Samstag, 22. Januar 2011

Reflicta-se e discuta-se.


Caro Ars Vitae,

Caros leitores,

Gostava de agradecer, mais uma vez, o convite que me foi feito pelo meu amigo Filipe, para que deixasse de ser alguém que aprecia, observa e colhe o produto por vós exposto e passar a ter um pequeno canteiro para cultivar algumas plantas neste tão grande Jardim.

É para mim uma grande honra fazer parte deste – agora, nosso ARS VITAE. Procurarei sempre manter a grandiosidade e elevação das discussões a que vós nos habituais, embora o não garanta nunca (!). Espero que gostem da minha estadia por cá. E aproveito para começar:


Em vésperas de Eleições para a Presidência da República Portuguesa pedem que reflictamos. Hoje é "Dia de Reflexão" - Façamos pois a vontade aos nossos donos e senhores, os nossos governantes:

Quando se fala em Monarquia vem sempre aliada alguma confusão e mistura ou com contos de fadas e histórias de encantar ou com eventos que embora tenham acontecido, não são nossos: Não são Portugueses.

Por ora, resta-me deixar de parte algumas precisões históricas que se vêem tornado verdades na cabeça de muitos - não se sabe bem como (será?), para entrar numa exposição residual e muito introdutória sobre a Monarquia em Portugal.

Como principio de conversa, devo dizer que não venho aqui expor os motivos de meus ódios para com a república; mas não posso deixar de admitir uma grande indignação que tenho para com esta última. A título de exemplo, infelizmente, o “Portugal” que foi fundado no Séc. XII desapareceu em 1910. Desapareceu até hoje. Hoje, o “país à beira mar plantado” tem um outro nome, chama-se República Portuguesa. Para mim, todos os substantivos deste tipo carregam sobre si um peso histórico e devem manter-se o mais fieis possíveis, de geração em geração.

Confesso tal indignação aqui neste jardim na certeza de que todos os nossos leitores tem uma sensibilidade não só histórica como estética, e que lhe dão a esta o seu devido destaque. Entendo que se desvirtuou nome tão grandioso para algo relativamente banal, passamos de Portugal para República Portuguesa. Por outro lado, cometeu-se o erro crasso de confundir o nome de um povo e de um Estado com o próprio Regime. Minhas Senhoras e Meus Senhores, o nome oficial do pais dos portugueses é esteticamente mau e ao mesmo tempo renega toda a história de um povo que antecede a implantação do regime republicano, é esta a verdade. Mas, nem tudo é mau: o povo lusitano nunca esqueceu o nosso verdadeiro nome e a prática tem vigorado contra legem, no sentido de fazer juz ao nome: Portugal.

Acabado o desabafo cumpre passar à matéria que me aqui trás hoje.

Monarquia é pois, o Regime politico que reconhece na autoridade Real a Chefia de um Estado. O Rei representa todo o passado colectivo e a herança cultural de uma Nação.

(Não se tornará necessário explicar que é obvio que não existe nenhuma incompatibilidade entre democracia e Monarquia constitucional. Relembre-se que Monarquia não simboliza despotismo, mas caso sobrem dúvidas quanto a este ponto a ele retomarei numa próxima oportunidade).

Quanto a mim, é público que defendo a Monarquia Portuguesa: uma Res Publica com Rei, de acordo com a racionalidade e liberdade da Pessoa Humana, com os limites naturais da condição do Homem e do respeito pela Constituição Democrática de um Estado de Direito. Trata-se de querer que, a mais alta patente da nação, seja educada desde terna idade para se despojar de si e dos seus desejos pessoais, para servir em permanência e sem cessar o seu povo e os seus superiores interesses. De querer que o nosso mais alto representante tenha uma instrução que prepare para desprendimento do que é Próprio em função do Colectivo. Mas não só. É complementada por uma aprendizagem da arte da diplomacia, de reforço da história e da cultura portuguesa, do conhecimento deste Povo e das suas potencialidades; através de situações reais e concretas, que lhe são mostradas pelos seus formadores e por seu pai, em especial, que se vê a braços com os problemas efectivos do País.

No plano interno, o Rei e a Família Real são elementos muito importantes (e a meu ver imperiosos) enquanto símbolos e reforço da livre afirmação da identidade do povo português, nas suas diversidades e nas suas potencialidades regionais e locais. O Rei assegura a identidade e a soberania portuguesa de forma firme, estável e coesa no quadro das relações internacionais. Por fim, surge como baluarte na ligação intima que todos os portugueses têm, com os países falantes de língua portuguesa que nos poderiam propiciar grandes momentos de diversidade cultural e de crescimento mutuo, tanto na África como na América, Oceânia e até na Índia.


Meus amigos: defendo um Rei que é escolhido pelos próprios titulares da soberania: o povo, ao contrario de outros regimes monárquicos. Repare-se que em Portugal o monarca foi sempre aclamado em Cortes, nunca vigorou entre nós a máxima Le Roi Est Mort, Vive Le Roi!, nunca, entre nós, reinou alguém que não tenha sido pelos portugueses aprovado.


No nosso tempo, o Rei seria factor de grande estabilidade politica e de continuidade, na medida em que a sua magistratura seria completamente independente da “Partidocracia” e dos grupos de pressão económico-financeiros ou de qualquer outra ordem. A figura real está construída, exclusiva e completamente, para Portugal e para os Portugueses através de exercício do poder arbitral e moderador por forma a garantir o funcionamento harmonioso e democrático das instituições. Sempre de forma livre, desinteressada e completamente preocupada com os que mais carecem de protecção! Repare-se que o Rei não Governa.


Para finalizar este pequeno preambulo, não posso deixar de mostrar factores não meramente culturais e políticos, já que a Monarquia constitui uma forma de organização política mais económica do que a República. Numerosos estudos comprovam que a Presidência da República portuguesa custa 5 vezes mais que a Casa Real Espanhola, e que portanto diariamente os portugueses estão a pagar mais para a manutenção de um regime podre que se vem deteriorando, do que teria que dispendar para os encargos do Estado numa Monarquia.
(ver aqui)


Escrevo estas palavras com intenção de ser um texto de carácter mais técnico e racional, e menos empolado (como provavelmente esperariam) com vista a facilitar futuras discussões que certamente se seguirão!

“A história diz-nos quem fomos, mas é a política que nos diz o que iremos ser.” (J. Hernano Saraiva): Queira deus que Portugal se reencontre, na sua verdadeira identidade. Queira o povo portugues que nos tornemos de novo uma Monarquia!

Viva S.A.R. El-Rey de Portugal!

Bem hajam,

HSC

12 Kommentare:

Leandro Alvor da Silveira hat gesagt…

Muito provocador, amigo Hélder...

Realmente, a questão financeira é um grande argumento que nunca tinha ouvido.

Creio que o argumento mais inteligente que alguém pode usar - e tu usaste, de facto! - para se sustentar que um sistema de governo "coroado pela Coroa" ainda pode ter um papel hoje em dia é o da educação do monarca, que o prepara desde o dia que nasceu para preservar de modo imparcial e ponderado o Direito e os direitos dos seus súbditos, melhor dito, dos cidadãos do seu Reino, assim o preservando como um Estado de Direito democrático.

aliás, esta noção está presente em todas as monarquias europeias vivas. Na terceira estrofe do hino britânico, lê-se e canta-se:
« May she defend our laws,
And ever give us cause
To sing with heart and voice
God save the Queen »

na Brabançonne, o hino belga, lemos:
«Ó Bélgica, ó mãe querida,
(...)
Tu viverás sempre grande e bela
E tua invencível unidade
Terá como divisa imortal:
O Rei, a Lei, a Liberdade»

consigo compreender que noutros países estas palavras façam sentido.
Em Portugal, não. É certo que, como disseste, houve poucos reis portugueses que não contaram com o apoio - ou com a inércia permissiva... - do povo.
Mas enquanto que noutros países, até na França de Luís XVIII, os monarcas se esforçavam pela democratização dos seus países, e se viam como autênticos garantes das instituições políticas, em Portugal, desde que temos sequer constituições, isso nunca aconteceu.

Bem pelo contrário. Se achamos que a Coroa alguma vez será livre de influências partidárias, estamos enganados - os partidos políticos portugueses manipulavam os monarcas sucessivamente, e estes deixavam-se manipular com receio de represálias na imprensa e nos discursos proferidos nas Cortes. Houve raras e excelentes excepções a isto: D. Maria II fez um esforço assinalável para ser a Rainha Victoria portuguesa, promovendo o desenvolvimento do Império e do funcionamento são e democrático do parlamento e do governo; D. Pedro V também. Mas em termos genéricos, a Monarquia portuguesa ficou marcada, nos últimos 100 anos antes da sua queda, por institucionalizar práticas antidemocráticas e inconstitucionais, como governos sucessivos sem legitimidade nenhuma que legislavam - não dispondo de poderes para isso, nos termos da Carta de 1826 - e que não respondiam perante as cortes - como o prescrevia a Carta.. - que a Coroa dissolvia sistematicamente e por períodos indeterminados de tempo precisamente para que não houvesse oposição.
Tentativas de estabilizar a prática política nacional? sem dúvida... mas o crescimento económico e o desenvolvimento de infra-estruturas e linhas férreas não tiraram disto nenhuns benefícios. Nem mesmo as nossas relações internacionais: a nossa cedência e passividade face ao Ultimato britânico, ao contrário do que se costuma supor, não teve causa nas afinidades familiares entre as casas reais portuguesa e inglesa, mas na incapacidade de chegar a decisões razoáveis no Governo e no conhecimento deste que, mesmo que fizesse aquele disparate, não cairia por moção de censura... já que "convenceriam" o Rei a dissolver as Cortes antes que isso acontecesse.

Leandro Alvor da Silveira hat gesagt…

Em suma: Em Portugal, a Monarquia nunca ajudou a democratizar o país; e mesmo em França ultra-republicana, onde terminaram a dinastia dos Bourbouns em 1830, é reconhecido que foi pelo papel moderador e inteligentemente jogado de Luís XVIII que o respeito pelas instituições democráticas se enraizou no pensamento político do povo francês. Cá, nada disso.

Quanto ao argumento da tradição, é isto que penso.
De resto: Mais do que defendermos em abstracto a monarquia ou a república, devemos perguntar-nos que poderes estaríamos dispostos a reservar para alguém que não goza de legitimidade democrática.

Se é para termos um rei ornamental como no Reino Unido, então sejamos francos, ó Hélder: Em Portugal, isso seria inútil. De nada vale uma figura "moderadora" se não tem poderes para... moderar e impor a ordem nos restantes órgãos de soberania. Não somos um povo que tenha relações platónicas com os seus governantes.

Por outro lado... se é para termos um rei com os mesmos poderes que o PR hoje tem... não será arriscado atribuir a um único indivíduo, durante o tempo indeterminado do seu reinado, poderes para perdoar penas, vetar,dissolver o parlamento, e nomear e demitir governos discricionariamente, e sem controlo político?... a mim parece-me que sim...

André Cunha hat gesagt…

Na minha opinião, bastando para isso olhar brevemente para os resultados eleitorais, verifica-se que o PR é um verdadeiro Rei nos argumentos descritos pelo Hélder.

De qualquer forma, não pretendo distender-me nesta discussão e quero apenas sublinhar nos próprios argumentos desta dissertação, aparentemente benéficos, aquilo que me motiva a mim e certamente outros contra a monarquia.

O espírito que motivou os republicanos em Portugal, é imbuído precisamente da necessidade de quebra com esse "passado colectivo e a herança cultural de uma Nação" que podemos chamar tradição portuguesa.

Ora, eu pessoalmente, tenho orgulho no desaparecimento de grande parte dessa tradição, lamentando no entanto o forte enraizamento de alguns aspectos que continuam hoje e sempre a arrastar a qualidade de vida e a hipotecar a felicidade destas pessoas pela merda deixada pela tradição.

Mais, antes de defender a tradição, podemos questionar o que raio é isso? Portugal tem nas suas raízes, a integração na altura ainda República de Roma e podemos assim dizer, que na tradição desta República, Roma não tem Reis e Portugal também não e podemos ainda considerar que todos os governantes de origem monárquica desde então, começando pelo próprio César, são contra a tradição republicana.

Na prática não existe qualquer incompatibilidade entre a monarquia e democracia, já no conceito... Quer gostemos quer não, a Monarquia é um regime que nasce da atribuição do poder de governação por mérito divino a um conjunto de pessoas familiares entre si. É o governo de um punhado de famílias.

E ainda que nos dias de hoje, as coisas estejam distantes desse conceito, ele está lá e faz parte da tal tradição.

O argumento da educação também pressupõe falsas premissas. Como é possível assumir que uma pessoa educada nessas condições, tenha a mínima noção do espírito do povo que governa? O povo é feio, porco e mau e come bolo-rei de boca aberta.

Prefiro um "Rei" eleito que saia de um qualquer sector social e sabemos que isto varia. Prefiro uma personalidade educada pela realidade em que a plasticidade da identidade do povo e do país varia de acordo com a escolha desta personalidade e não numa espécie de criatura educada em bolha especial porque pelo fecho educacional do Monarca descrito pelo Hélder, até podemos começar por ir buscar o primeiro Monarca à Casa Pia.

