Samstag, 15. Mai 2010

Sobre o Preservativos "ao" Papa em Portugal

Nestes tempos tão diletantemente «fin de siècle» é de louvar que uma iniciativa unicamente suportada pela sociedade civil alcance tal magnitude, não só em quem simplesmente atesta o seu apoio, mas principalmente em todos aqueles que a levaram a cabo transformando uma vontade expressa numa realidade consumada.

Por todo o mundo de cultura ocidental a crise é cada vez menos de valores (se alguma vez foi) e sim cada vez mais de inacção. A grande massa urbana e de rede enclausura-se no seu próprio egocentrismo e deixa-se diluir na turba geral sem objectivos e na quase ausência de ideais, agindo no seu interesse e ignorando a dimensão democrática e interventiva em que oficialmente se encontra.

E é precisamente pelos factores agora expostos que eu queria reforçar a relevância que a iniciativa «Preservativos "ao" Papa em Portugal» teve. O movimento consegiu, à data, ter 15335 membros no grupo do facebook de entre as quais algumas centenas demonstraram ainda o seu apoio e entrega efectiva ao participar activamente nas distribuições de preservativos que tiveram lugar em Lisboa e no Porto. Todos estes simpatizantes e voluntários, a quem orgulhosamente posso chamar de colegas e amigos, tomaram iniciativa, agiram de forma livre e consciente e exerceram o dom da cidadania que tantas vezes é descurado. Abraçamos todos, nos passados dias 11 e 14, a verdadeira e completa denominação de πολιτικὸν ζῷον com toda a carga que esta acarreta.

Importa por isso que este acto seja visto não apenas como importantíssimo pelas questões de saúde pública que se propôs a difundir mas como um fenomenal exercício de liberdade de expressão e opinião aliado a um forte desejo de participação activa na sociedade. Intervenção essa activa, cívica e política.

Cada vez mais me é dado a perceber que o método e forma de fazer Política tem de passar às mãos da sociedade civil de forma responsável mas desinstrumentalizada há que criar o espaço e fomentar o desenvolvimento de iniciativas, movimentos, correntes de opinião etc., mas há ainda que atentar nos objectivos de primeira linha destas novas formas de viver a política e a afirmação democrática, há que desconstruir o velho mito de que a política e as conquistas democráticas se fazem unicamente pela obtenção de novos poderes ou contrapartidas e renová-lo por um espírito intervencionista objectivo que leve a que cada cidadão, cada grupo ou cada unidade social produza concretamente alguma acção ou efeito no meio que o rodeia. É pois neste espírito que se enquadrou a actividade do «Preservativos "ao" Papa em Portugal» que, num corte limpo, levou a cabo as acções concretas a que se propunha sempre de forma extremamente coesa e democraticamente participativa e rentabilizando sinergias.

É por tudo isto que fica o meu profundo e sincero agradecimento a todos aqueles que, comigo, participaram neste projecto. E tudo farei para que não se perca o enorme potencial humano e de intervenção que se aglutinou nesta causa esperando sinceramente que sempre que tal seja necessário seja este grupo de pessoas chamado a intervir e a novamente desenhar o seu papel na sociedade.

2 Kommentare:

frederico prometeu sol hat gesagt…

Amén

Pedro A. Cosme hat gesagt…

Nota:

πολιτικὸν ζῷον

traduz-se por:
animal (ser vivo) político

Definição dada por Aristóteles no Livro I da Política