Montag, 18. Januar 2010

«Vor dem Gesetz» - «Diante da Lei»

Diante da Lei há um guarda. Um camponês apresenta-se diante deste guarda, e solicita que lhe permita entrar na Lei. Mas o guarda responde que por enquanto não pode deixá-lo entrar. O homem reflete, e pergunta se mais tarde o deixarão entrar. “É possível” , disse o porteiro, “mas não agora”. A porta que dá para a Lei está aberta, como de costume; quando o guarda se põe de lado, o homem inclina-se para espiar. O guarda vê isso, ri-se e lhe diz: “Se tão grande é o teu desejo, experimenta entrar apesar de minha proibição. Mas lembra-te de que sou poderoso. Eu sou somente o último dos guardas. Entre os salões também existem guardas, cada qual mais poderoso que o outro. Já o terceiro guarda é tão terrível que não posso suportar seu aspecto”. O camponês não havia previsto estas dificuldades; a Lei deveria ser sempre acessível para todos, pensa ele, mas ao observar o guarda, com seu abrigo de pele, seu nariz grande e como de águia, sua barba longa de tártaro, rala e negra, resolve que mais lhe convém esperar. O guarda dá-lhe um banquinho, e permite-lhe sentar-se a um lado da porta. Ali espera dias e anos. Tenta infinitas vezes entrar, e cansa ao guarda com suas súplicas. Com freqüência o guarda mantém com ele breves palestras, faz-lhe perguntas sobre seu país, e sobre muitas outras coisas; mas são perguntas indiferentes, como as dos grandes senhores, e para terminar, sempre lhe repete que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que se abasteceu de muitas coisas para a viagem, sacrifica tudo, por mais valioso que seja, para subornar o guarda. Este aceita tudo, com efeito, mas lhe diz: “Aceito-o para que não julgues ter omitido algum esforço”. Durante esses longos anos, o homem observa quase continuamente o guarda: esquece-se dos outros, e parece-lhe que este é o único obstáculo que o separa da Lei. Maldiz sua má sorte, durante os primeiros anos temerariamente e em voz alta; mais tarde, à medida que envelhece, apenas murmura para si. Retorna à infância, e, como em sua longa contemplação do guarda, chegou a conhecer até as pulgas de seu abrigo de pele, também suplica às pulgas que o ajudem e convençam ao guarda. Finalmente, sua vista enfraquece-se, e já não sabe se realmente há menos luz, ou se apenas o enganam seus olhos. Mas em meio à obscuridade distingue um resplendor, que surge inextinguível da porta da Lei. Já lhe resta pouco tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências desses longos anos se confundem em sua mente em uma só pergunta, que até agora não formulou. Faz sinais ao guarda para que se aproxime, já que o rigor da morte endurece seu corpo. O guarda vê-se obrigado a baixar-se muito para falar com ele, porque a disparidade de estaturas entre ambos aumentou bastante com o tempo, para detrimento do camponês. “Que queres saber agora?”, pergunta o guarda. “És insaciável”. “Todos se esforçam para chegar à Lei”, diz o homem ; “como é possível então que durante tantos anos ninguém mais do que eu pretendesse entrar?”. O guarda compreende que o homem já está para morrer e, para que seus desfalecentes sentidos percebam suas palavras, diz-lhe junto ao ouvido com voz atroadora: “Ninguém podia pretender isso, porque esta entrada era somente para ti. Agora vou fechá-la”.



Franz Kafka

7 Kommentare:

Unknown hat gesagt…

Inexplicavelmente tocante e próximo

Filipe hat gesagt…

Existe uma palavra para o que queres dizer:

é "kafkaesco". sombrio, absurdo, bizarro, e que, misteriosamente, chama por ti.

Kafka é o único autor, a par de Dante, que deu origem a um adjectivo próprio para designar a sensação profunda e clara que ele transmite aos leitores.

Unknown hat gesagt…

Pode bem ser isso..sabe-se lá

Pedro A. Cosme hat gesagt…

Oh fofinho... Eu assumo que estou confuso eu toda a minha vida (estes longos 20 anos) julguei que o termo era kafkiano e não kafkaesco? Olha tu não me ponhas acordo ortográfico no blog que apanhas!!!

Filipe hat gesagt…

é kafkaesco, amigo cosme - não soa bem porque é uma expressão literária e estrangeira.

...e por isso duvido que fosse acolhida pelo acordo ortográfico!

Pedro A. Cosme hat gesagt…

Mas a minha mamã diz kafkiano e eu fui ver também existe =P. É que o Cosminho não tá habituado a mexer tanto a boca pra dizer kafkaesco, eu no máximo tenho é jogo de garganta...

Por causa das guturais e aspirações no grego obviamente.

Filipe hat gesagt…

deves ter um talento natural para Grego Antigo, Cosme, pelo que te exorto a ofereceres as pérolas dos teus conhecimentos linguísticos a que os queira ouvir;)