Samstag, 27. Februar 2010

Kierkegaard e o existencialismo pessimista

«Ouve os gritos de uma mulher a dar à luz - olha para o sofrimento de um moribundo no seu leito de morte, e depois diz-me se algo que começa e acaba de tal modo pode ser concebido para o prazer.»

Søren Kierkegaard

Anotação:

Kierkegaard é considerado hoje como o pai do existencialismo, tendo dado origem a uma das suas duas grandes vertentes: o existencialismo cristão, por contraposição ao existencialismo ateísta que Sartre, de Beauvoir e outros professaram.
A ambas as visões, são comuns determinados princípios: o de que a essência de um homem é precedida pela sua existência, que forma a primeira ao longo da sua vida; o princípio da ausência de um sentido objectivo da Vida; o desenvolvimento de cada indivíduo como percurso entre que é e quem quer ser, etc.
Kierkegaard coloca particular ênfase neste último aspecto. A sua filosofia baseia-se no conceito de desespero, que o Autor considera o maior pecado mortal, implícito nas Escrituras, já que vacilar no espírito significa abandonar a fé em Deus, ainda que por breves momentos. O desespero é de três tipos: o desespero de querer ser desesperadamente o próprio Eu; o desespero de querer ser desesperadamente o Eu de outro; e o desespero de desesperadamente rejeitar o próprio Eu.
Para Kierkegaard, existe um Eu real e um Eu ideal, que constitui o projecto de vida de cada um (o que em grande medida corresponde ao que afirma Sartre: «L'homme est son propre projet»), e o desespero manifesta-se na tensão entre ambos, que considera uma realidade inevitável, uma maldição humana, um pecado mortal cometido todos os dias. A pressão normal do Existencialismo sobre o indivíduo e o projecto impossível de atingir a sua própria perfeição é particularmente forte em Kierkegaard, como se vê. Para ele, a única cura para o desespero é Deus ou outra fé, na arte ou filosofia ou amizade, por exemplo. Mas aquele persegue o homem e é a sua luta diária.
à luz do que acabei de explicar se pode compreender aquilo que Kierkegaard afirma. De facto, para ele, a vida não é concebida para o prazer, incompatível com o desespero constante de todos. Mas o sofrimento tem sempre de ser combatido, pela cura divina e pela esperança.

Keine Kommentare: