Sonntag, 11. Oktober 2009

Em dia de eleições, calha bem.

Naturalmente, pode have excepções à regra, mas penso que...

Somos a geração do desapontamento, da descrença, da falta omnipresente de fé.
Há duas gerações, eram as ninhadas da infantilidade política alimentada pelo paternalismo de um Regime do tipo que nunca dura muito tempo. Infantis o suficiente para acreditarem estupidamente que o papá da pátria efectivamente tomava conta de tudo, e que o fazia bem.

A geração que nos antecedeu é a dos que tiveram esperança demais, depois desiludiram-se, e depois ficaram ocos no próprio cinismo. Ou então dos que permaneceram presos às suas convicções sem se darem conta de que o país mudou.

Mas nós somos os piores. Somos os que não aprenderam nada com erros dos avós e dos pais. Padecemos dos mesmos males que eles no breves momentos em que não vegetamos no descontentamento e na descrença.

À Direita ou à Esquerda, poucas pessoas conheço que sintam uma real confiança no nosso sistema de partidos. Toda a gente parece concordar, em termos mais ou menos correntes, que a teoria, encerrada na constituição, é muito bonita, "mas na prática"....
Acho que a grande causa da decadência da nossa democracia - a par de certos escândalos que são mais próprios de um tablóide que de um post desta digna comunidade - são os cancros que levam a que ninguém chegue a identificar-se plenamente com esta ou aquela força política.

Os maiores cancros da Esquerda portuguesa são dois: o radicalismo e a ingenuidade.
É o radicalismo de celebrar festivamente que uma mulher possa interromper a sua gravidez por escolha própria, em vez de chorar a necessidade da despenalização do aborto e sentir condolência pelo homem que, sem poder de decisão no assunto por ninguém conseguir encontrar uma solução ética ou jurídica para a sua posição, perderá o filho que queria ter e teve ilusões de imaginar no ventre da sua mulher.
É o radicalismo de defender com garras e dentes a legalização do consumo de drogas leves como se fosse um grande triunfo da Humanidade poder fumar charros; e não como se fosse o instrumento mais eficaz e potente para lutar contra o tráfico criminoso e gerador de violência, deixando o Estado ter o controlo total da comercialização de erva ou haxixe.
É o radicalismo de defender que toda a gente deve poder casar e adoptar, calando todas as objecções que dizem respeito ao são desenvolvimento dos adoptandos, e acusando quem as faz, recorrendo a ciências tão metafísicas e absurdas como a biologia, de conservadorismo salazarento.
E depois, há a sua triste ingenuidade.
É a ingenuidade de acreditar que qualquer um chegaria onde quisesse pelo trabalho, não fossem as trincheiras invisíveis da luta de classes; a ingenuidade de acreditar que há uma cisão na sociedade entre pessoas boas e trabalhadoras e pessoas ricas e poderosas. E perdem-se na ingenuidade de querer forçar uma igualdade artificial, ao estilo Robin Hood, perdendo as suas raízes ideológicas ao declararem uma guerra mais cerrada à riqueza, e não à pobreza e à exploração.

O maior cancro da Direita portuguesa é, assim o vejo, apenas um: a misantropia de acreditar que há pessoas boas e trabalhadoras, e pessoas preguiçosas e más. E obviamente, a maioria dos apoiantes deste tipo de ideologia diluída está incluida invariavelmente no lado dos «bons».
É a misantropia que os conduz - a de pensar que quem aborta, quem se prostitui, quem é homossexual, quem está desempregado há anos e décadas, quem vive de ajuda do Estado ou toma drogas tem geralmente a culpa de se encontrar na situação em que se vê, ou que tem algo de muito errado, feio e imoral que a sociedade tem de ignorar, desprezar, ou reprimir. E perdem-se na misantropia de achar que a única solução para a sociedade, pejada de pecado e torpeza, é dar o máximo de liberdade económica a toda a gente, porque a iniciativa privada é mágica, fuciona sempre - até há ciências sociais que o provam com gráficos catitas, vejam lá como isso é cómodo! - e acabará por dar a todos o que precisam; perdem-se na misantropia de acreditar que a solução para o resto dos problemas da sociedade é proibir, oprimir ou excluir - perdendo assim também as raízes cristãs que hipocritamente afirmam ter, relativizando o amor ao próximo e a humanidade que é a jóia esquecida da coroa do cristanismo (ou pelo menos... da mensagem de Cristo...).

Há que ouvir o que diz RAWLS. O professor de Harvard acusa a maior parte dos sistemas de fundamento democrático de se terem focado demasiado num de dois ideais trazidos pelo liberalismo político e tornados em estandartes da Revolução Francesa:
Os sistemas jacobino - por razões menos simpáticas, também conhecido por sistema "do Terror" - e soviético ou de inspiração marxista concentraram-se tanto na igualdade que a tornaram num eufemismo para opressão e uniformização à força. Mas traziam consigo o abandono do mérito em detrimento da opinião do colectivo.
As monarquias e repúblicas económica e socialmente liberais dos séculos XIX e XX tornaram a liberdade individual no seu grito de guerra. Fizeram do mérito uma justificação perversa manterem os olhos fechados para a exploração, para a miséria, e para o feudalismo socio-económico.
O que RAWLS sustenta é que, mais que igualdade ou liberdade, nos devemos concentrar na solidariedade, garantindo o maior espaço de liberdade individual possível compatível com a liberdade alheia, e assegurando a todos:
Não uma igualdade social;
Não uma liberdade económica e individual absoluta;
Mas uma igualdade de oportunidades para todos, de modo a que cada um possa ter uma possibilidade justa de ascender na vida - o que naturalmente não implica uma visão completamente liberal, antes um investimento massiço e prioritário no capital humano e na luta à miséria. O Estado não é mínimo, na proposta de RAWLS. É máximizador do potencial de todos.

Alguém lhe devia dar ouvidos.

2 Kommentare:

A. G. Tenreiro hat gesagt…

Gostei. E não foi pouco.

frederico prometeu sol hat gesagt…

Não foi o Churchill que disse que quem não é um comunista aos dezoito é um cobarde e quem ainda o é aos quarenta é um idiota?