Lenore - EAP
Ah, broken is the golden bowl! the spirit flown forever!
Let the bell toll! -a saintly soul floats on the Stygian river -
And, Guy De Vere, hast thou no tear? -weep now or never more!
See! on yon drear and rigid bier low lies thy love, Lenore!
Come! let the burial rite be read -the funeral song be sung!
- An anthem for the queenliest dead that ever died so young
- A dirge for her, the doubly dead in that she died so young.
"Wretches! ye loved her for her wealth and hated her for her pride,
And when she fell in feeble health, ye blessed her -that she died!
How shall the ritual, then, be read? -the requiem how be sung
By you -by yours, the evil eye, -by yours, the slanderous tongue
That did to death the innocence that died, and died so young?"
Peccavimus; but rave not thus! and let a Sabbath song
Go up to God so solemnly the dead may feel no wrong!
The sweet Lenore hath "gone before," with Hope, that flew beside,
Leaving thee wild for the dear child that should have been thy bride -
For her, the fair and debonnaire, that now so lowly lies,
The life upon her yellow hair but not within her eyes -
The life still there, upon her hair -the death upon her eyes.
Avaunt! tonight my heart is light. No dirge will I upraise,
But waft the angel on her flight with a paean of old days!
Let no bell toll! -lest her sweet soul, amid its hallowed mirth,
Should catch the note, as it doth float up from the damned Earth.
To friends above, from fiends below, the indignant ghost is riven -
From Hell unto a high estate far up within the Heaven -
From grief and groan to a golden throne beside the King of Heaven."
Donnerstag, 25. Dezember 2008
Lenore's Lullaby
Caros Leitores,
Penso que é chegado o momento de vos mostrar algo da minha autoria. É uma musica inspirada no poema "Lenore" de E.A.Poe, que enviarei seguidamente. Peço desde já desculpa pela gravação de fraca qualidade e pela voz enferrujada, que não canta tanto desde que os venerandos mestres das ciências jurídicas a emudeceram com quilos de sabedoria a estudar.
-----------
Newborn child from the night's black womb,
Lawful heir to the throne of gloom,
Shut your eyes to embrace the light.
Dream of me as you dreamt before,
Lulled by me and the diamond shore
Shut your eyes to embrace me tonight.
Sweet dreams, my sweet Lenore.
Dream forever, my sweet Lenore.
Golden soul and golden hair,
No one lived nor died so fair.
Dream of the day when I fell to your charms.
So fall asleep, my sweet Lenore,
Lulled by me and the diamond shore,
Newborn child from the night's black womb,
Lawful heir to the throne of gloom,
Shut your eyes to embrace the light.
Dream of me as you dreamt before,
Lulled by me and the diamond shore
Shut your eyes to embrace me tonight.
Sweet dreams, my sweet Lenore.
Dream forever, my sweet Lenore.
Golden soul and golden hair,
No one lived nor died so fair.
Dream of the day when I fell to your charms.
So fall asleep, my sweet Lenore,
Lulled by me and the diamond shore,
For tonight, you will die in my arms.
Sweet Dreams, my sweet Lenore,
Dream forever, my sweet Lenore.
Dream of me as you dreamt before,
For I will love you - forevermore.
Sweet Dreams, my sweet Lenore,
Dream forever, my sweet Lenore.
Dream of me as you dreamt before,
For I will love you - forevermore.
A solidão em Kierkegaard
"Na tumultuosa vida de de sociedade, é possível pecar por ignorância, mas esse pecado tem desculpa; não assim para aqueles que pecam contra a solidão pacífica, porque esta é sagrada. Tudo quando perturbar a solidão ficará marcado com o sinal da culpa, e o casto comércio do silêncio, uma vez ofendido, nunca mais perdoará."
S. Kierkegaard, O Banquete
S. Kierkegaard, O Banquete
Fragmento de Epicuro
(carta a Meneceu, final)
"A prudência, da qual nascem todas as outras virtudes, revela-se como mais preciosa que a filosofia: ela ensina-nos que não saberíamos viver agradavelmente sem prudência, sem honestidade e sem justiça, e que com estas virtudes não poderíamos viver sem prazer. As virtudes, na verdade, são da mesma natureza que a vida com prazer, e a vida com prazer é indissociável delas.
(...)
Assim viverás tu como um deus entre os homens - porque o homem que vive de bens imortais não tem nada de comum com um mortal."
-Epicuro
"A prudência, da qual nascem todas as outras virtudes, revela-se como mais preciosa que a filosofia: ela ensina-nos que não saberíamos viver agradavelmente sem prudência, sem honestidade e sem justiça, e que com estas virtudes não poderíamos viver sem prazer. As virtudes, na verdade, são da mesma natureza que a vida com prazer, e a vida com prazer é indissociável delas.
(...)
Assim viverás tu como um deus entre os homens - porque o homem que vive de bens imortais não tem nada de comum com um mortal."
-Epicuro
Correspondência Natalicia
Deixei hoje o seguinte comentário neste artigo de blog, da autoria do professor e filósofo Desidério Murcho:
http://dererummundi.blogspot.com/2008/12/liberdade-e-preconceito.html
Deliciem-se (ou não) com o comentário e comentes por sua vez. Um feliz Natal a todos
Se é certo que as declarações do Papa incomodam alguns indivíduos (homossexuais ou não) e que certos homossexuais incomodam muitas pessoas (católicos e não só),
a verdade é que existem ainda as declarações que conseguem incomodar ambos os lados. É pelo menos assim que me sinto face às afirmações do Professor,
gostaria por isso de deixar patente a mina ideia sobre o assunto.
Primeiro gostaria de salvaguardar que uma relação, ou mesmo "maneira de ser", homossexual não se resume ou esgota em pénis, anûs e interacções entre estes.
Um homossexual não o é exclusivamente por se entregar a situações prazenteiras com finlandeses altos ou angolanos avantajados, da mesma forma que seria chocante para a maioria heterossexual
afirmar que a emotividade destes se resume a vaginas ocupadas!
Em segundo lugar (este sim um tópico mais sério) queria fazer um reparo à opinião exposta pelo Professor. Refere que não devem ser procuradas normas morais na natureza mas sim no pensamento humano.
E não é o pensamento senão parte integrante, estruturante e procedente da natureza humana?
É neste ponto que discordo do Professor, recorrendo ao seu exemplo, não nos damos a prazeres na rua exactamente porque é da nossa natureza não o fazer. A meu ver, a questão da tensão deve exactamente ser vista como uma tensão e não como uma contradição:
sermos culturais advém da nossa natureza e a cultura condiciona a nossa natureza. Em última análise não passa de uma auto-regulação natural.
Faz, desta forma, todo o sentido procurar vectores morais na natureza (em particular na humana mas não só).
Posso não concordar com a forma como as afirmações do Sumo Pontífice abordam o tema da homossexualidade mas não me consigo opor ao "método moral" que estas apregoam.
http://dererummundi.blogspot.com/2008/12/liberdade-e-preconceito.html
Deliciem-se (ou não) com o comentário e comentes por sua vez. Um feliz Natal a todos
Se é certo que as declarações do Papa incomodam alguns indivíduos (homossexuais ou não) e que certos homossexuais incomodam muitas pessoas (católicos e não só),
a verdade é que existem ainda as declarações que conseguem incomodar ambos os lados. É pelo menos assim que me sinto face às afirmações do Professor,
gostaria por isso de deixar patente a mina ideia sobre o assunto.
Primeiro gostaria de salvaguardar que uma relação, ou mesmo "maneira de ser", homossexual não se resume ou esgota em pénis, anûs e interacções entre estes.
Um homossexual não o é exclusivamente por se entregar a situações prazenteiras com finlandeses altos ou angolanos avantajados, da mesma forma que seria chocante para a maioria heterossexual
afirmar que a emotividade destes se resume a vaginas ocupadas!
Em segundo lugar (este sim um tópico mais sério) queria fazer um reparo à opinião exposta pelo Professor. Refere que não devem ser procuradas normas morais na natureza mas sim no pensamento humano.
E não é o pensamento senão parte integrante, estruturante e procedente da natureza humana?
É neste ponto que discordo do Professor, recorrendo ao seu exemplo, não nos damos a prazeres na rua exactamente porque é da nossa natureza não o fazer. A meu ver, a questão da tensão deve exactamente ser vista como uma tensão e não como uma contradição:
sermos culturais advém da nossa natureza e a cultura condiciona a nossa natureza. Em última análise não passa de uma auto-regulação natural.
Faz, desta forma, todo o sentido procurar vectores morais na natureza (em particular na humana mas não só).
Posso não concordar com a forma como as afirmações do Sumo Pontífice abordam o tema da homossexualidade mas não me consigo opor ao "método moral" que estas apregoam.
Donnerstag, 11. Dezember 2008
δεμος και δειμος
Caríssimos,
não sendo este um blog proeminentemente político, gostaria de tecer as minhas considerações sobre os recentes acontecimentos na minha amada (se bem que à data platonicamente) Grécia.
Aqueles que minimamente me conhecem e que poderiam julgar que a minha orientação política seria a de condenar o motim e a sublevação, vou, com as minhas desculpas, desapontar.
Com efeito não só aceito e compreendo a revolta, porque ao fim do sexto dia consecutivo considero-a tal, como a acho necessária e expectável. Não se trata de nada mais que a Democracia em todo o seu poder, simultâneamente glorioso e assustador.
Tal como Aristóteles nos ensina no livro V da Política as causas de sublevações são variadas, e ainda mais num regime democrático onde a liberdade individual é venerada e acentuada. Estas revoltas contudo não são por mim vistas como nefastas na generalidade mas com um bem que amiúde vem repor a boa governação ou exigir e principiar a acção da justiça quando esta é inexistente.
É aliás salutar que tais eventos aconteçam numa altura em que a Europa se acomodou na sua democracia (muitas vezes à sombra dos EUA que tendo um sistema político invejavelmente utópico não são uma Democracia mas sim uma Républica) não esperando, prevendo e ainda menos desejando uma real intervenção da massa social que em teoria a compõe. Cabe ao estrato social de suporte dar provas da sua existência e poderio. Tendo, dentro deste, os individuos mais esclarecidos e conhecedores (dos quais a juventude estudantil é um exemplo) o dever e obrigação morais e mesmo éticos de alertar e conduzir a contestação, relembrando Sócrates na sua apologia: "espicaçar" os espípiritos.
Como foi já referido nos media o caso do assassinato do jovem de 15 anos não foi mais que o acender de um barril de pólvora que permitisse e inflamasse o demos para que este se demonstrasse pela força, único recurso disponível.
O tema era já referido na Política:
«As alterações de regime podem surgir por não se atender a minudências. Chamo "minudências" porque, muitas vezes não nos damos conta que o desdém de pormenores ínfimos acarreta uma grande revolução nas leis e nos costumes.» Aristóteles - Política, V 1303a 20
Considero portanto que os acontecimentos na Grécia são perfeitamente compreensíveis, e mais espero sinceramente que resultem em algum efeito prático e visivel. Sendo que não conhecendo todo o panorama político grego não faz sentido pronunciar-me sobre quais os melhores resultados, queria apenas mostrar o meu apoio intelectual e a minha solidariedade para com os revoltosos e expressar a minha fé em que as suas acçõas não sejam totalmente em vão. Pois voltando a Aristóteles:
«As revoltas nascem de minudências mas não visam minudências: sempre grandes objectivos.» Aristóteles - idem, V 4.1
não sendo este um blog proeminentemente político, gostaria de tecer as minhas considerações sobre os recentes acontecimentos na minha amada (se bem que à data platonicamente) Grécia.
Aqueles que minimamente me conhecem e que poderiam julgar que a minha orientação política seria a de condenar o motim e a sublevação, vou, com as minhas desculpas, desapontar.
Com efeito não só aceito e compreendo a revolta, porque ao fim do sexto dia consecutivo considero-a tal, como a acho necessária e expectável. Não se trata de nada mais que a Democracia em todo o seu poder, simultâneamente glorioso e assustador.
Tal como Aristóteles nos ensina no livro V da Política as causas de sublevações são variadas, e ainda mais num regime democrático onde a liberdade individual é venerada e acentuada. Estas revoltas contudo não são por mim vistas como nefastas na generalidade mas com um bem que amiúde vem repor a boa governação ou exigir e principiar a acção da justiça quando esta é inexistente.
É aliás salutar que tais eventos aconteçam numa altura em que a Europa se acomodou na sua democracia (muitas vezes à sombra dos EUA que tendo um sistema político invejavelmente utópico não são uma Democracia mas sim uma Républica) não esperando, prevendo e ainda menos desejando uma real intervenção da massa social que em teoria a compõe. Cabe ao estrato social de suporte dar provas da sua existência e poderio. Tendo, dentro deste, os individuos mais esclarecidos e conhecedores (dos quais a juventude estudantil é um exemplo) o dever e obrigação morais e mesmo éticos de alertar e conduzir a contestação, relembrando Sócrates na sua apologia: "espicaçar" os espípiritos.
Como foi já referido nos media o caso do assassinato do jovem de 15 anos não foi mais que o acender de um barril de pólvora que permitisse e inflamasse o demos para que este se demonstrasse pela força, único recurso disponível.
O tema era já referido na Política:
«As alterações de regime podem surgir por não se atender a minudências. Chamo "minudências" porque, muitas vezes não nos damos conta que o desdém de pormenores ínfimos acarreta uma grande revolução nas leis e nos costumes.» Aristóteles - Política, V 1303a 20
Considero portanto que os acontecimentos na Grécia são perfeitamente compreensíveis, e mais espero sinceramente que resultem em algum efeito prático e visivel. Sendo que não conhecendo todo o panorama político grego não faz sentido pronunciar-me sobre quais os melhores resultados, queria apenas mostrar o meu apoio intelectual e a minha solidariedade para com os revoltosos e expressar a minha fé em que as suas acçõas não sejam totalmente em vão. Pois voltando a Aristóteles:
«As revoltas nascem de minudências mas não visam minudências: sempre grandes objectivos.» Aristóteles - idem, V 4.1
Freitag, 21. November 2008
Já que citas Poe, Físico...
SONNET - TO SCIENCE
Science! True daughter of Old Time thou art!
Who alterest all things with thy peering eyes.
Why preyest thou thus upon the poet's heart,
Vulture, whose wings are dull realities?
How should he love thee? or how deem thee wise,
Who wouldst not leave him in his wandering
To seek for treasure in the jewelled skies,
Albeit he soared with an undaunted wing?
Hast thou not dragged Diana from her car?
And driven the Hamadryah from the wood
To seek a shelter in somme happier star?
Hast thou not torn the Naiad from her flood,
The elfin from the green grass, and from me
The summer dream beneath the tamarind tree?
E.A.Poe
Science! True daughter of Old Time thou art!
Who alterest all things with thy peering eyes.
Why preyest thou thus upon the poet's heart,
Vulture, whose wings are dull realities?
How should he love thee? or how deem thee wise,
Who wouldst not leave him in his wandering
To seek for treasure in the jewelled skies,
Albeit he soared with an undaunted wing?
Hast thou not dragged Diana from her car?
And driven the Hamadryah from the wood
To seek a shelter in somme happier star?
Hast thou not torn the Naiad from her flood,
The elfin from the green grass, and from me
The summer dream beneath the tamarind tree?
E.A.Poe
Freitag, 14. November 2008
Valsas Negras
Beija-me o meu peito mudo,
Talvez nasça um coração!...
Vesti em luvas de veludo
As garras da minha mão.
Sente como são macias;
Sente como são tão falsas;
Que eu nem sinto a luz dos dias
Que fogem em escuras valsas.
Beija os meus lábios de ferros
E eu ferro-os na tua boca.
Ouves cantos onde há berros
Que ecoam numa alma louca.
Alma louca e oca que dança;
Que dança ao mudo compasso
Do seu peito sem esperança,
Das valsas negras do espaço.
Rafael Silveira Neves, 02.11.08
Talvez nasça um coração!...
Vesti em luvas de veludo
As garras da minha mão.
Sente como são macias;
Sente como são tão falsas;
Que eu nem sinto a luz dos dias
Que fogem em escuras valsas.
Beija os meus lábios de ferros
E eu ferro-os na tua boca.
Ouves cantos onde há berros
Que ecoam numa alma louca.
Alma louca e oca que dança;
Que dança ao mudo compasso
Do seu peito sem esperança,
Das valsas negras do espaço.
Rafael Silveira Neves, 02.11.08
Mittwoch, 15. Oktober 2008
Ulalume
"Ulalume" de Edgar Allan Poe
The skies they were ashen and sober;
The leaves they were crisped and sere -
The leaves they were withering and sere;
It was night in the lonesome October
Of my most immemorial year;
It was hard by the dim lake of Auber,
In the misty mid region of Weir -
It was down by the dank tarn of Auber,
In the ghoul-haunted woodland of Weir.
Here once, through an alley Titanic,
Of cypress, I roamed with my Soul -
Of cypress, with Psyche, my Soul.
There were days when my heart was volcanic
As the scoriac rivers that roll -
As the lavas that restlessly roll
Their sulphurous currents down Yaanek
In the ultimate climes of the pole -
That groan as they roll down Mount Yaanek
In the realms of the boreal pole.
Our talk had been serious and sober,
But our thoughts they were palsied and sere -
Our memories were treacherous and sere -
For we knew not the month was October,
And we marked not the night of the year -
(Ah, night of all nights in the year!)
We noted not the dim lake of Auber -
(Though once we had journeyed down here) -
Remembered not the dank tarn of Auber,
Nor the ghoul-haunted woodland of Weir.
And now, as the night was senescent,
And star-dials pointed to morn -
As the star-dials hinted of morn -
At the end of our path a liquescent
And nebulous lustre was born,
Out of which a miraculous crescent
Arose with a duplicate horn -
Astarte's bediamonded crescent
Distinct with its duplicate horn.
And I said - 'She is warmer than Dian:
She rolls through an ether of sighs -
She revels in a region of sighs:
She has seen that the tears are not dry on
These cheeks, where the worm never dies,
And has come past the stars of the Lion,
To point us the path to the skies -
To the Lethean peace of the skies -
Come up, in despite of the Lion,
To shine on us with her bright eyes -
Come up through the lair of the Lion,
With love in her luminous eyes."'
But Psyche, uplifting her finger,
Said - 'adly this star I mistrust -
Her pallor I strangely mistrust:-
Oh, hasten! - oh, let us not linger!
Oh, fly! - let us fly! - for we must.'
In terror she spoke, letting sink her
Wings until they trailed in the dust -
In agony sobbed, letting sink her
Plumes till they trailed in the dust -
Till they sorrowfully trailed in the dust.
I replied - 'This is nothing but dreaming:
Let us on by this tremulous light!
Let us bathe in this crystalline light!
Its Sybilic splendor is beaming
With Hope and in Beauty to-night:-
See! - it flickers up the sky through the night!
Ah, we safely may trust to its gleaming,
And be sure it will lead us aright -
We safely may trust to a gleaming
That cannot but guide us aright,
Since it flickers up to Heaven through the night.'
Thus I pacified Psyche and kissed her,
And tempted her out of her gloom -
And conquered her scruples and gloom;
And we passed to the end of the vista,
But were stopped by the door of a tomb -
By the door of a legended tomb;
And I said - 'What is written, sweet sister,
On the door of this legended tomb?'
She replied - 'Ulalume - Ulalume -
'Tis the vault of thy lost Ulalume!'
Then my heart it grew ashen and sober
As the leaves that were crisped and sere -
As the leaves that were withering and sere,
And I cried - 'It was surely October
On this very night of last year
That I journeyed - I journeyed down here -
That I brought a dread burden down here -
On this night of all nights in the year,
Ah, what demon has tempted me here?
Well I know, now, this dim lake of Auber -
This misty mid region of Weir -
Well I know, now, this dank tarn of Auber,
This ghoul-haunted woodland of Weir.'
O poema dispensa comentários é simplesmente magnífico...
mas agora ide ver o que uma fantástica demoiselle que entrou este ano no magnifico curso que é o meu encontrou no decurso dos seu périplos pela Internet:
Ulalume no youtube
mas agora ide ver o que uma fantástica demoiselle que entrou este ano no magnifico curso que é o meu encontrou no decurso dos seu périplos pela Internet:
Ulalume no youtube
Samstag, 20. September 2008
Vergonha
Caríssimos, eu sei que muitos terão relutância em acreditar, eu próprio também tive. Mas atentai neste pedido de professor para uma escola. (a imagem está pouco legível se clicarem vêm a imagem em tamanho real)
Ao que parece a pessoa mais qualificada para dar uma aula de "serviço pós vendas" (a própria existência da disciplina faz comichão) será um licenciado em Línguas e Literatura Clássica, deve com certeza adequar-se a tal tarefa tudo o que arduamente aprendeu no curso vejamos um exemplo:
"o técnico de vendas quando se depara com um cliente com mais razão que ele deve acalmar-se e contar até dez em grego e latim declinando os numerais que a isso se prestem "
Tudo isto poderia ser mais cómico se não fosse tão grave! Esta situação mostra bem o desprezo e a insignificância a que foram votadas as matérias das Letras em especial as Clássicas. Se um aluno interessado por essa área durante o secundário quiser ter aulas de latim já terá bastantes problemas e se pretendesse o grego dir-lhe-iam que embora faça parte das disciplinas possíveis no curriculum as escolas não dispõem de professor, claro porque os licenciados em clássicas estão bem é no pós-vendas.
Verdadeiramente triste
Ao que parece a pessoa mais qualificada para dar uma aula de "serviço pós vendas" (a própria existência da disciplina faz comichão) será um licenciado em Línguas e Literatura Clássica, deve com certeza adequar-se a tal tarefa tudo o que arduamente aprendeu no curso vejamos um exemplo:
"o técnico de vendas quando se depara com um cliente com mais razão que ele deve acalmar-se e contar até dez em grego e latim declinando os numerais que a isso se prestem "
Tudo isto poderia ser mais cómico se não fosse tão grave! Esta situação mostra bem o desprezo e a insignificância a que foram votadas as matérias das Letras em especial as Clássicas. Se um aluno interessado por essa área durante o secundário quiser ter aulas de latim já terá bastantes problemas e se pretendesse o grego dir-lhe-iam que embora faça parte das disciplinas possíveis no curriculum as escolas não dispõem de professor, claro porque os licenciados em clássicas estão bem é no pós-vendas.
Verdadeiramente triste
Montag, 8. September 2008
Fado
Dança de volta
Entrei na dança de roda
Mas não cheguei a dançar
Enganei todas as voltas
- Não me deixaram ficar
Desci por não ter mais forças
Às águas verdes sem fundo
Mesmo que voltem as forças
Não quero voltar ao mundo
Entrei na dança e pedi
Alguém que fosse meu par
Não falei senão de ti
- Não me deixaram ficar
Desci por não ter mais forças
Às águas verdes do lago
Mesmo que voltem as forças
Não voltarei a ser escravo
Entrei na dança contente
De poder enfim dançar
Quando viram quem eu era
- Não me deixaram ficar
Desci por não ter mais forças
Às águas verdes sem fim
Mesmo que voltem as forças
Não me separo de mim
Mas não cheguei a dançar
Enganei todas as voltas
- Não me deixaram ficar
Desci por não ter mais forças
Às águas verdes sem fundo
Mesmo que voltem as forças
Não quero voltar ao mundo
Entrei na dança e pedi
Alguém que fosse meu par
Não falei senão de ti
- Não me deixaram ficar
Desci por não ter mais forças
Às águas verdes do lago
Mesmo que voltem as forças
Não voltarei a ser escravo
Entrei na dança contente
De poder enfim dançar
Quando viram quem eu era
- Não me deixaram ficar
Desci por não ter mais forças
Às águas verdes sem fim
Mesmo que voltem as forças
Não me separo de mim
Luís de Macedo
Donnerstag, 26. Juni 2008
16 de Abril de 1178 a.C.
«Então entre eles tomou a palavra o divino Teoclímeno: "Ah, desgraçados! Que mal sofreis? A noite encobre as vossas cabeças, os vossos rostos, e até os vossos joelhos por baixo! Ardem os gritos de dor, cheias de lágrimas estão as vossas faces, e manchadas de sangue as paredes e o tecto. O adro está repleto de fantasmas; repleto está o pátio para a escuridão do Érebo se precipitam e o Sol desapareceu do céu e tudo cobre a bruma do mal"»
Odisseia, XX 350-357
Tradução de Frederico Lourenço
Como acho que é evidente esta profecia de Teoclímeno reporta-nos para um eclipse total do Sol, que segundo Homero se teria dado aquando da chegada de Ulisses ao pátio do seu palácio em Ítaca, já anteriormente se tinha identificado esse hipotético eclipse com um que foi visivel nas ilhas jónicas a 16 de Abril de 1178. A novidade é que dois astrónomos argentinos, Marcelo Magnasco e Constantino Baikouzis, parecem ter agora confirmado essa teoria com base noutras indicações de fenómenos astronómicos na Odisseia.
O artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America pode ser consultado aqui.
Além do interesse cultural (que a meu ver suplanta, neste caso, o cientifico) deste trabalho é também de aplaudir o interesse em fazer pesquisa cientifica não só com o objectivo do progresso tecnológico com vista no futuro, mas sim intelectual e repensando o passado.
O artigo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America pode ser consultado aqui.
Além do interesse cultural (que a meu ver suplanta, neste caso, o cientifico) deste trabalho é também de aplaudir o interesse em fazer pesquisa cientifica não só com o objectivo do progresso tecnológico com vista no futuro, mas sim intelectual e repensando o passado.
Mittwoch, 4. Juni 2008
2009 Ano Internacional da Astronomia
United Nations
Resolution adopted by the General Assembly
The General Assembly,
Recalling its resolution 61/185 of 20 December 2006 on the proclamation of
international years,
Aware that astronomy is one of the oldest basic sciences and that it has
contributed and still contributes fundamentally to the evolution of other sciences
and applications in a wide range of fields,
Recognizing that astronomical observations have profound implications for the
development of science, philosophy, culture and the general conception of the
universe,
Noting that, although there is a general interest in astronomy, it is often
difficult for the general public to gain access to information and knowledge on the
subject,
Conscious that each society has developed legends, myths and traditions
concerning the sky, the planets and the stars which form part of its cultural heritage,
Welcoming resolution 33 C/25 adopted by the General Conference of the
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization on 19 October
20051 to express its support for the declaration of 2009 as the International Year of
Astronomy, with a view to highlighting the importance of astronomical sciences and
their contribution to knowledge and development,
Noting that the International Astronomical Union has been supporting the
initiative since 2003 and that it will act to grant the project the widest impact,
Convinced that the Year could play a crucial role, inter alia, in raising public
awareness of the importance of astronomy and basic sciences for sustainable
development, promoting access to the universal knowledge of fundamental science
through the excitement generated by the subject of astronomy, supporting formal
and informal science education in schools as well as through science centres and museums and other relevant means, stimulating a long-term increase in student
enrolment in the fields of science and technology, and supporting scientific literacy,
1. Decides to declare 2009 the International Year of Astronomy;
2. Designates the United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization as the lead agency and focal point for the Year, and invites it to
organize, in this capacity, activities to be realized during the Year, in collaboration
with other relevant entities of the United Nations system, the International
Astronomical Union, the European Southern Observatory and astronomical societies
and groups throughout the world, and, in this regard, notes that the activities of the
Year will be funded from voluntary contributions, including from the private sector;
3. Encourages all Member States, the United Nations system and all other
actors to take advantage of the Year to promote actions at all levels aimed at
increasing awareness among the public of the importance of astronomical sciences
and promoting widespread access to new knowledge and experiences of
astronomical observation.
international years,
Aware that astronomy is one of the oldest basic sciences and that it has
contributed and still contributes fundamentally to the evolution of other sciences
and applications in a wide range of fields,
Recognizing that astronomical observations have profound implications for the
development of science, philosophy, culture and the general conception of the
universe,
Noting that, although there is a general interest in astronomy, it is often
difficult for the general public to gain access to information and knowledge on the
subject,
Conscious that each society has developed legends, myths and traditions
concerning the sky, the planets and the stars which form part of its cultural heritage,
Welcoming resolution 33 C/25 adopted by the General Conference of the
United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization on 19 October
20051 to express its support for the declaration of 2009 as the International Year of
Astronomy, with a view to highlighting the importance of astronomical sciences and
their contribution to knowledge and development,
Noting that the International Astronomical Union has been supporting the
initiative since 2003 and that it will act to grant the project the widest impact,
Convinced that the Year could play a crucial role, inter alia, in raising public
awareness of the importance of astronomy and basic sciences for sustainable
development, promoting access to the universal knowledge of fundamental science
through the excitement generated by the subject of astronomy, supporting formal
and informal science education in schools as well as through science centres and museums and other relevant means, stimulating a long-term increase in student
enrolment in the fields of science and technology, and supporting scientific literacy,
1. Decides to declare 2009 the International Year of Astronomy;
2. Designates the United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization as the lead agency and focal point for the Year, and invites it to
organize, in this capacity, activities to be realized during the Year, in collaboration
with other relevant entities of the United Nations system, the International
Astronomical Union, the European Southern Observatory and astronomical societies
and groups throughout the world, and, in this regard, notes that the activities of the
Year will be funded from voluntary contributions, including from the private sector;
3. Encourages all Member States, the United Nations system and all other
actors to take advantage of the Year to promote actions at all levels aimed at
increasing awareness among the public of the importance of astronomical sciences
and promoting widespread access to new knowledge and experiences of
astronomical observation.
78th plenary meeting
19 December 2007
19 December 2007
Montag, 2. Juni 2008
Leo senex, Aper, Taurus et Asinus
Defectus annis et desertus viribus
Leo cum jaceret, spiritum extremum trahens,
Aper fulmineis venit ad eum dentibus,
Et vindicavit ictu veterem injuriam.
Infestis Taurus mox confodit cornibus
Hostile corpus. Asinus, ut videt ferum
Impune laedi, calcibus frontem extudit.
At ille exspirans : «Fortes indigne tuli
Mihi insultare: te, naturae dedecus,
Quod ferre cogor, certe bis videor mori»
Leo cum jaceret, spiritum extremum trahens,
Aper fulmineis venit ad eum dentibus,
Et vindicavit ictu veterem injuriam.
Infestis Taurus mox confodit cornibus
Hostile corpus. Asinus, ut videt ferum
Impune laedi, calcibus frontem extudit.
At ille exspirans : «Fortes indigne tuli
Mihi insultare: te, naturae dedecus,
Quod ferre cogor, certe bis videor mori»
Fedro - Livro I, 21
Sonntag, 1. Juni 2008
O Leão Velho
Decrépito o Leão, terror dos bosques,
E saudoso da antiga fortaleza,
Viu-se atacado pelos outros brutos,
Que intrépidos tornou sua fraqueza.
Eis o lobo cos dentes o maltrata,
O cavalo cos pés, o boi coas pontas,
E o mísero leão, rugindo apenas,
Paciente digere estas afrontas.
Não se queixa dos fados; porém vendo
Vir o burro, animal de ínfima sorte:
«Ah, vil raça», lhe diz, «morrer não temo,
Mas sofrer-te uma injúria é mais que morte!»
LaFontaine - tradução de Bocage
E saudoso da antiga fortaleza,
Viu-se atacado pelos outros brutos,
Que intrépidos tornou sua fraqueza.
Eis o lobo cos dentes o maltrata,
O cavalo cos pés, o boi coas pontas,
E o mísero leão, rugindo apenas,
Paciente digere estas afrontas.
Não se queixa dos fados; porém vendo
Vir o burro, animal de ínfima sorte:
«Ah, vil raça», lhe diz, «morrer não temo,
Mas sofrer-te uma injúria é mais que morte!»
LaFontaine - tradução de Bocage
Donnerstag, 29. Mai 2008
Πίνδαρος
Sonntag, 25. Mai 2008
Excerto de "Zadig" de Voltaire
[nos capítulos anteriores, a figura principal, Zadig, é feito escravo de Setoc, o pagão, que começa agora compreender que o seu escravo babilónio é sábio e profético...]
Setoc, encantado, fez do escravo seu amigo íntimo. Tal como o rei de Babilônia, não podia passar sem
êle, e Zadig felicitava-se de que Setoc não tivesse mulher. Reconhecia no seu amo um natural pendor
para o bem, muita retidão e bom senso. Doeu-lhe comprovar que êste adorava o exército celeste, isto é, o
sol, a lua e as estrêlas, conforme o antigo costume árabe. E a isso se referia às vêzes muito discretamente.
Afinal lhe disse que eram corpos como os outros e que não mereciam as suas homenagens, mais que uma
árvore ou um rochedo quaisquer.
- Mas - retrucava Setoc, - trata-se de sêres eternos de que auferimos todos os benefícios; animam a
natureza; regulam as estações; e estão aliás tão longe de nós que é impossível deixar de venerá-los.
- Mais benefícios respondeu Zadig - recebe o senhor das águas do Mar Vermelho, que lhe transportam as
mercadorias para a Índia. Por que não há de ser êle tão antigo como as estrêlas? E se o caso é adorar o
que se acha afastado, devia então o amo adorar a terra dos gangáridas, que fica nos limites do mundo.
- Não - dizia Setoc, - as estrêlas são muito brilhantes para que eu não as adore.
Quando anoiteceu, Zadig acendeu inúmeras velas na tenda onde devia cear com Setoc, e logo que êste
apareceu, lançou-se ao pé daquelas ceras alumiadas, e exclamou: "Eternas e brilhantes luzes, sêde-me
propícias para sempre." Dito isto, sentou-se à mesa sem olhar para Setoc.
- Que fazes? - perguntou Setoc, espantado.
- Faço como o meu amo; adoro essas luzes e negligencio aquele que é senhor delas, e meu senhor.
Setoc, encantado, fez do escravo seu amigo íntimo. Tal como o rei de Babilônia, não podia passar sem
êle, e Zadig felicitava-se de que Setoc não tivesse mulher. Reconhecia no seu amo um natural pendor
para o bem, muita retidão e bom senso. Doeu-lhe comprovar que êste adorava o exército celeste, isto é, o
sol, a lua e as estrêlas, conforme o antigo costume árabe. E a isso se referia às vêzes muito discretamente.
Afinal lhe disse que eram corpos como os outros e que não mereciam as suas homenagens, mais que uma
árvore ou um rochedo quaisquer.
- Mas - retrucava Setoc, - trata-se de sêres eternos de que auferimos todos os benefícios; animam a
natureza; regulam as estações; e estão aliás tão longe de nós que é impossível deixar de venerá-los.
- Mais benefícios respondeu Zadig - recebe o senhor das águas do Mar Vermelho, que lhe transportam as
mercadorias para a Índia. Por que não há de ser êle tão antigo como as estrêlas? E se o caso é adorar o
que se acha afastado, devia então o amo adorar a terra dos gangáridas, que fica nos limites do mundo.
- Não - dizia Setoc, - as estrêlas são muito brilhantes para que eu não as adore.
Quando anoiteceu, Zadig acendeu inúmeras velas na tenda onde devia cear com Setoc, e logo que êste
apareceu, lançou-se ao pé daquelas ceras alumiadas, e exclamou: "Eternas e brilhantes luzes, sêde-me
propícias para sempre." Dito isto, sentou-se à mesa sem olhar para Setoc.
- Que fazes? - perguntou Setoc, espantado.
- Faço como o meu amo; adoro essas luzes e negligencio aquele que é senhor delas, e meu senhor.
Um dos meus livros preferidos
E foi assim que, nessa noite, adormeci deitado na areia, a milhares de milhas de qualquer local habitado. Sentia-me mais isolado do que um náufrago numa jangada no meio do oceano. Podem, portanto, imaginar qual não foi a minha surpresa quando, ao nascer do dia, fui acordado por uma vozinha que dizia:
-Se faz favor... desenha-me uma ovelha!-O quê?-Desenha-me uma ovelha...
Pus-me de pé de um salto, como se tivesse sido atingido por um raio. Esfreguei os olhos energicamente. Olhei com toda a atenção. E vi um menino verdadeiramente espantoso, que me observava com um ar muito sério…
-Se faz favor... desenha-me uma ovelha!-O quê?-Desenha-me uma ovelha...
Pus-me de pé de um salto, como se tivesse sido atingido por um raio. Esfreguei os olhos energicamente. Olhei com toda a atenção. E vi um menino verdadeiramente espantoso, que me observava com um ar muito sério…
Montag, 19. Mai 2008
Tao Te King - Lao Tse
XXII
curvando então fica inteiro
retorcendo então fica direito
esvaziando então fica pleno
desgastando então fica novo
sendo pouco então é obtido
sendo demais então é perturbador
assim
o homem santo abraçando o uno
torna-se modelo sob o céu
não se exibindo então brilha
não se afirmando então figura
não se vangloriando então tem mérito
não se enaltecendo então perdura
só por não disputar
sob o céu ninguém pode com ele disputar
o adágio antigo: "curvando então fica inteiro"
como pode ser palavra vazia?
em verdade integra nele reintegrando
Livro do Tao
curvando então fica inteiro
retorcendo então fica direito
esvaziando então fica pleno
desgastando então fica novo
sendo pouco então é obtido
sendo demais então é perturbador
assim
o homem santo abraçando o uno
torna-se modelo sob o céu
não se exibindo então brilha
não se afirmando então figura
não se vangloriando então tem mérito
não se enaltecendo então perdura
só por não disputar
sob o céu ninguém pode com ele disputar
o adágio antigo: "curvando então fica inteiro"
como pode ser palavra vazia?
em verdade integra nele reintegrando
Livro do Tao
O Rei de Thule (Goethe)
Es war einst ein König in Thule,
Gar treu bis an das Grab,
Dem sterbend seine Buhle
einen goldnen Becher gab.
Es ging ihm nichts darüber,
Er leert' ihn jeden Schmaus;
Die Augen gingen ihm über,
So oft trank er daraus.
Und als er kam zu sterben,
Zählt' er seine Städt' im Reich,
Gönnt' alles seinen Erben,
Den Becher nicht zugleich.
Er saß beim Königsmahle,
Die Ritter um ihn her,
Auf hohem Vätersaale
Dort auf dem Schloß am Meer.
Dort stand der alte Zecher,
Trank letzte Lebensglut
Und warf den heil'gen Becher
Hinunter in die Flut.
Er sah ihn stürzen, trinken
Und sinken tief ins Meer.
Die Augen täten ihm sinken,
Trank nie einen Tropfen mehr.
(tradução de Mário de Sá-Carneiro)
Em Thule outrora reinou
Um rei fiel e constante
Ao qual moribunda a amante
Um copo d'ouro deixou.
Quando o rei [d]ele bebia
Todos os dias à mesa;
Cheio de dor e tristeza
Em pranto se desfazia.
Ao sentir chegar a morte
Reuniu na mesma sala
Em um banquete de gala
Toda inteira a sua corte.
Fora nesse mesmo dia
Que o seu herdeiro chamara,
O rei, ao qual deixara
Os bens, todos que havia.
Porém o copo adorado
D'amor tão doce lembrança
Não fez parte da herança,
Tinha-o ele separado!
O mar ficava fronteiro
À sala em que se jantava
Diante do rei la estava
O seu fiel companheiro.
De beber tendo acabado
Ergue o seu braço tremente...
E ao mar rapidamente
Por ele o copo é lançado!
Mas quando desaparecia
Quando já tocava o fundo
Deixava o bom rei o mundo,
Cerrando os olhos morria.
Gar treu bis an das Grab,
Dem sterbend seine Buhle
einen goldnen Becher gab.
Es ging ihm nichts darüber,
Er leert' ihn jeden Schmaus;
Die Augen gingen ihm über,
So oft trank er daraus.
Und als er kam zu sterben,
Zählt' er seine Städt' im Reich,
Gönnt' alles seinen Erben,
Den Becher nicht zugleich.
Er saß beim Königsmahle,
Die Ritter um ihn her,
Auf hohem Vätersaale
Dort auf dem Schloß am Meer.
Dort stand der alte Zecher,
Trank letzte Lebensglut
Und warf den heil'gen Becher
Hinunter in die Flut.
