Donnerstag, 5. November 2009

Homenagens Improváveis



Não presto a devida atenção a quem me a merece. Aqui fica esta homenagem acompanhada de uma pequena lenda chinesa que aprendi nas aulas de Mandarim. Foi-me dita ser a origem do mais importante feriado chinês, o Festival das Luzes Claras em que são honrados os mortos.

Forget Him

Há muito tempo, num dos reinos que viria a formar o Império do Meio, o país que actualmente conhecemos por China, existia um Rei que além da sua Rainha, tinha várias concubinas e filhos vários. Aquando da sua morte, uma concubina ciosa dos interesses do seu filho, através das teias da intriga conseguiu afastar do poder o Príncipe filho da Rainha, legítimo herdeiro ao trono.

Usurpado, o Príncipe fugiu para um exílio em terras desoladas e distantes juntamente com o seu séquito de fiéis. Durante anos vaguearam e um dia em que atravessavam terras ermas, fustigado pelo cansaço e pela fome, o Príncipe lamenta-se faminto ao seu mais fiel General.

Motivado pela necessidade do seu Senhor, o fiel General percorreu extensas distâncias procurando caça sem nada encontrar. Eis que quando o Príncipe já havia perdido a esperança que o seu fiel súbdito lhe conseguisse algum alimento, que este surge com a mais improvável das oferendas, uma refeição de carne.

Esfaimado, o Príncipe devorou a carne sem fazer perguntas até que finda, insatisfeito, pediu mais ao fiel General. Perante este pedido, o General destapa a coxa lancetada e diz calmamente, “Se o meu Príncipe quer mais carne, posso cortar mais um pouco.” Perante esta demonstração, o Príncipe rapidamente se refreou.

Anos passaram e o Príncipe e o seu séquito reuniram as forças necessárias para recuperar o poder anos antes usurpado. Assim foi, e o Príncipe regressou ao Reino como Soberano coroado em glória.

No frenesim da vitória e do regresso ao conforto após anos de sacrifício e privação, o Príncipe e o séquito que se tornou sua corte rapidamente entraram numa vida de luxo decadente e deboche no fausto do Palácio. Confrontado com esta situação, o enfermo General renegou a vida na corte e foi viver com a sua mãe como homem pobre, seguindo o estilo de vida a que se tinha habituado durante os anos do exílio.

Não satisfeito com esta situação, o agora Rei tentou conceder as maiores honras de Estado ao antigo General. Recebendo as oferendas do seu Senhor, o General agradeceu mas recusou todas as honras bem como regressar ao Palácio.

Não aceitando esta decisão por parte do seu súbdito, o Rei enviou um séquito militar para persuadir o seu querido General. Sabendo das intenções do seu Soberano, o General fugiu com a sua mãe para a Floresta na Montanha.

Ofendido com a fuga do General, o Rei enviou o exército para o ir resgatar à velha Floresta para que este aceitasse as honras oferecidas. O exército calcorreou a Floresta e encurralou o General na Montanha.

Fracassando em encontrá-lo e com a aprovação do Soberano, o exército decidiu cercar e incinerar a Floresta para que o velho General ao fugir das chamas, fosse finalmente resgatado para poder receber as honras devidas que havia recusado.

Mas enquanto a Floresta ardia, o General tardava em aparecer e quando finalmente ficou toda a Montanha coberta por nada mais do que cinzas, o General continuava desaparecido.

Inconformado, o Rei ordenou a procura dia e noite pela Montanha. Ao entrarem numa gruta, encontraram por fim o antigo General agora calcinado abraçado à sua velha mãe.

Consumido pelo remorso, o Rei declarou então três dias sem uso do fogo para honrar a memória do seu mais fiel súbdito.

Infelizmente fui certamente pouco rigoroso na reprodução da mesma mas tentei ser o mais literal possível em relação à versão que me foi instruída em respeito ao Professor Lu Yanbin. Mas se tiverem interesse podem sempre ver uma pequena variação da mesma lenda mais historicamente detalhada aqui mas na minha opinião penso que o tom que usei foi bem conseguido baseado no meu parco contacto directo com a cultura asiática.

Nota: Podem ver a imagem completa de uma gravura em panorama “Ao longo do Rio durante o Festival das Luzes Claras”, réplica datada do século XVIII do original do século XII carregando na imagem.

Keine Kommentare: