Caríssimos,
não sendo este um blog proeminentemente político, gostaria de tecer as minhas considerações sobre os recentes acontecimentos na minha amada (se bem que à data platonicamente) Grécia.
Aqueles que minimamente me conhecem e que poderiam julgar que a minha orientação política seria a de condenar o motim e a sublevação, vou, com as minhas desculpas, desapontar.
Com efeito não só aceito e compreendo a revolta, porque ao fim do sexto dia consecutivo considero-a tal, como a acho necessária e expectável. Não se trata de nada mais que a Democracia em todo o seu poder, simultâneamente glorioso e assustador.
Tal como Aristóteles nos ensina no livro V da Política as causas de sublevações são variadas, e ainda mais num regime democrático onde a liberdade individual é venerada e acentuada. Estas revoltas contudo não são por mim vistas como nefastas na generalidade mas com um bem que amiúde vem repor a boa governação ou exigir e principiar a acção da justiça quando esta é inexistente.
É aliás salutar que tais eventos aconteçam numa altura em que a Europa se acomodou na sua democracia (muitas vezes à sombra dos EUA que tendo um sistema político invejavelmente utópico não são uma Democracia mas sim uma Républica) não esperando, prevendo e ainda menos desejando uma real intervenção da massa social que em teoria a compõe. Cabe ao estrato social de suporte dar provas da sua existência e poderio. Tendo, dentro deste, os individuos mais esclarecidos e conhecedores (dos quais a juventude estudantil é um exemplo) o dever e obrigação morais e mesmo éticos de alertar e conduzir a contestação, relembrando Sócrates na sua apologia: "espicaçar" os espípiritos.
Como foi já referido nos media o caso do assassinato do jovem de 15 anos não foi mais que o acender de um barril de pólvora que permitisse e inflamasse o demos para que este se demonstrasse pela força, único recurso disponível.
O tema era já referido na Política:
«As alterações de regime podem surgir por não se atender a minudências. Chamo "minudências" porque, muitas vezes não nos damos conta que o desdém de pormenores ínfimos acarreta uma grande revolução nas leis e nos costumes.» Aristóteles - Política, V 1303a 20
Considero portanto que os acontecimentos na Grécia são perfeitamente compreensíveis, e mais espero sinceramente que resultem em algum efeito prático e visivel. Sendo que não conhecendo todo o panorama político grego não faz sentido pronunciar-me sobre quais os melhores resultados, queria apenas mostrar o meu apoio intelectual e a minha solidariedade para com os revoltosos e expressar a minha fé em que as suas acçõas não sejam totalmente em vão. Pois voltando a Aristóteles:
«As revoltas nascem de minudências mas não visam minudências: sempre grandes objectivos.» Aristóteles - idem, V 4.1
não sendo este um blog proeminentemente político, gostaria de tecer as minhas considerações sobre os recentes acontecimentos na minha amada (se bem que à data platonicamente) Grécia.
Aqueles que minimamente me conhecem e que poderiam julgar que a minha orientação política seria a de condenar o motim e a sublevação, vou, com as minhas desculpas, desapontar.
Com efeito não só aceito e compreendo a revolta, porque ao fim do sexto dia consecutivo considero-a tal, como a acho necessária e expectável. Não se trata de nada mais que a Democracia em todo o seu poder, simultâneamente glorioso e assustador.
Tal como Aristóteles nos ensina no livro V da Política as causas de sublevações são variadas, e ainda mais num regime democrático onde a liberdade individual é venerada e acentuada. Estas revoltas contudo não são por mim vistas como nefastas na generalidade mas com um bem que amiúde vem repor a boa governação ou exigir e principiar a acção da justiça quando esta é inexistente.
É aliás salutar que tais eventos aconteçam numa altura em que a Europa se acomodou na sua democracia (muitas vezes à sombra dos EUA que tendo um sistema político invejavelmente utópico não são uma Democracia mas sim uma Républica) não esperando, prevendo e ainda menos desejando uma real intervenção da massa social que em teoria a compõe. Cabe ao estrato social de suporte dar provas da sua existência e poderio. Tendo, dentro deste, os individuos mais esclarecidos e conhecedores (dos quais a juventude estudantil é um exemplo) o dever e obrigação morais e mesmo éticos de alertar e conduzir a contestação, relembrando Sócrates na sua apologia: "espicaçar" os espípiritos.
Como foi já referido nos media o caso do assassinato do jovem de 15 anos não foi mais que o acender de um barril de pólvora que permitisse e inflamasse o demos para que este se demonstrasse pela força, único recurso disponível.
O tema era já referido na Política:
«As alterações de regime podem surgir por não se atender a minudências. Chamo "minudências" porque, muitas vezes não nos damos conta que o desdém de pormenores ínfimos acarreta uma grande revolução nas leis e nos costumes.» Aristóteles - Política, V 1303a 20
Considero portanto que os acontecimentos na Grécia são perfeitamente compreensíveis, e mais espero sinceramente que resultem em algum efeito prático e visivel. Sendo que não conhecendo todo o panorama político grego não faz sentido pronunciar-me sobre quais os melhores resultados, queria apenas mostrar o meu apoio intelectual e a minha solidariedade para com os revoltosos e expressar a minha fé em que as suas acçõas não sejam totalmente em vão. Pois voltando a Aristóteles:
«As revoltas nascem de minudências mas não visam minudências: sempre grandes objectivos.» Aristóteles - idem, V 4.1
5 Kommentare:
caríssimo amigo co-bloguista,
parece-me que é devido aqui usar alguma da informação de que tenho disposto desde ha uns meses para concordar com o que disseste.
Em direito constitucional, diz-se que todas as revoluções são inconstitucionais (o que origina problemas teóricos graves quando de revoluções nascem constituições, como é o caso da nossa...) mas, se pensarmos no verdadeiro e original significado das constituições, como o apresenta ao mundo oficialmente a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1787 no artigo 16º, temos de repensar tudo.
Na verdade, esse mesmo artigo afirma que um Estado que não garanta os direitos fundamentais e respeite o princípio da separação de poderes não tem constituição- o que significa, na gíria francesa iluminista, que um Estado com uma constituição que não respeite estes dois elementos é indigno de se chamar um Estado constitucional.
E mesmo esse artigo 16º remete para um outro, ainda da Declaração. onde podemos encontrar quais esses direitos: o artigo 2º. nele, encontramos o pensamento de Locke a pulsar e a ecoar forte ainda hoje em dia, afirmando os princípios nos quais as democracias e os Estados de Direito se fundaram e fundam originalmente:
Segurança, liberdade, propriedade e prosperidade.
E um Estado que não garantir a segurança do seu povo... é indigno de se chamar Estado de Direito
Bonito mesmo!
E sim Locke era um senhor.
Tive agora, a propósito, um pensamento completamente fantasioso mas engraçado:
Em Maio '68 tivemos a França, berço da democracia moderna aquando da sua revolução;
Ao que parece temos agora a Grécia gérmen de tudo quanto se possa chamar pensamento igualitário ocidental...
E para quando uma intervenção dos ilustres descendentes dos venerandos autores da Magna Carta?
Boa dissertação, concordo especialmente com as referências a um dos reais problemas da Europa, que se encontra entre o Canadá e o México. Não posso deixar de apoiar também os manifestantes gregos, e de lamentar o comodismo em muitos outros países em que se deve pedir uma mudança.
No entanto, nem toda a actualidade política pode ser analisada de um ponto de vista clássico, não é o caso, mas há que relembrar.
«As revoltas nascem de minudências mas não visam minudências: sempre grandes objectivos.» Aristóteles - idem, V 4.1
Pois bem, parafraseando Miguel Ângelo, também podemos dizer:
"A revolução está na minúcia que não é revolução"
(A arte está na minúcia que não é arte")
Teria Miguel Ângelo lido o Aristóteles?
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