Precisamente pelas condições da sua educação especial e vida privilegiada no seio das elites, não há Rei que possa ser um fiel representante da população. Pior, o Rei nestes termos passa a ser um fantoche das elites sociais que o educaram, mais uma vez caindo no problema do governo das famílias.

Quanto ao preço da Monarquia, gostava de ver esses números. Porque não é necessário lembrar que em tudo na vida existem custos directos e custos indirectos e como tal gostava de saber que custos estão incluídos nessa fraca contabilidade.

André Cunha hat gesagt…

Além de que depois de ouvir a Simone de Oliveira na defesa do Cavaco, diria que Portugal não tem Reis, é mais Professores:

"Nasci aqui e quero morrer aqui. Senhor professor, tome conta de nós."

André Cunha hat gesagt…

Já agora, se o Rei é de facto uma espécie de encarnação cultural colectiva, porque é que as salvas ao mesmo parecem padecer de um forte foco no indivíduo?

"Viva S.A.R. El-Rey de Portugal!"

Hélder Santos Correia hat gesagt…

Que grande debate de ideias que aqui surgiu!
Filipe, apreciei muito a resenha hinológica que nos propiciaste! Foi com grande deleite que a li e reli.

Quanto à questão do Ultimatum, devo dizer-te que é uma realidade que há muito me tem posto a pensar. Que poderia, D. Carlos, ter feito para obviar aquele desfecho? Que outra solução teria sido plausível e como? E face às não respostas conseguidas, acabei por admitir que se tratou de uma inevitabilidade histórica, face à realidade da época. Pelo que qualquer rei, regente, governador ou presidente teria tomado a mesma decisão.
Por outro lado, se é verdade que a decadência da monarquia se deveu à falta de um pulso de ferro Real, que não conseguiu por em ordem todos os “pavões parlamentares”, não nos podemos esquecer de que o que sentia na época não era de todo igual ao que se sente hoje. Falava-se em matar Reis, em assassinar Chefes de Estado! Lembra-te do assassinato do Sarajevo no Império Austro-Húngaro, e posteriormente do Regicídio de 1908 em Portugal. Os tempos revolucionários não abonavam de maneira nenhuma a uma politica forte por parte dos monarcas. Hoje já não é assim.

Por outro lado, se é verdade que no plano interno (mas principalmente na metrópole cosmopolita de Lisboa) havia uma certa descrença na instituição real, nunca Portugal, esteve tão presente nas relações diplomáticas europeias até então. Grande diplomata foi D. Carlos, isso ninguém o pode negar.

Quanto ao problema dos Poderes, isso sim é a verdadeira questão! Infelizmente já vi que há muitos monárquicos que passam por ela e fingem não a ver, mas esta é que é o busílis do problema.

Na minha maneira de ver, não seria nunca um Rei ornamental como sucede na Grã-Bretanha. Como disse, supra, trata-se de um Rei-àrbitro que arbitra o jogo politico. Um rei que não pode ter medo de sujar as mãos na terra para resolver os problemas concretos do país sem porém entrar na esfera da governação. Um chefe de estado com os poderes do Presidente da republica, mas que os exerce de forma ainda mais ponderada e responsável, inclusivamente o poder de dissolver o Parlamento.

Perguntas, agora, tu: Como poderá um Rei dissolver um órgão de emana da vontade popular e “está cheio” da legitimidade democrática?

O Rei é a figura mais representativa, meu caro! É precisamente por não ser eleito, que o Rei é representativo de toda a população. Ele não é eleito por uma parte, nem proposto por nenhum partido.

O Rei é proposto pela História de uma Nação e deve-lhe obediência. Citando alguém: “Por não ser eleito, o Rei é o único que poderá dizer que representa todos, pois foi para isso que foi formado, pois foi por isso que nasceu.” Repara no exemplo do futuro presidente da república. Ele representa todos os portugueses onde? Como é que o pode se mais de metade ou não foi votar ou votou branco ou nulo? Como pode representar todos nós com o seu discurso após contagem de votos?! Se ele representa a nação inteira, mostra-me como, não consigo perceber!
É este o chefe de Estado que queremos? Fraccionário? Partidário? Dependente?

“O Rei é assim o garante da participação cívica da sociedade civil e da igualdade de oportunidade de todas as organizações politicas, sociais ou profissionais no exercício da sua acção e na prossecução dos seus objectivos, de acordo com o rigoroso cumprimento da Lei e da Constituição. Como a mais importante preocupação do Rei é a resposta satisfatória da participação cívica aos problemas da sociedade, ele tem pela sua preocupação permanente sobre todas as questões, associada á sua respeitabilidade e afectividade popular, um papel determinante no rigor com que as organizações políticas, sociais e profissionais dão resposta efectiva aos problemas de toda a sociedade. Promove a participação, é exigente perante as respostas.” (José de Andrade)

Hélder Santos Correia hat gesagt…

Relativamente à questão dos indultos. Eu gostava sinceramente que de uma vez por todas se acabasse com as más tradições que vêem do Absolutismo. Nem Rei, nem presidente, nem governo nem governador civil deveriam ter poderes para tal. De uma vez por todas, peço que se respeite o Principio da Separação dos Poderes, quanto a este ponto importa. Era bom que todos percebessem a promiscuidade disto.

André, discordo completamente quando dizes que “o conceito, ele está lá e faz parte da tal tradição”; por um motivo muito simples: A História é a história, e aquilo que foi já não é. Hoje a monarquia constitucional está claramente dissociada das formas despóticas de exercício do poder, e embora tenham havido ligações históricas isso não pode nunca querer dizer que ainda lá esteja tacitamente. Repara que os ideais da República são uns, e a prática leva a afirmar com toda a certeza que a maior parte dos regimes totalitários e repressivos foram sob o manto desta, e nem por isso eu posso dizer que a republica não se coaduna com a democracia. Trata-se de um problema que não pode ser visto assim; em abstracto.

Concordo contigo num ponto: pode haver algum vicio na educação do príncipe. Admito por petição de principio. Mas caro André, hoje em dia a globalização, a educação generalizada, leva-me a dizer com quase toda a certeza de que se trata de um problema académico, pelo que muito dificilmente se verificaria na prática.

As salvas relativas ao Rei, são assim por costume. E não me choca nada que se salve dessa forma uma pessoa que é representante de todos, trata-se de uma mera evocação. Pessoalmente, preferiria (à semelhança da Bélgica): S.A.R. El-Rey dos portugueses. O valor é meramente simbólico, já que a materialidade relevante se encontra presente em ambas.

Quanto ao comentário da Dona Simone, (em tom de brincadeira) André “perdoa-a ela não sabe o que diz”! ☺

frederico prometeu sol hat gesagt…

"O Rei é a figura mais representativa, meu caro! É precisamente por não ser eleito, que o Rei é representativo de toda a população. Ele não é eleito por uma parte, nem proposto por nenhum partido."

Este teu argumento é non sequitur. A figura mais representativa, parece-me claro, será a figura escolhida pelo maior número de pessoas que se digna a escolher. É evidente que esta figura nunca poderá ser absolutamente representativa a menos que todos a escolham como tal.
Perdoa-me se falo por ti, mas o que tu defendes é alguém com legitimidade absoluta. Como consegues tu dar isso a alguém, a priori!? Tu argumentas que é a História que tem a autoridade de arbitrar quem será tal pessoa.
A História não é senão o registo do que pessoas tão ou mais falíveis do que nós fizeram no seu tempo. Tu pedes-me que troque o meu julgamento pelo que foi escrito de pessoas que não conheceram o Mundo como ele é hoje, que não viveram para ver as consequências dos seus actos a longo prazo e que, como é evidente, não eram mais virtuosas do que somos nós hoje. Prefiro antes aprender com os seus erros.

Dizes que a educação do príncipe será tal que fará dele o que ele deve ser, moldado para a sua função. Como podes afirmar sequer que o primogénito será o melhor entre os príncipes? E o melhor da sua família alargada, e o melhor de Portugal inteiro.
Proponho-te o seguinte, vamos educar todos o melhor possível, depois tentamos ver quem é o mais competente. Desses todos, escolhemos o que nos parece o melhor. E admitindo que nos podemos enganar, verificamos ao longo dos anos se concordamos ou não com a escolha que fizemos antes.
Oh...

Hélder Santos Correia hat gesagt…

Caro iko,

trata-se de razões de ordem geral. na prática há várias soluções, e elas seriam seguidas pela população pelos seus representantes! Eu não estou a defender uma monarquia imposta, se dei essa ideia, peço desculpa.
Várias seriam as propostas e todas elas merecem ser discutidas; mas todas elas com plano de fundo democrático. Lembro que disse que defendo uma monarquia ao estilo português, nos termos acima descritos.

Ele não subiria de modo automático, que aliás nunca ocorreu em solo português (volto a frisar); e por outro lado, é completamente compatível a possibilidade de referendos populares quando falecesse o anterior monarca: tanto para referendar o regime ou como até para referendar o próprio príncipe herdeiro! não extrememos, pois, posições.

Hélder Santos Correia hat gesagt…

* escolhidas!

Leandro Alvor da Silveira hat gesagt…

Amigos, sabem que sou republicano e não acho que se justifique hoje ter uma Coroa activa politicamente e com um papel decisivo no nosso sistema de governo - pelos dois motivos essenciais que já referi acima:

1)o nosso país, historicamente, tem-se dado ainda pior com a monarquia que com a república no que diz respeito à salvaguarda de direitos fundamentais e da defesa dos interesses do país.

2) eu pessoalmente, não estaria disposto a aceitar que uma pessoa pudesse exercer poderes "de moderação" durante tempos indeterminados ao estilo da Carta Constitucional. Porque esse dito poder moderador, para além dos evidentes direitos de iniciativa para chamar líderes partidários para que cheguem a consensos, também inclui poderes tão imponentes como o de veto, o de dissolução da AR, demissão e nomeação do governo e indultar e comutar penas. Imaginem que nos calhava um Rei com a personalidade de alguns candidatos presidenciais - digamos, um Alegre ou um Cavaco. teríamos de gramar com a sua incapacidade de gerir e estabilizar forças políticas enquanto tal criatura respirasse. Ou um Rei com a personalidade mega-interventiva "em estilo de moderação" do Mário Soares! Durante o resto da sua vida!... pensem bem nisso.

Contudo, queria só frisar que o Hélder tem razão no aspecto de que um Rei pode gozar simultaneamente de uma "dupla legitimidade" dinástica e democrática.
Na Grécia, nos anos 70, ainda realizou um referendo para que o povo decidisse se, depois da queda da ditadura, queria uma República ou uma Monarquia. Apesar de terem escolhido a primeira, mais de 30% dos gregos teria optado pelo regresso do Rei.
Nalguns países nórdicos, como a Dinamarca e a Noruega, sempre que falece um Rei, um referendo semelhante é realizado, ou o parlamento decide, se o país deverá continuar como Monarquia ou se os tempos mudam.
Acho que estas formas democráticas de sucessão ao trono são perfeitamente compatíveis com o que diz o Hélder.

Queria só deixar a nota de que também um rei pode gozar de legitimidade democrática.

André Cunha hat gesagt…

Para mim, a nível de conceito, a democracia é completamente incompatível com o conceito de monarca e porquê?

Porque tradicionalmente não é nem nunca foi. O conceito de monarquia arrasta consigo a questão da linhagem e da família e ainda que se cubram as vestes de um regime que assenta na sucessão familiar com referendos e outros mecanismos democráticos similares, os envolvidos nessa família, nessa linhagem, têm sempre factores preferenciais para empurrar o eleitorado neste ou naquele sentido.

Mas o pior de tudo, para mim é explicado através de um contra-exemplo: o Presidente nos Estados Unidos, apesar dos poderes vastos que reúne, é primariamente um símbolo de liberdade e liberalismo, é uma mensagem que diz desde cedo que qualquer pessoa, nascida sem qualquer direito de nascimento, pode aspirar a chefiar o Estado, por seu mérito.

E ainda que, este princípio seja utópico, deve ser permanente. A monarquia afirma precisamente o contrário, defende por mais implícito que seja, o direito de nascimento (mesmo que este tenha que ser validado pelas cortes, referendos, pelo papa e pelo Mourinho), está sempre presente, é uma mensagem de derrotismo, de funções naturais, de cada um é para o que nasce... E eu recuso isto, recuso esta mensagem monolítica de uma estrutura social definida à priori pelas circunstâncias, porque infelizmente, na práctica, isto já ocorre de muitas maneiras, sobretudo num país como o nosso, onde se encontram pessoas que "sabem" que nasceram para servir.

Recuso este tipo de mensagem que também se encontra de uma maneira diferente, nos regimes de índole comunista.

Prefiro continuar a viver na ilusão ou utopia, de que "o melhor dos homens" é eleito pelos seus pares pelo seu percurso de vida, pela pessoa que é e se tornou, não pela pessoa que virá a ser.