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Mittwoch, 3. August 2011

Agosto!

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.

Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.

Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.

Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!

Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!

Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?

Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?

Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!

Quantos seios ficaram por amar?

Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!

Seios decrépitos e no entanto belos
Como o que já viveu e fez viver!

Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...

Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.

Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...

Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!

Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...

O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"

Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!

Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.

Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!

Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!

"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"

Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, p'la igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.

Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...

Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...

Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...

Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!

Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser

---

Alexandre O'Neill

Mittwoch, 25. Mai 2011

«Eu cá sou de opinião que não cabe aos juízes, ao tempo civil e ao templo civil, à República, encorajar a poesia (...) Só cabe ao Deus que morreu.»

Herberto Hélder

Samstag, 26. März 2011

Ode à Alegria


Freude, schöner Götterfunken,
Tochter aus Elysium,
Wir betreten feuertrunken,
Himmlische, dein Heiligthum!
Deine Zauber binden wieder
Was der Mode Schwert geteilt;
Alle Menschen werden Brüder,
Wo dein sanfter Flügel weilt.

Friedrich Schiller



Alegria, mais belo fulgor divino,
Filha de Elíseo,
Ébrios de fogo entramos

Em teu santuário, celeste!

Teus encantos unem novamente

O que a espada sempre separou.

Todos os homens se irmanam

Onde pairarem as tuas asas suaves.


Dienstag, 22. März 2011

Ciência, Ciência, Ciência

A CIÊNCIA, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!

Aquela mulher que trabalha
Como uma santa em sacrifício,
Com tanto esforço dado a ralha!
Contra o pensar, que é o meu vício!

A ciência! Como é pobre e nada!
Rico é o que alma dá e tem.


F. Pessoa

Sonntag, 13. März 2011

"Cruelty has a human heart..."


Cruelty has a human heart,
And Jealousy a human face;
Terror the human form divine,
And secrecy the human dress.

The human dress is forged iron,
The human form a fiery forge,
The human face a furnace seal'd,
The human heart its hungry gorge.


William Blake

Montag, 21. Februar 2011

A Caverna


Todas as coisas são uma ilusão,
Pálidas e pétreas sombras de verdade,
Reflexos que dançam grotescamente
Pelas grutas vãs da nossa ignorância;
Pelas profundezas da ingenuidade.

Todas as coisas têm fugazes sombras:
Gémeas falsas - e idênticas, porém;
Cópias iguais - e por isso imperfeitas:
Pois tudo no mundo é sombra e tem sombra;
Cópia de engano é engano também.

FBB

Samstag, 5. Februar 2011

Mitologia judaico-cristã e greco-romana.




«O Senhor viu o quanto havia crescido a maldade dos homens na terra e como todos os projectos de seus corações tendiam unicamente para o mal. Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem na terra e ficou com o coração magoado. E o Senhor disse: "vou extreminar da face da terra o homem que criei e com ele os animais, os répteis e até as aves do céu, pois estou arrependido de tê-los feito". (...) durante 40 dias o dilúvio se abateu durante a terra. As águas cresceram e ergueran a arca, que se elevou acima da terra. As águas tornaram-se violentas e aumentaram muito sobre a terra de modo que a arca começou a flutuar na superfície das águas. As águas cresceram tanto sobre a terra que cobriram as montanhas mais altas que estão debaixo do céu. (...) Pereceram todas as criaturas que se moviam na terra, tanto aves, como animais domésticos, como animais selvagens, enfim todos os seres que fervilham sobre a terra, e todos os homens.» (GEN., 6-7)



«Após a geração de prata [do Homem, que teve na mitologia greco-romana quatro eras, correspondentes ao seu valor e bondade: a geração de ouro inocente, de prata, menos valiosa, e...] seguiu-se a terceira, a de bronze, de índole mais feroz, mais pronta para as horrendas armas, mais ainda não criminosa. Esta última é a do duro ferro. De súbito, todo o acto nefando irrompe nesta idade de metal menos valioso. Fugiram o pudor, a sinceridade, a lealdade, e no lugar destes, sucederam-se-lhes o logro, a traição, e as insídias, e a violência, e a criminosa paixão por possuir. (...) Já nem apenas as searas e os alimentos devidos se exigiam ao rico solo, mas descem pelas entranhas da terra abaixo, desatam a escavar riquezas que aquela ocultara e movera para junto das sombras do Estígio, estímulos para o mal. Já o pernicioso ferro de lá surgira, e o ouro, mais pernicioso que o ferro. E surge a guera, que luta recorrendo a ambos, e, com mão ensanguentada, brande as estrepitosas armas. Vive-se na rapina. O hóspede não está a salvo do hospedeiro, nem o sogro do genro: até a afeição entre irmãos é rara. O homem maquina a morte da esposa, e esta a do marido. As aterradoras madrastas misturam amarelentos venenos. O filho, antes do tempo, inquire sobre a idade do pai (...)
Então Júpiter quebrou de novo o silêncio [na Assembleia dos Deuses] com tais dizeres: (...) "A má reputação desta época chegara-me aos ouvidos. Desejando que fosse falsa, deslizo do píncaro do Olimpo e percorro as terras, deus sob uma aparência humana. Longo seria enumerar quantas malfeitorias eu descobri por toda a parte: a verdade era pior que a má reputação. (...) Julgá-los-ias conjurados para o crime: todos devem sofrer, quanto antes, o castigo que merecem. É a minha sentença." (...) Este convoca os rios. Depois de eles entrarem no palácio do seu rei, diz: "não temos tempo a perder com longas exortações. Derramai as vossas forças, abri as vossas mansões e, removidas todas as represas, lançai à rédea solta as vossas torrentes cá para fora" (...) Os rios transbordam e desabam nas planícies abertas, e arrastam colheitas e árvores, animais e gentes (...) Já o mar e a terra não ofereciam qualquer distinção: tudo não era mais que mar, mar a que faltavam costas (...) Sob as águas, as Nereides vêem pasmadas bosques, cidades, casas; golfinhos ocupam florestas e chocam contra altas ramagens, embatem e abanam os carvalhos. Nada o lobo entre as ovelhas, a onda leva fulvos leões, tigres leva a onda; de nada vale a força das fulminantes presas ao javali, ou velozes pernas ao cervo arrastado. E, após longamente procurar terra onde pudesse pousar, a ave vagueante vai no mar com as asas exaustas. O desatino desmesurado do mar sepultara montanhas, e vagas inéditas embatiam nos píncaros das serranias.»
(Ovídio, Metamorfoses, Livro I, versos 125-312)

Gostava apenas de salientar um pormenor que acho muito interessante. Apesar da semelhança das descrições do castigo da humanidade por um dilúvio, Ovídio escreveu as Metamorfoses antes do ano 8 d.C., pelo que é improvável que alguma vez tenha tido contacto com as crenças hebraicas, então apenas situadas num cantinho do Império quase não romanizado. Quer porque a Palestina se situava muito longe de Roma e da Grécia onde viveu e viajou, quer porque antes do Cristianismo, as religiões monoteístas eram muito reservadas e não tinham pretensões de expansão, pelo que não havia implantação apreciável de uma cultura judaica/judaico-cristã em Roma.

Acho apenas interessante que esta noção de uma era de pecado passado longínqua seguida por uma punição por dilúvio seja comum, aparentemente, a várias culturas e religiões da Antiguidade que não contactaram quase nada entre si.

Sonntag, 14. November 2010

A Vinda



A VINDA

(Dedicado a MPA).


Num tempo longínquo e distante,
Em que ainda era novo o Mundo,
Dormia num sono profundo
E sob estrelas de diamante
Uma nobre princesa errante.

Os seus caracóis eram escuros,
E escura era a sua montada.
Vivia a cavalo, exilada,
Longe dos homens vis e duros,
Da Babilónia e dos seus muros.

Por ordem do Imperador,
Baniu-se a sua dinastia.
Por isso, exilada vivia,
Confortada pelo rumor
Doce do vento do alvor.

Certo dia, encontrou uma Torre
Ascendendo aos céus, de marfim,
No meio de um imenso jardim
Onde o licor em rios corre,
E a flor de laranjeira não morre.

Passou os prateados portões
E soube que era o seu reino novo,
Pois lá a esperava todo um povo,
Cantando-lhe alegres canções,
Montado em cisnes e pavões.

Em cisnes e pavões montado,
O povo cantava feliz,
Por fim, chegava a Imperatriz
Que tanto tinham esperado,
Com quem profetas tinham sonhado!

Poetas cantaram da sua vinda,
Da sua bondade e beleza,
- Curas universais de tristeza!
Doce e bela, reina hoje ainda,
Onde a luz do dia não finda.



Rafael Silveira Neves

Donnerstag, 11. November 2010

O Fruto do Conhecimento


Tão grande foi o meu pecado!
Tão grande será o meu tormento!
De querê-lo - tão sumarento...
De prová-lo - doce e dourado,
O Fruto do Conhecimento!

Que dor! a de ser imortal!
Ver o tempo passar, tão lento...
Vivo imortal, em pensamento,
Pois sorvi o suco intemporal
Do Fruto do Conhecimento.

E agora é minha a luz do dia,
E o sopro cósmico do vento
E observo, do meu firmamento,
A fonte da eterna alegria,
Meu Fruto do Conhecimento.


Rafael Silveira Neves

Montag, 11. Oktober 2010

Catullus XVI

Pedicabo ego vos et irrumabo,
Aureli pathice et cinaede Furi,
qui me ex versiculis meis putastis,
quod sunt molliculi, parum pudicum.
Nam castum esse decet pium poetam
ipsum, versiculos nihil necesse est;
qui tum denique habent salem ac leporem,
si sunt molliculi ac parum pudici,
et quod pruriat incitare possunt,
non dico pueris, sed his pilosis
qui duros nequeunt movere lumbos.
Vos, quod milia multa basiorum
legistis, male me marem putatis?
Pedicabo ego vos et irrumabo.

Donnerstag, 16. September 2010

Jerusalem


And did those feet in ancient time.
Walk upon Englands mountains green:
And was the holy Lamb of God,
On Englands pleasant pastures seen!

And did the Countenance Divine,
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold;
Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds unfold!
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight,
Nor shall my Sword sleep in my hand:
Till we have built Jerusalem,
In Englands green & pleasant Land.

William Blake

Donnerstag, 9. September 2010

O Rouxinol e a Pomba


No topo de um dragoeiro, um rouxinol cantava à pomba dos seus olhos:

«Toda a minha canção é para ti,
com ela quebro o silêncio gélido das noites
com ela saúdo o brilho dos teus dias.
Noite e dia e dia e noite
Toda a minha canção é só para ti, Pomba.

Porque me trouxeste paz, e as palavras da minha voz,
Porque me fizeste ver a beleza de todas as coisas,
Porque enfrentaste tempestades na madrugada dura só para voares para mim,
Porque mostras compaixão quando as canções são desafinadas, tristes e irrequietas,
Porque nasceste para nos mostrar que uma pomba traz sempre paz, bondade e beleza a todos que a vejam voar livre.
Por isto tudo, Pomba, e por mais que possas imaginar,
A minha canção é tua, e só tua.

E hei-de aguentar-nos nas tempestades de madrugadas duras, e hei-de te proteger e coroar-te com flores de cerejeira e retribuir-te a bondade, mesmo que não nos compreendam.
Mas daqui não saio. E a ti, não te deixo.»

E a pomba cantou, respondendo ao rouxinol,

«E eu oiço a tua canção,
Quando a lua transforma o meu branco em prata,
Quando a luz do dia me coroa,
Dia e noite e noite e dia
Só oiço a tua canção.

Porque se a todos trago paz, em ti encontro a minha,
Porque me fizeste ver a vida de todas as coisas,
Porque quando vôo para ti, vôo livre, e sou feliz quando poiso,
Porque consigo ouvir para além das canções desafinadas e tristes, e ver horizontes de melodias alegres,
Por isto tudo, Rouxinol, e mais do que possas imaginar,
Apenas oiço a tua canção.

E hei-de a ouvir e sentar-me neste mesmo galho, sob o granizo e as mandíbulas do sol, cantando contigo,
venha o que vier.»

RSN

Samstag, 10. Juli 2010

«She walks in Beauty»


SHE walks in beauty, like the night
Of cloudless climes and starry skies;
And all that 's best of dark and bright
Meet in her aspect and her eyes:
Thus mellow'd to that tender light 5
Which heaven to gaudy day denies.
One shade the more, one ray the less,
Had half impair'd the nameless grace
Which waves in every raven tress,
Or softly lightens o'er her face; 10
Where thoughts serenely sweet express
How pure, how dear their dwelling-place.

And on that cheek, and o'er that brow,
So soft, so calm, yet eloquent,
The smiles that win, the tints that glow, 15
But tell of days in goodness spent,
A mind at peace with all below,
A heart whose love is innocent!


Lord Byron

Donnerstag, 17. Juni 2010

O vencedor

Fernando Pessoa e os seus amigos imaginários ganharam a nossa sondagem sobre quem foi o melhor poeta português de todos os tempos.

Parabéns ao Nando!

Freitag, 28. Mai 2010

Deus guarde este homem!



Franz Sacher

Ao estilo do Cosme... temperado por uma potente dose de bom-senso... prometo um justo e merecido prémio à primeira pessoa que me disser o que fez este senhor de aparência cómica e em que contexto.

Sonntag, 23. Mai 2010

Surrealismo - II



Ele poderá jurar que não te ama;
que os seus passos são fruto
da vontade inquebrável do dito Homem
e não gotas nebulosas de licor de éter
harpejadas por um festivo e pré-determinado destino.

Ele poderá jurar que não te ama;
que o escarlate e ridente Sol do amanhecer
não abençoa a Terra turva:
as nuvens gotejantes
de orvalho escarlate e ridente
são rubis.

E poderá jurar que não te ama;
e que a Terra turva tornada tiara imperial
do mecanizado Universo há muito desenhado
não foi colocada nele para virar e revirar, dançante,
e velar terna pelo radiante e generoso Sol:
grata pela bênção diária.

Poderá jurar que não te ama:
E no entanto, move-se.

Rafael Silveira Neves

Por linhas tortas.



«Para a tua dor, pecador, escancaro as portas;
As sulfúreas mandíbulas do Inferno.
Vai! sofre o pecado no fogo eterno!»
- Assim escreveu Deus por linhas tortas.

Rafael Silveira Neves

Sonntag, 25. April 2010

Grândola, vila morena

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Montag, 22. März 2010

Os sebastiacas trombos não deixaram partir

Os sebastiacas trombos não deixaram partir
Portugal para o Brasil.
Vagos ficamos da amurada aos tombos
Para a largada rombos
Do corpo de Portugal.

Mas a Hora deixada ao sono vil
Dos que provendo tudo podem nada
Mais que o fogo senil
Do Império Final,
Cintila na amurada:
Nao há Portugal e Brasil.
Brasil é Portugal.

---
Mário Cesariny (1923-2006)

Sonntag, 7. März 2010

Glorioso é este dia porque descobri que não te posso fazer feliz
ainda assim te quero

Glorioso é este dia porque descobri que não me podes fazer feliz
ainda assim te quero

Mas todos os dias são gloriosos