Er sah ihn stürzen, trinken
Und sinken tief ins Meer.
Die Augen täten ihm sinken,
Trank nie einen Tropfen mehr.
(tradução de Mário de Sá-Carneiro)
Em Thule outrora reinou
Um rei fiel e constante
Ao qual moribunda a amante
Um copo d'ouro deixou.
Quando o rei [d]ele bebia
Todos os dias à mesa;
Cheio de dor e tristeza
Em pranto se desfazia.
Ao sentir chegar a morte
Reuniu na mesma sala
Em um banquete de gala
Toda inteira a sua corte.
Fora nesse mesmo dia
Que o seu herdeiro chamara,
O rei, ao qual deixara
Os bens, todos que havia.
Porém o copo adorado
D'amor tão doce lembrança
Não fez parte da herança,
Tinha-o ele separado!
O mar ficava fronteiro
À sala em que se jantava
Diante do rei la estava
O seu fiel companheiro.
De beber tendo acabado
Ergue o seu braço tremente...
E ao mar rapidamente
Por ele o copo é lançado!
Mas quando desaparecia
Quando já tocava o fundo
Deixava o bom rei o mundo,
Cerrando os olhos morria.
Montag, 24. März 2008
The tiger
The Tiger
TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?
And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?
What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?
Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
William Blake
TIGER, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?
In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare seize the fire?
And what shoulder and what art
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand and what dread feet?
What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? What dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?
When the stars threw down their spears
And water'd heaven with their tears,
Did He smile His work to see?
Did He who made the lamb make thee?
Tiger, tiger, burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?
William Blake
Utilitarismo com mais pinta ainda
Poverty, in any sense implying suffering, may be completely extinguished by the wisdom of society, combined with the good sense and providence of individuals."
- John Stuart Mill
- John Stuart Mill
Utilitarismo cheio de pinta
"The utilitarian moralty does recognise in human beings the power of sacrificing their own greatest good for the good of others. It only refuses to admit that the sacrifice is itself a good. A sacrifice which does not increase, or tend to increase, the sum total of happiness, it considers as wasted"
John Stuart Mill, in "Utilitarianism"
John Stuart Mill, in "Utilitarianism"
Sonntag, 23. März 2008
Achmed, o Louco, um Conto meu
Era uma vez, há muito tempo, um sultão muito poderoso que vivia num palácio de ouro puro com as suas três mil concubinas, oitenta mulheres e trezentas amantes. Chamava-se sultão Achmed ibn Musa ibn Mehmet ibn Nuh ibn Atif ibn Suleyman ibn Ali e era o homem mais poderoso do mundo e o mais rico e o mais feliz de todos os reis, e sem dúvida o mais amado pelos seus súbditos. Isto, claro, no tempo em que todos os grandes reis viviam quase eternamente.
A sua vida na corte era ociosa e alegre, os seus conselheiros eram fiéis e úteis, as suas concubinas, de porte generoso, as suas amantes tinham um coração do tamanho das suas ancas e as suas mulheres eram de poucas palavras. Por isso era, ou tinha sido, em tempos, o homem mais feliz do mundo.
O sultão Achmed possuía toda a riqueza do vasto império que tinha conquistado com a ajuda dos seus eternamente fiéis mercenários mongóis, que se alimentavam principalmente do nutritivo leite de camelo, do sangue dos seus cavalos, e do de crianças quando as suas montadas já se tinham esvaído até à morte. Estes tinham-no apoiado na subjugação de um território rico, mas mergulhado até então numa grande guerra entre Aldeias-Estado e principados minúsculos. Até o sultão Achmed ter surgido no seu cavalo branco – que dava pelo nome de Aristóteles – a região via-se dominada por magníficos príncipes que lutariam uns contra os outros até à ruína pela posse de um rochedo ou pelo controle sobre um moinho.
Na longuíssima cronologia das guerras deste país, as batalhas mais marcantes tinham sido a do Celeiro Grande, a das Ovelhas e a do Areal.
Na primeira, o exército do príncipe cristão Teodoro CCXXV tinha-se barricado num celeiro que defendeu até à morte do príncipe mouro Maomé LVI, o Sangrento, que esfomeou as hostes de Teodoro até à morte durante o cerco, o que chacinou todos os dezasseis guerreiros cristãos e o príncipe.Os camponeses armados de Maomé LVI fizeram questão de exibir esses 17 corpos na sua aldeia para comemorar a grande vitória que tinha alcançado apesar da ofuscante desvantagem numérica. Demorou um dia inteiro quatro aos homens que compunham as hostes de Maomé para os arrastar até à sua aldeia.
A grande e longa Batalha das Ovelhas ocorreu na noite do festejo do quinto aniversário da Batalha do Celeiro Grande. O aliado de Teodoro CCXXV, Teodorico CCXXIV, o Leproso, passara os últimos 5 anos a planear a vingança da derrota do seu irmão em Cristo. Planeava destruir a economia do território de Maomé LVI roubando-lhe as ovelhas da sua aldeia. Teodorico, o Leproso, reunira o maior exército alguma vez avistado na região – trinta e um guerreiros que faziam o chão tremer e os céus chorar! – e liderava-os, em pessoa, para roubar os ditos ovídeos. Os espiões de Maomé, mascarados de tapetes no palácio de três assoalhadas de Teodorico, haviam-no precavido desta incursão cobarde no meio da noite, pelo que o príncipe mouro pôde organizar a defesa do gado do seu país de forma engenhosa. Mascarou o seu exército inteiro – todos os onze soldados e meio e ele mesmo! – de ovelhas, armados até aos dentes com punhais sob as peles que vestiam, e esperou pacientemente pela vinda dos cobardes nazarenos de Teodorico, o Leproso.
Esperaram longamente a noite fora, até madrugada, pelo inimigo, mas nada viram senão as ovelhas do rebanho que os soldados de Teodorico ambicionavam levar.
Nisto, até os mais experientes e disciplinados guerreiros de Maomé perderam a paciência e, sem nada que comer nem cristão que matar, um dos mais bravos e poderosos homens da horda, Ali, o Frugal, acabou por suspirar por entre as pregas da sua rechonchudeza, depois de nove horas de espera, ao raiar do dia:
“Agora é que eu despachava uns bifinhos de borrego…”E qual não foi a surpresa geral quando, de repente, algum bárbaro de Teodorico, também disfarçado de ovelha, gritou ao seu príncipe:
“Alteza, estamos cercados! É uma emboscada!”
E ambos os rebanhos, o cristão e o mourisco, à espera um do outro há horas, ergueram-se em pânico, rodeados por ovelhas cuja lealdade não poderia ser discernida na escuridão total em que estavam. Logo, lançaram-se numa chacina sangrenta de todas que encontravam ainda a respirar, lutando umas contra as outras, na sua surpresa, ignorando se eram de Teodorico ou de Maomé. Até que houve luz suficiente para que três soldados do falecido Teodorico CCXXIV se reconhecessem, ofegantes e a tremer, antes de se chacinarem.
