencerem. No caminho, pensou que como a noite estava escura e o Município tem dinheiro para criar para primos e camaradas de partido empresas que nascem deficitárias e inúteis, mas não para assegurar uma iluminação suficiente nas ruas, talvez ainda fosse assaltado e devia era andar depressa para chegar a casa.
Mas depois lembrou-se que não tinha dinheiro. Nem mesmo anel de noivado, que tinha entregue com grande relutância a um daqueles homens muito honestos que se vê por aí cada vez mais, daqueles que compram o ouro a pessoas quase falidas ao preço da chuva.
José P. lembrou-se que não tinha nada na vida, nunca teve, e nunca teria; e viu que lhe era completamente indiferente se era assaltado ou não. Mesmo que fosse, não tinha vontade de voltar a ir à esquadra e rogar insistentemente a mais um chui gordo, imbecil e imprestável o favor de lhe dar os tais impressos para não-sei-quê para os preencher antes que fossem definitivamente perdidos nos abismos da Administração Pública e da Justiça portuguesas sem que ninguém se voltasse a chatear com o assalto: nem o chui indiferente e inerte, nem o ladrão que dorme descansado na segurança da sua impunidade certa, nem os funcionários públicos bafientos ausentes na sua permanente indignação por os seus privilégios deixarem de ser tabu, nem o juiz frustrado com a desorganização patológica do sistema judicial que suspira de desgosto quando tem a certeza absoluta que acabou de ouvir ratazanas a fornicar dentro de um dos muitos buracos encharcados nas paredes da sala de audiências.
Das janelas do autocarro ainda passou pela parte rica da cidade, por breves momentos. E José P. conseguiu ver altos muros armados com alarmes protegendo vivendas de intocáveis de fato e gravata, intocáveis que se alimentam de jantares de negócios, que levam os filhos para o colégio de BMW e Jipe até à idade em que estes já podem conduzir o seu próprio BMW e Jipe para a Universidade privada. Também eles vivem com medo de serem roubados, mas não do desemprego ou da pobreza: afinal, conhecem um gajo, pá, que conhece outro gajo, pá.
Chegou à casa vazia e abriu a caixa do correio.
Viu que tinha chegado mais uma remessa de cartas do banco, de velhos amigos que tinham emprestado algum dinheiro em alturas difíceis e agora pediam amavelmente o dinheiro de volta, visto estarem eles próprios a apertar tanto o cinto que em breve estariam cortados em dois. Havia também inúmeras cartas das telecomunicações, da água e do gás e da electricidade, que exigiam mais e mais e mais ainda; afinal, podiam fazê-lo impunemente, como monopolistas ou oligopolistas, longe de um mercado livre guardado por Autoridades da Concorrência activas.
José Pedro suspirou, sentiu uma dor de cabeça profunda.
Como ia pagar aquilo tudo? Era impossível, agora que tinha voltado pela última vez a casa vindo da empresa. Lembraram-lhe que aquilo que ele tinha não era bem um contrato e que podiam fazer com ele o que quisesse.

De repente, a dor ficou ainda pior. Lembrou-se que para a semana tinha de pagar os impostos. Talvez se o banco lhe pudesse emprestar dinheiro? Mas agora já não emprestam dinheiro a ninguém para nada, ao passo que antigamente emprestavam a todos para tudo. Tirou a mão do bolso e saiu o talão do supermercado. Pegou nele antes de o pôr no lixo e, subitamente, desatou a chorar descontroladamente. Chorou como uma criança abandonada. O IVA já estava a 25% e ia de certeza subir de novo. E sabia que deles não sairia nada para o subsídio de desemprego agora até arranjar outro trabalho, ou para a reforma: ia, sim, para bónus de gestores públicos na casa dos 30-40 evidentemente inaptos para mais do que ir falar de bola e para almoços da sua Juventude partidária; aquele IVA ia, sim, para as indemnizações compensatórias de empresas públicas que são nados-mortos ou mortos-vivos económicos.

José P. não aguentava mais. Todos lhe exigem tudo o que tem e os seus filhos haveriam de ter, mas ele não pode sequer pedir impressos para não-sei-quê com a mais inocente facilidade.
Atirou-se do seu 5.º andar e caiu sobre a rotunda.
Os vizinhos, em alvoroço, chamaram a ambulância para levar o pobre Sr. P. ao Hospital.
Lá veio a ambulância, passados 20 minutos, que logo arrancou e levou José P., moribundo.

A viatura parou à porta do Hospital. Os enfermeiros coçaram a cabeça quando perceberam o que se passava e tentaram acordar José P.. Explicaram-lhe que pediam muita desculpa, mas que tinha havido um mal-entendido e que o tinham levado para o Hospital do Município, ignorando que as obras da sua construção ainda nem sequer tinham terminado. E ainda por cima, acabavam de reparar que se tinham esquecido de encher o depósito com gasolina.
Agora já era tarde demais. José P. ia mesmo morrer ali. Consta que as suas últimas palavras foram:
«Mas... então isto é assim? Eu a morrer e vocês nem têm o cuidado para ver se o Hospital está a funcionar? Mas não conseguem fazer o vosso trabalho?»
Ao que o enfermeiro respondeu, como qualquer português o teria feito:
«Isso das informações é lá com a central. Não é a minha área. Mas se quiser, dou-lhe o endereço do meu superior hierárquico para enviar uma carta a queixar-se. Só não garanto que algum dia alguém a leia.»





F. B. B.

Dienstag, 1. März 2011

Does it ring the bell?



«D. Carlos (...) chamou então à chefia do governo José Dias Ferreira, "o Zarolho". (...) era um jurista famoso, lente de Coimbra e advogado de sucesso. Homem rico, graças também ao foro, foi um importante franco-maçon. Diziam-no jacobino, identificando-o com o setembrismo de esquerda. Na verdade, fora Oliveira Martins quem o empurrara para o lugar, pondo como condição, perante o Rei, a nomeação de Dias Ferreira para a chefia do Gabinete, para a sua aceitação do ministério das Finanças. O Autor de Portugal Contemporâneo apresentou um drástico programa de reformas para salvar a situação financeira: redução dos vencimentos dos funcionários públicos, aumento das contribuições industrial, predial, pessoal e sumptuária e agravamento da taxa dos rendimentos e juros de acções e obrigações. (...) Mas a situação não melhorou. Os titulares estrangeiros da dívida portuguesa pediram garantias de controlo directo de algumas receitas. Homem de carácter e inteligência superiores, Oliveira Martins enredava-se mal na política prática e dava-se pior com a intriga e a manobra, sempre necessárias nestes cargos. E não resistiu quando "o Zarolho" o curto-circuitou em matérias da sua competência. Em 28 de Maio de 1892, saiu, não muito feliz com a experiência: "emergi da cloaca ministerial" - confidenciou numa carta.»

in Jaime Nogueira Pinto, Nobre Povo, os anos da República.

Samstag, 19. Februar 2011

Do Mito e da História


Meus amigos,

ultimamente tenho reflectido sobre algo que uma vez ouvi sobre a origem do nome do nosso país, "Portugal" e sobre um mito em torno do selo real usado por D. Afonso Henriques. Foi aposto em documentos tão importantes como o da doação de Tomar à Ordem dos Templários.

De acordo com a teoria mais pacífica, o nome "Portugal" deriva da conjunção dos nomes antigos do Porto e de Gaia (Portus e Cale).

De acordo com uma curiosa teoria (que roça as teorias da conspiração dan-brown-escas), a escolha do nome para o reino estará ligada ao rumor medieval difundido na Península Ibérica da Reconquista de que o Santo Graal teria sido trazido para o seu Sul, para a região que então era conhecida por Al-Andalus, e lá estaria escondido.

Reparem bem no selo. "Rei Afonso"; "Com seus filhos"; e no centro, dependendo da ordem com que se ler as letras, o resultado tanto pode ser "Portugal" como "POR TU GRAL". O pequeno olho no centro tanto pode ser um "o" como apenas decorativo. Neste segundo caso, o "R" maiúsculo que surge em baixo parece estar um pouco fora do sítio.
Dada a devoção conhecida de D. Afonso I, o selo chegou a levantar dúvidas (e para alguns teóricos da conspiração, ainda levanta) sobre se o Reino se baseava nas cidades de Porto e Gaia (que, curiosamente, tinham pouca importância em comparação com, por exemplo, Coimbra, Guimarães e Lamego...) ou se o Reino se basearia na busca da Cristandade pelo paradeiro do Santo Graal.

Da minha parte, penso que é uma lenda bonita. Também temos direito a preservar este tipo de mitos improváveis e loucos; não acreditaram os Ingleses loucamente que Jesus teria visitado a sua terra, tanto que Blake dedicou a esse acontecimento um poema, "Jerusalem", que ainda hoje é considerado como o hino não oficial de Inglaterra? Não acreditaram os franceses que Joana D'Arc teria mesmo tido contacto com Arcanjo Miguel?

São loucuras destas que fazem de nós um povo; tradições e mistérios que fazem de nós uma cultura antiga; lendas que de nós fazem uma nação.

Dienstag, 15. Februar 2011

O porvir de Portugal

Caro Ars Vitae,
Não podia deixar de partilhar conTigo este desabafo do Sr. Prof. Mendo Henriques:

Os cenários de transição na democracia portuguesa são:

Cenário 1. Continuidade da 3ª República , "o como está" com as reformas possíveis "gota a gota" permitidas pelos acordos entre partidos

Cenário 2. Uma 4ª República com um poder reforçado que é o do Presidente Executivo, o que exige dois partidos ou uma aliança presidencial, à norte americana, ou à francesa e nova triagem da luta partidária

Cenário 3. Uma 5ª Dinastia com um árbitro que é o rei, Dom Duarte de Bragança, com uma redistribuição de funções pelos três poderes e consequente selecção de minorias
para governação e para representação de interesses.

Cumprimentos saudosos,
de alguém que se preocupa com o estado da Nação e sente que há algo nela que requer mudança,
Hélder