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Dienstag, 16. November 2010

Decreto



Queridos amigos da irmandade Ars Vitae,
Estimadíssimos leitores que nos dão alento e alegria,
Abjectos corvos que rondam esporadicamente e com malícia este Jardim de fraternidade,

Tenho a informar que em breve vou proceder a uma reestruturação desta casa. Em termos visuais, produtivos e conteudísticos.

Decreto assim a suspensão de todos os trabalhos até ao meu regresso.

F.

Dienstag, 20. April 2010

Unidade, Justiça e Liberdade para a Europa.

Es ist das erste Mal seit Jahren, dass ich einen ganzen Text auf Deutsch schreibe. Vielleicht hat mich die Überzeugung gehindert, dass ich es nicht mehr kann. Welches, natürlich, mir grosses Leiden bringt.
Heute aber werde ich meine zweite Sprache verwenden. Und es ist mir egal, ob ich Fehler mache oder nicht. Es ist MEINE Sprache. Die Sprache, mit der ich aufgewachsen - eher erwachsen geworden - bin.

Ich habe entschieden, über meine zweisprachige und bikulturelle Jugend und Kindheit zu sprechen, weil ich in den letzten Zeiten besonders stark eine Nostalgie, eine Schwermut, eine «Saudade» fühle, und mich selbst öfters frage, ob es ein Traum war oder nicht.

Konnten wirklich Menschen zusammengehören, indem sie zusammenwuchsen? Konnten wir unsere Unterschiede gegenseitig verzeihen, und miteinander lernen und uns menschlich bereichern?

Ich bin mir bewusst, dass die Fragen unverständlich scheinen können. Nur jemand, der selbst erlebt hat, wie zwei Nationen ihre Freundschaft besichern können, indem sie ihre Kinder zusammenwachsen lassen.

Kein Mensch versteht, wieso meine Jugend an meiner Schule soviel für mich bedeutet. Vielleicht - und wahrscheinlich - wissen sie nicht, dass eine einfache Schule zu einem kleinen «Kosmopolis» und zu einer Lerngemeinschaft werden kann. Zu einem Erdpol von internationalem Frieden durch Erziehung und Lachen.

Vielleicht deswegen waren wir fähig, die Idee von einer europäischen Union besser zu verstehen. Weil wir verstanden UND GEPRÜFT haben, dass verschiedene Völker doch gemeinsame Werte und Glauben und Interessen haben; und dass jeder, in seiner Seele, ein Weltbürger oder eher Europabürger sein kann, ohne seine Wurzeln zu verneinen und verlassen.

Es waren wir, lissaboner Portugiesen, die unseren deutschen Lerngemeinschaftskammeraden beigebracht haben, auf Deutschland, auf ihre Kultur und Geschichte stolz zu sein. Weil sie, wie wir, Gründe dafür haben. Und sie haben auch die Schönheit unseres Landes und der Geschichte unseres Volkes geliebt. Und freuten sich, dass wir sie ihnen mitgeteilt haben. Sowie wir uns gefreut haben, ihre Kultur zu lieben und zu verstehen.

So lasen wir Lessing und Goethe; und haben sie Fado "sehnsüchtig" zugehört und unsere Dichter gelesen.
So sangen wir «Einigkeit und Recht und Freiheit», am Anfang lauter als sie, und sie haben damit gelernt, dass es ein schönes und bedeutsames Lied ist, und dass wir sie nicht für ihre Vergangenheit beschuldigen, so sollen sie auch nicht - und so haben sie gelernt, ihr eigenes «Einigkeit und Recht und Freiheit» so laut und gerührt wie wir zu singen, weil sie (Welt-)Europabürger eines neuen Deutschlands sind - das tatsächlich und unfragbar ein Vorbild von Recht und Freiheit für alle Länder ist.

So haben sie gelernt, dass Portugal (laut die 2., allgemein unbekannte Strophe unserer Nationalhymne) "deu novos mundos ao mundo", der Welt neue Welter gab oder zeigte, und unsere Seefahrer geschafft haben, dass der See die Welt nicht mehr trennte, sondern verband (F. Pessoa); und wir haben gelernt, wie ein Land, der den unmenschlichsten Totalitarismus und Rassismus und imperialistischen Faszismus erlebt hat, sich innerhalb einer Generation neuerfunden hat - welches WIR nicht erreicht haben.

Wir haben miteinander beidseitig gelernt und uns gegenseitig gelehrt. Unsere Unterschiede haben uns damit nicht getrennt...sondern verbunden. Wir haben auf einer anderen Seite verstanden, dass unsere Gemeinsamkeiten grösser sind, als wir denken.
Wir waren, in einem Wort: Der Beweis. Dass Europa eines Tages zu dem Zustand kommen wird, in dem wir unsere Gemeinsamkeiten UND Unterschiede als gemeinsames Eigentum betrachten werden. Und dass wir doch «Brüderlich in Herz und Hand» leben können. Wie wir, eure Kinder, damals.

Samstag, 17. April 2010

Verdade Universal e Insana n.º 2

Verdade Universal e Insana n.º 2:

«Entre o Peixe-Espada e o Peixe-Parede, ou nadas ou afogas-te

É verdade. Qualquer um que esteja tramado de qualquer modo terá sempre de estrebuchar como um peixe fora da água da normalidade circunstancial. Terá sempre de fingir que sabe nadar enquanto se afunda rogando pragas, degradado, mas sempre revestido num manto imperial de artificial dignidade. Afoga-se se não conseguir encontrar uma forma inteligente de esquivar-se aos peixinhos.

Ou aprende a nadar e manda o Peixe-Espada e o Peixe-Parede irem dar banho ao Peixe-Cão.

Ou se torna num tubarão e come o Peixe-Espada e o Peixe-Parede.

Ou então transforma-se num Peixe-Buldozer e dá cabo do Peixe-Parede.

Ou então transforma-se num Peixe-Rato e esburaca o Peixe-Parede, formando depois uma aliança com o Peixe-Cão contra o Peixe-Gato, vil e tirânico usurpador dos mares e assassino de massas do povo dos peixinhos.(sei que referir este traidor é uma massada, mas a menção do nome do ignóbil Peixe-Gato e do Ictiofagio-canibalismo que vivemos serve-me para demonstrar que, num mundo em que o peixe come o peixe, que come o peixe, que come o outro peixinho que comeu o peixao, é verdade - o Homem é o Peixe do Homem.)

Ou então pede ao Peixe-Balão para lhe dar uma ajuda e uma boleia para longe, depois festejando com ele a noite do Peixe-São-João, mesmo não sendo crente.

Ou então transforma-se num Peixe-Escudo para ensinar ao Peixe-Espada quem manda.

Ou então pede ao Peixe-Aranha para lhe fazer uma rede e apanhar o Peixe-Espada e o Peixe-Parede e os comer ao jantar, grelhadinhos com um bom vinho branco.

Ou então transforma-se num Peixe-Porco e (peço desculpa) caga-se para o Peixe-Espada e o Peixe-Parede.

Ou então afoga-se.

As possibilidades são muitas. E raramente se verifica uma total ausência e soluções para escaparmos a situações aparentemente inescapáveis.

Mittwoch, 17. Februar 2010

A Cultura do Sofrimento

Em posts passados viram-me a mim, ateu, a defender o legado moral do Cristianismo.
Se bem se recordam, expliquei que as noções éticas básicas da nossa Civilização derivam da palavra do Novo Testamento, que revogou o "temor e tremor" a Deus da lei mosaica e institui como princípio fundamental o amor ao próximo, a tolerância, a dignidade da pessoa humana, e a clemência. Sem a formatação de pensamento que o Cristianismo nas suas duas variantes principais da Europa Ocidental forneceu na infância e juventude de praticamente toda a gente durante séculos, as concepções morais defendidas pelos filósofos mais influentes desde o Humanismo não teriam existido.
Locke não se teria lembrado de um estado de natureza em que não existe sociedade e o Homem vive em paz, colhendo os frutos da terra, até conhecer o crime e a cobiça e ter de se organizar e do suor do seu rosto comer o pão, e ver-se forçado a instituir um contrato social em que abdica da sua liberdade absoluta, que todos os homens terão em igual medida, para dar corpo a uma sociedade com regras aplicáveis a todos. Isto não soará vagamente ao pecado original e à expulsão de Adão e Eva do Paraíso? A corrupção das leis da natureza levando à justificação das leis do Homem?
Kant não se teria lembrado do imperativo categórico sem os ensinamentos de Cristo: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti, por exemplo.
Em suma, o Cristianismo deu-nos valores éticos incontornáveis que hoje, em grande parte, tomamos por absolutos independentemente de sermos crentes ou não - pura e simplesmente, porque fazem parte da nossa cultura e todo o nosso pensamento neles é formatado, como foi influenciado o pensamento das gerações antes de nós.
Contudo, não é da importância do cristianismo no pensamento de um ou outro que vos quero falar. Já noutras alturas vos disse o que acho de positivo na mundividência cristã, que tanto influenciou a nossa civilização. Mas hoje, vamos olhar para o outro lado da moeda. Hoje, quero dizer-vos aquilo que acho de mais abominável no Cristianismo, sobretudo no Catolicismo, e que considero que deixou cicatrizes graves e feias na nossa cultura.

Chamo-lhe a Cultura do Sofrimento.

O ponto de partida tem de ser este: Como as restantes religiões monoteístas, o Cristianismo - e em particular, o católico - é uma religião exigente. Deus - ou, para quem Deus seja secundário, a Igreja Católica - espera muito de ti, coisas difíceis, abstinências duras, comportamentos correctos a toda a hora, e muitos, muitos sacrifícios pessoais como prova de fé. É uma religião que coloca muita pressão sobre os seus crentes. (ex: Mateus, 5, 48: «Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.»)
A violação dos deveres impostos pelo vínculo a Deus e à Igreja tem consequências não só na vida eterna, mas na vida temporal: o castigo perpétuo e constante pelas infracções cometidas é a culpa, que atrofia, a longo prazo, o estado de espírito de todos os que sentem que estão a violar os seus deveres morais e religiosos.
Ora, ainda que se assista a um grossamento das fileiras do ateísmo no último século, a verdade é que o sentimento de culpa está para ficar; e 2000 anos de educações marcadas pelas compreensões cristãs daquilo que é eticamente correcto só deixaram mais vincada na nossa mentalidade a - falsa - naturalidade do sentimento de culpa sempre que nos pareça que não fizemos sacrifícios suficientes ou que não conseguimos estar à altura do que era esperado de nós.
Vivemos numa Cultura de Sofrimento; numa cultura que se alimenta da ideia de que todo o sacrifício é um bom sacrifício, e que uma pessoa que se sacrifica até aos ossos e se dedica exclusivamente a servir os outros e a torná-los felizes é uma pessoa generosa e altruísta, e não um idiota. Serei o único a pensar que o facto de, na nossa civilização, palavras como selfless têm conotação positiva é algo de absolutamente perverso?
É isso que o Cristianismo trouxe de pior: a relativização do sofrimento individual face à satisfação alheia, de Deus, da Igreja, da Família, ou da comunidade. Alguém que não estiver disposto a aturar todo e qualquer sacrifício é considerado um egoista; e alguém que não se vir na obrigação de sofrer para agradar aos outros é posto de lado.
Vivemos numa cultura com um lado perverso: aquele que nos diz que, quanto mais nos reduzirmos e eliminarmos em prol dos outros, melhores pessoas somos; e que o sacrifício e o sofrimento, por mais inúteis que possam ser, desde que bem intencionados, são algo de bom.


«Nosso Senhor foi espancado, torturado, chicoteado, pontapeado, cuspido, humilhado e pregado a uma cruz para lá morrer em agonia - e fez isto por ti e por todos nós. E tu, meu egoísta nojento, o que estás disposto a sofrer pelos outros?»

Montag, 14. Dezember 2009

Bom conservadorismo e mau conservadorismo

Lá fora, os conservadores querem adaptar os valores tradicionais aos novos tempos, para que se mantenham e não deixem de fazer sentido.
Em Portugal, os conservadores querem sujeitar a modernidade à tradição, ao ponto de tirarem o sentido aos novos tempos.

Sonntag, 11. Oktober 2009

Em dia de eleições, calha bem.

Naturalmente, pode have excepções à regra, mas penso que...

Somos a geração do desapontamento, da descrença, da falta omnipresente de fé.
Há duas gerações, eram as ninhadas da infantilidade política alimentada pelo paternalismo de um Regime do tipo que nunca dura muito tempo. Infantis o suficiente para acreditarem estupidamente que o papá da pátria efectivamente tomava conta de tudo, e que o fazia bem.

A geração que nos antecedeu é a dos que tiveram esperança demais, depois desiludiram-se, e depois ficaram ocos no próprio cinismo. Ou então dos que permaneceram presos às suas convicções sem se darem conta de que o país mudou.

Mas nós somos os piores. Somos os que não aprenderam nada com erros dos avós e dos pais. Padecemos dos mesmos males que eles no breves momentos em que não vegetamos no descontentamento e na descrença.

À Direita ou à Esquerda, poucas pessoas conheço que sintam uma real confiança no nosso sistema de partidos. Toda a gente parece concordar, em termos mais ou menos correntes, que a teoria, encerrada na constituição, é muito bonita, "mas na prática"....
Acho que a grande causa da decadência da nossa democracia - a par de certos escândalos que são mais próprios de um tablóide que de um post desta digna comunidade - são os cancros que levam a que ninguém chegue a identificar-se plenamente com esta ou aquela força política.

Os maiores cancros da Esquerda portuguesa são dois: o radicalismo e a ingenuidade.
É o radicalismo de celebrar festivamente que uma mulher possa interromper a sua gravidez por escolha própria, em vez de chorar a necessidade da despenalização do aborto e sentir condolência pelo homem que, sem poder de decisão no assunto por ninguém conseguir encontrar uma solução ética ou jurídica para a sua posição, perderá o filho que queria ter e teve ilusões de imaginar no ventre da sua mulher.
É o radicalismo de defender com garras e dentes a legalização do consumo de drogas leves como se fosse um grande triunfo da Humanidade poder fumar charros; e não como se fosse o instrumento mais eficaz e potente para lutar contra o tráfico criminoso e gerador de violência, deixando o Estado ter o controlo total da comercialização de erva ou haxixe.
É o radicalismo de defender que toda a gente deve poder casar e adoptar, calando todas as objecções que dizem respeito ao são desenvolvimento dos adoptandos, e acusando quem as faz, recorrendo a ciências tão metafísicas e absurdas como a biologia, de conservadorismo salazarento.
E depois, há a sua triste ingenuidade.
É a ingenuidade de acreditar que qualquer um chegaria onde quisesse pelo trabalho, não fossem as trincheiras invisíveis da luta de classes; a ingenuidade de acreditar que há uma cisão na sociedade entre pessoas boas e trabalhadoras e pessoas ricas e poderosas. E perdem-se na ingenuidade de querer forçar uma igualdade artificial, ao estilo Robin Hood, perdendo as suas raízes ideológicas ao declararem uma guerra mais cerrada à riqueza, e não à pobreza e à exploração.

O maior cancro da Direita portuguesa é, assim o vejo, apenas um: a misantropia de acreditar que há pessoas boas e trabalhadoras, e pessoas preguiçosas e más. E obviamente, a maioria dos apoiantes deste tipo de ideologia diluída está incluida invariavelmente no lado dos «bons».
É a misantropia que os conduz - a de pensar que quem aborta, quem se prostitui, quem é homossexual, quem está desempregado há anos e décadas, quem vive de ajuda do Estado ou toma drogas tem geralmente a culpa de se encontrar na situação em que se vê, ou que tem algo de muito errado, feio e imoral que a sociedade tem de ignorar, desprezar, ou reprimir. E perdem-se na misantropia de achar que a única solução para a sociedade, pejada de pecado e torpeza, é dar o máximo de liberdade económica a toda a gente, porque a iniciativa privada é mágica, fuciona sempre - até há ciências sociais que o provam com gráficos catitas, vejam lá como isso é cómodo! - e acabará por dar a todos o que precisam; perdem-se na misantropia de acreditar que a solução para o resto dos problemas da sociedade é proibir, oprimir ou excluir - perdendo assim também as raízes cristãs que hipocritamente afirmam ter, relativizando o amor ao próximo e a humanidade que é a jóia esquecida da coroa do cristanismo (ou pelo menos... da mensagem de Cristo...).

Há que ouvir o que diz RAWLS. O professor de Harvard acusa a maior parte dos sistemas de fundamento democrático de se terem focado demasiado num de dois ideais trazidos pelo liberalismo político e tornados em estandartes da Revolução Francesa:
Os sistemas jacobino - por razões menos simpáticas, também conhecido por sistema "do Terror" - e soviético ou de inspiração marxista concentraram-se tanto na igualdade que a tornaram num eufemismo para opressão e uniformização à força. Mas traziam consigo o abandono do mérito em detrimento da opinião do colectivo.
As monarquias e repúblicas económica e socialmente liberais dos séculos XIX e XX tornaram a liberdade individual no seu grito de guerra. Fizeram do mérito uma justificação perversa manterem os olhos fechados para a exploração, para a miséria, e para o feudalismo socio-económico.
O que RAWLS sustenta é que, mais que igualdade ou liberdade, nos devemos concentrar na solidariedade, garantindo o maior espaço de liberdade individual possível compatível com a liberdade alheia, e assegurando a todos:
Não uma igualdade social;
Não uma liberdade económica e individual absoluta;
Mas uma igualdade de oportunidades para todos, de modo a que cada um possa ter uma possibilidade justa de ascender na vida - o que naturalmente não implica uma visão completamente liberal, antes um investimento massiço e prioritário no capital humano e na luta à miséria. O Estado não é mínimo, na proposta de RAWLS. É máximizador do potencial de todos.

Alguém lhe devia dar ouvidos.

Donnerstag, 4. Juni 2009

Europa

Este post já devia ter sido publicado há muito tempo. Creio que está na altura de, finalmente, manifestar aquilo que penso e sinto em relação à União Europeia, já que cada vez que o faço, nunca tenho tempo para explicar a minha opinião.
Creio ainda que este é o momento ideal para o fazer, tendo em conta que as eleições ao Parlamento Europeu se vão realizar já no próximo domingo.

Eu sei em quem vou votar. Não porque o candidato cabeça-de-lista me agrade particularmente, mas porque com ele virão mais deputados com uma orientação que eu perfilho: quanto mais Europa, melhor.
Votarei no único partido que compreende aquilo que a Europa significa, o único que não usa - demais, convenha-se... - as eleições europeias como as pré-legislativas, pois isso é cair no grande erro, no grande vício dos portugueses, e pensar que o que está em causa é o mero bem-estar nacional, e não o bem-estar e o desenvolvimento da Europa como um todo.
Por motivos históricos, talvez, tendamos nós, portugueses, a desconfiar de forças políticas que nos reduzem a uma parcelazita de terra à beira-mar plantada. Parece que sempre que Portugal se vê confrontado com a possibilidade de perder a sua soberania no todo ou na parte se une, como país culturalmente homogéneo que é, para lembrar "mas... mas somos portugueses! - e não aceitamos NUNCA que nos digam como reger o nosso país, que tanto nos custou a trazer à vida e a manter!". Lembremos as guerras com os nossos vizinhos; com Napoleão; o protectorado britânico após as invasões francesas; e o nacionalismo tradicionalista e romântico do Estado Novo do "orgulhosamente sós".
Os mais patrióticos - quer por estas lembranças históricas espreitarem por detrás das cortinas, nos bastidores do seu pensamento, quer não - fazem finca-pé, lembrando que somos uma nação valente e imortal de heróis do mar, na nossa História, Língua, cultura; e afirmam com toda a confiança e «orgulho em ser português» que somos capazes de nos arranjar sozinhos.
Mas coloco a questão - haverá país algum capaz de se desenvolver sem ajuda estrangeira? Haverá povo algum que, nas alturas áureas do seu apogeu de glória, não tenha precisado de uma mão alheia para o puxar para o seu Olimpo?... Não terá sido a nossa idade do ouro aquela em que tivemos o globo nas nossas mãos pelo doux commerce, coroando-o com um império de «ouro, canela, marfim», por trocarmos com Américas, Índias e Áfricas, não por as pilharmos; por enriquecermos as cidades e entrepostos muçulmanos, e a nós mesmos, e não por as queimarmos?... Teríamos conseguido erguer um império sem aqueles que Camões representa como nossos inimigos?
São ingénuos os que pensam que foi só pela força bruta de uns quantos marujos tugas que Portugal chegou onde chegou nos séculos XV e XVI. Nunca Portugal se ergueu sozinho. Aljubarrota? estavam lá ingleses que nos ensinaram a formação que determinou o resultado da batalha. Os descobrimentos? foram os venezianos e genoveses que nos ensinaram sequer a nadar; os árabes deram-nos os instrumentos de navegação. Para quem ainda tem o arrufar de tambores de guerra a ecoar nas veias e no coração desde 1640 - foi sob os primeiros Filipes que tanto Portugal como Espanha chegaram ao seu auge no domínio político. E como todos sabem, O Marquês de Pombal era um fortíssimo adepto da importação da cultura filosófica, literária e jurídica iluminista "das nações polidas e civilizadas da Europa", nas suas palavras.
Não pensem que descreio no nosso potencial enquanto país ou povo; ou pior - não pensem que não me sinto ligado à minha terra-mãe; é apenas um facto que, tal como todos os países, Portugal nada fez sozinho.
E por isso é que o nacionalismo político é estúpido.
Aquilo que a União Europeia traz é algo de diferente. Não está em causa qual país fica a ganhar ou a perder; qual a nação privilegiada por um paneuropeísmo e qual a nação oprimida: o que está em causa é o aprofundamento gradual numa - quer queiram, quer não - inevitável federação europeia com UM povo e UM governo central a par dos governos nacionais - tal como nos Estados Unidos ou na Alemanha ou na Suiça.
E os patriotas tremem, tremem.... "que nos vai acontecer?!.... Não foi por isto que traçámos as nossas fronteiras a sangue!"...
Pois bem - enquanto escrevo isto, a Europa floresce, e as fronteiras lentamente dissipam-se como a ficção romântica e nacionalista que são... E o sangue de 1539 anos (desde o início da queda de Roma até ao fim da 2.ª Guerra Mundial) de massacres, de batalhas, de guerras por meia dúzia de quilómetros quadrados de terra são absorvidos pelo solo; e o solo um dia vai desconhecer se é italiano, alemão ou francês - porque as nações não serão das terras, mas dos corações de cada Europeu. E será dos estandartes caídos perante generais corajosos e ardentes de amor à pátria e ao povo, absorvidos pela terra; da poeira dos cavalos e tanques de guerra; da pólvora vã; dos corpos de pessoas como tu e eu, caídas, apodrecidas, e esquecidas por nada; das massas de inocentes chacinados - será de tudo isto, degenerado, esquecido, perdoado, de todos estas desumanidades biodegradáveis que se formará -e forma neste momento - o solo da grande Federação Europeia, fértil e rico o suficiente em memórias negras - mas também em lembranças belas - para que compreendamos:

Que as nossas semelhanças, Europeus, nos devem unir, e que as nossas diferenças nos devem completar, e não dilacerar, nem dividir, nem alimentar as grandezas irracionais do patriotismo político degenerante em nacionalismo que SEMPRE levou à guerra!

Quantas guerras se contam desde o nascimento definitivo do nacionalismo, no início do século XIX, na Europa, até à segunda guerra mundial, quando se viu que não era grande ideia juntar essas ideias românticas à política? Em 150 anos, são dezenas e dezenas delas.

E quantas guerras se contam na Europa desde que se fundou a CECA? Nenhuma.

O problema dos nacionalistas políticos portugueses é não se lembrarem do cheiro a carne humana queimada, do rugir de armas e do grito de inocentes que nada têm a ver com a guerra.
Ou será coincidência que os países europeus mais afectados pela 2ª Guerra Mundial sejam hoje os mais europeístas?

A Europa trouxe-nos paz na nossa terra, sim. Algo que nós, portugueses, já saboreamos docemente há tanto tempo que nem nos apercebemos da sorte que temos em não termos edifícios de 30-40 anos a substituir aquilo que em tempos teria sido o terreiro do paço. Os berlinenses não têm a mesma sorte que nós.
Mas aquilo para que quero chamar a atenção não é aquilo que a Europa fez por nós - falo da paz porque para mim é o que mais releva, mas podia igualmente bater obsessivamente na tecla económica e social - mas o que pode fazer.
Para isso, gostava de explicar um fenómeno análogo àquele que está a acontecer na Europa neste momento.
Até 1871, a Alemanha foi um mosaico de Estados de maior ou menos dimensão - alguns tão grandes como Portugal ou maiores; outros, nem chegariam ao tamanho do concelho de Loures. Foi pela chegada do romantismo e da ideia de que a todos os alemães seria comum uma ancestralidade de heróis como Sigurd, Carlos Magno e Frederico Barbarossa, que o povo alemão nasceu como detentor de um Estado único, de uma só Federação.
Contudo, o facto de se erguer como um único povo nunca eliminou o facto de que a Alemanha continuou a ser um mosaico de nações durante muito tempo. A multiplicidade de culturas, dialectos, tradições, orientações religiosas que fora oprimida por Hitler (para gerar a ilusão de que o povo alemão seria totalmente homogéneo e que por ser uma única «nação alemã» poderia vingar como comunidade política) renasceu no pós-guerra, e hoje a Alemanha é de novo um Estado Federal que não ignora, antes respeita as diferenças - desde o romantismo, algo residuais - entre Bávaros e Saxões e Suavos e berlinenses.

Porque não uma Europa com um povo, mas muitas nações? Porque não uma união federal ou a caminho de uma federação efectiva, fundada na dignidade da pessoa humana, na autodeterminação dos Estados europeus, na solidariedade social do Estado de Direito, dirigida à protecção da Europa como um todo, e à preservação e promoção da cultura, língua, etc. dos povos que fazem parte da União?

Eu sou patriota. Mas dificilmente me encontrarão um dia a dizer que tenho orgulho de ser português. Para mim, não há necessidade de o afirmar, nem sequer vejo que possa ser uma questão de orgulho - tenho amor a Portugal, à sua história, à sua cultura, ao legado de 600 anos de literatura que nos deixaram os nossos antepassados, à sua língua. Isto implica tão-somente que para mim o patriotismo é algo que só faz sentido, hoje, ao ler os nossos poetas, ao vaguear sozinho pelas nossas paisagens, ao ouvir a nossa música - mas nunca encharcar o nosso legado cultural único e rico em sangue, nem deixar que o meu amor a Portugal degenere num desprezo pelo estrangeiro ou sequer numa indiferença.

A União Europeia quebra todas as razões que teríamos para nos isolarmos. Está na Hora de partilharmos aquilo que Portugal é, de revelarmos o esplendor da sua beleza aos nossos vizinhos; Um dia, o nosso «braço vencedor deu novos mundos ao mundo», pelas naus que levavam ao globo todo ouro e traziam de volta especiarias e marfim.
Está na Hora. Levemos o que é nosso à Europa, e importemos também aquilo que os nossos vizinhos têm para nos oferecer. Portugal merece-o; a Europa também.

A Europa é um sonho realizável. E é o sonho que vai realizar Portugal e todos os Estados-Membros pela paz, pela prosperidade, pelo respeito mútuo, pela valorização do que nos une (o Direito, o passado do iluminismo, o liberalismo, ou até o legado moral e cultural do Cristianismo...) e pelo enriquecimento científico, cultural, económico, social e académico. E tudo isto lembrando sempre, como Europeus, que o que nos diferencia é o resultado de desenvolvimento milenar de nações brotadas de um império caído que um dia proporcionou, dentro de uma multiplicidade de culturas, a unidade política. O que nos diferencia é de origem comum, é o que nos enriquece, é o que nos completa.

In Varietate Concordia.

É a Hora.