Donnerstag, 10. Juni 2010
A Stoa
Caras Amigas e Amigos,
Esta noite, algo de extraordinário aconteceu.
Estava eu, à meia noite agreste, lendo lento e triste tomos vagos e curiosos de ciências ancestrais, e já quase adormecia, quando ouvi o que parecia alguém a bater-me à janela. Apenas o vento, e nada mais, pensei.
Mas o vento insistia demais para ser apenas vento. Portanto abri a janela e procurei o que fosse.
Era um Mocho - e não um corvo!... - com o elmo e a lança de Atena, que fixava em mim os seus enormes olhos, como dois poços escurecidos pela sabedoria acumulada de três mil anos.
"vem comigo" disse o Mocho. E assim foi.
Julgando-me a mim mesmo louco, por abandonar os meus vagos tomos tristes, que me consomem nas horas vagas em que não sou eu que os consumo, para sair de casa a meio da noite para perseguir um Mocho, sob uma chuva surpreendentemente fria para Junho.
Louco, seguramente.
E o Mocho levou-me para longe. Para os campos. Para um lugar ermo, sem árvores, no topo de uma colina escarpada, coroada por inexplicáveis blocos de mármore quebrados, envelhecidos, mastigados pelo Tempo e meio enterrados no solo.
Aí, iluminado pela lua silenciosa, o Mocho falou de novo.
"Água ou oliveira?"
E eu não soube que responder.
"Água ou oliveira?" insistiu o Mocho, indiferente à minha perplexidade.
O frio e a perseguição de um Mocho falante, com elmo e lança, em época de exames, pelos campos fora, a meio da noite - que excelente desculpa para procrastinação! - já me parecia uma situação tão absurda que achei que a única coisa que poderia fazer sentido era que eu desse uma resposta fundamentada.
"água todos têm." - respondi - "mas a oliveira dá fruto, alimento, e riqueza".
E o Mocho deu a sua sentença, solene e orgulhoso: "És digno". E depois voou para longe e desapareceu na noite.
De repente, a terra à minha frente começou a borbulhar. Uma oliveira nascia e crescia e envelhecia à frente dos meus olhos, apenas em alguns segundos, ganhando proporções que apenas atingiria passados milénios.
E quando terminou de crescer, notei que um dos seus ramos formava um braço com uma mão indicando algo.
O seu dedo apontava para uma lápide.
Desenterrei-a, com esforço, e limpei-a da terra e do pó que a cobriam, e tentei ler a sua inscrição com a luz da lua:
ἀναμνημονεύω
E eu soube imediatamente o que fazer. Erguer a nossa Stoa.
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3 Kommentare:
Vão abandonar o Jardim e mudar-se para o Stoa Poecilo?
Nunca! Isto apenas significa que passaremos a dispor de uma "Stoa", tal como dispomos de uma "ala alemã", "ala francesa", um "divã islâmico" e uma "okiya".
É, apenas, uma rubrica de homenagem às culturas clássicas.
Epicuro tem a nossa fidelidade eterna, caro/a anónimo!
Soube-me muito bem ler isto agora,antes de dormir. Vim fazer a visita regular conforme prometido.
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