Donnerstag, 9. September 2010

O Rouxinol e a Pomba


No topo de um dragoeiro, um rouxinol cantava à pomba dos seus olhos:

«Toda a minha canção é para ti,
com ela quebro o silêncio gélido das noites
com ela saúdo o brilho dos teus dias.
Noite e dia e dia e noite
Toda a minha canção é só para ti, Pomba.

Porque me trouxeste paz, e as palavras da minha voz,
Porque me fizeste ver a beleza de todas as coisas,
Porque enfrentaste tempestades na madrugada dura só para voares para mim,
Porque mostras compaixão quando as canções são desafinadas, tristes e irrequietas,
Porque nasceste para nos mostrar que uma pomba traz sempre paz, bondade e beleza a todos que a vejam voar livre.
Por isto tudo, Pomba, e por mais que possas imaginar,
A minha canção é tua, e só tua.

E hei-de aguentar-nos nas tempestades de madrugadas duras, e hei-de te proteger e coroar-te com flores de cerejeira e retribuir-te a bondade, mesmo que não nos compreendam.
Mas daqui não saio. E a ti, não te deixo.»

E a pomba cantou, respondendo ao rouxinol,

«E eu oiço a tua canção,
Quando a lua transforma o meu branco em prata,
Quando a luz do dia me coroa,
Dia e noite e noite e dia
Só oiço a tua canção.

Porque se a todos trago paz, em ti encontro a minha,
Porque me fizeste ver a vida de todas as coisas,
Porque quando vôo para ti, vôo livre, e sou feliz quando poiso,
Porque consigo ouvir para além das canções desafinadas e tristes, e ver horizontes de melodias alegres,
Por isto tudo, Rouxinol, e mais do que possas imaginar,
Apenas oiço a tua canção.

E hei-de a ouvir e sentar-me neste mesmo galho, sob o granizo e as mandíbulas do sol, cantando contigo,
venha o que vier.»

RSN

1 Kommentar:

Anonym hat gesagt…

Pequenina

Eu bem sei que te chamam pequenina
E ténue como o véu solto na dança, Que és no juízo apenas a criança,
Pouco mais, nos vestidos, que a menina...

Que és o regato de água mansa e fina,
A folhinha do til que se balança,
O peito que em correndo logo se cansa,
A fronte que ao sofrer logo se inclina...

Mas, filha, lá nos montes onde andei,
Tanto me enchi de angústia e de receio
Ouvindo do infinito os fundos ecos,

Que não quero imperar nem já ser rei
Senão tendo meus reinos em teu seio
E súbditos, criança, em teus bonecos!

De: Antero de Quental (Mon Petit Ange)