A batalha do Areal não foi tão sangrenta, mas igualmente importante na História do continente.
Aí, os exércitos de Ivan MII, o Manso e do basileu grego Teodósio MMCCXLIII defrontaram-se na plena expansão dos seus territórios, por um Areal com ricos depósitos de areia, essencial para a indústria de areia de ambas as Aldeias-Estado. Neste caso, os três cavaleiros de Ivan MII, o Manso, foram completamente derrotados por Teodósio MMCCXLIII que, numa fúria tremenda, os derrotou-os aos quatro com a sua fisga e espalhou o sangue dos bárbaros de Ivan pela areia.
Estas cruéis guerras prolongavam-se há oito mil e quinhentos anos, os títulos dos príncipes e dos seus barões eram transmitidos aos sucessores desde os primórdios do tempo, as batalhas e os seus mortos acumulavam-se, o povo vivia cansado e com medo, os artesãos frustrados de tédio cada vez que os seus príncipes lhes encomendavam mais espadas, mais mosquetes, mais velas para as caravelas das suas armadas, suspiravam “quando poderei finalmente forjar ferramentas?”, “quando poderei criar fogo-de-artifício?” e “quando poderei tecer tapetes ricos?”. E as guerras duravam e duravam, entre as 6327 orgulhosas vilas, Aldeias-Estado, reinos de quinhentas pessoas e impérios de meia légua que há muito se tinham esquecido de porque lutavam entre si.
Foi neste contexto que o sultão Achmed, soberano de uma vila maiorzinha que um dia seria uma capital dourada, pegou nas poupanças milenares dos seus domínios, as colocou num monte enorme na sala do seu trono, e mandou chamar os seus nobres, debatendo o que havia a ser feito no continente para acabar de uma vez por todas com a guerra que parecia não ter fim. Para além do mais, ouviam-se relatos de uma hoste fenomenal de bárbaros mongóis, sujeitos sujos e sangrentos, mas incrivelmente ingénuos e estúpidos.
Foi então do consenso geral da sua corte que a única solução para acabar com as guerras mesquinhas de há milénios seria unificar todos os reinos, fossem eles gregos, árabes, turcos, latinos, germânicos, francos, mouros ou judaicos. E para o fazer, teriam de tornar os mongóis nos seus mercenários para subjugar todo o reino, de forma a que todos os nobres aceitassem Achmed ibn Musa ibn Mehmet ibn Nuh ibn Atif ibn Suleyman ibn Ali como o seu sultão supremo e imperador.
Depois de cavalgar ao seu encontro em pessoa, o sultão Achmed encontrou o acampamento mongol, e prometeu a todos os vinte mil guerreiros três cavalos novos e uma renda anual se o ajudassem a conquistar todos os reinos e Aldeias-Estado. Felizes com a promessa, os mongóis limitaram-se a dividir a sua horda em quarenta exércitos mais pequenos, que então viajaram por todo o continente ordenando aos outros soberanos que se submetessem ao Sultão Achmed I, o Grande, Imperador do Continente. O povo todo esqueceu as etnias e religiões e lançou os braços ao céu, feliz por a guerra acabar, e viu o sultão Achmed como um salvador, e aclamou-o como único soberano digno de governar todo o continente. A maioria dos nobres aceitou prestar-lhe vassalagem de bom grado, e viu nele o mesmo salvador que o povo. Outros nobres, pensando que se tratava de mais um estratagema bélico mesquinho, recusaram-no, gritando que preferiam entregar os seus filhos ao Demónio. Neste caso, os mongóis solicitaram amavelmente que repensassem o que tinham dito após entrarem-lhes pelos palácios adentro e comendo a sua descendência viva.
Os mercenários mongóis tornaram a unificação do império mais fácil, portanto, chamando à razão de forma original todos os que se opunham. Em breve, os mongóis já não seriam necessários, pois um grande orgulho nacional tinha surgido por todo o império surgira, tornando todos os príncipes, barões e cavaleiros fidelíssimos a Achmed, que possuía o maior exército do mundo. Este tinha resolvido as disputas territoriais decretando que já não teriam razões para se guerrearem, pois tudo seria de todos, a pátria era apenas uma e todos tinham o direito de a povoar como entendessem, desde que não tirassem nada a ninguém.
Muito depressa, o comércio, a agricultura e a indústria floresceram, e criou-se uma capital chamada “Viva Achmed” na velha vila do sultão, que se tornaria num pólo de saber, de beleza e de arte. Aí, o imperador e sultão criara uma das cidades mais populosas, limpas e ricas do mundo, sendo o seu centro o seu palácio, construído a partir de ouro puro, angariado por meio de um imposto especial por duvidar do poder de Achmed I, o Grande.
O desenvolvimento rápido do país tornara todos os habitantes felizes, e o sultão também o foi durante séculos, até que se sentiu entediado pelo ócio e pela alegria enfadonha e monótona da sua corte.
O reino crescia rapidamente, até demais, portanto Achmed decidiu que era chegada a altura de solicitar amavelmente aos habitantes de um reino numa ilha vizinha que abandonassem as casas e campos para fomentar actividades no sector imobiliário, de modo a albergar colonos do seu império. Para além do mais, a ilha transbordava de ouro, prata e outros minerais que fariam falta na ala do harém do palácio de Achmed. Desde que chegara ao poder, não o largava a ambição de ter o palácio e a vida mais soberbos e um nome eterno e uma casa-de-banho feita inteiramente de prata.
A conquista do reino da ilha foi célere e sem grandes dificuldades, os guerreiros mongóis demonstraram mais uma vez os seus dotes diplomáticos, chegando a compromissos com os nativos, negociando por um preço adequado - nada - as suas propriedades.
Em pouco tempo, o povo da ilha, uma estirpe de gregos, compreendeu que tinha chegado a sua vez de procurar novos territórios e novas riquezas, portanto reuniu-se, na sua maior parte, nas costas do seu antigo reino e levantou âncoras rumo à glória e às alegrias da aventura. Os restantes foram escravizados.
O povo de Achmed enriquecia ainda mais, o próprio Achmed também alcançava todas as riquezas que procurava. Mas a vida na corte tornava-se de novo monótona, precisava de algo novo para oferecer ao povo e ao seu grande ego de homem que usufrui da companhia de cerca de quatro mil grandes mulheres, milhares de toneladas de feminilidade.
Havia uma outra ilha, conhecida por ser a maior produtora do mundo de pedras de calçada, palha e diamantes. Achmed achou que mais riqueza fazia falta no seu império, portanto mandou os seus mongóis de novo para negociar com os germanos bárbaros que nela viviam, que depois de delinearem muito bem o abandono da ilha e de morrerem de forma hierarquizada e organizada - como apenas os germanos o sabem fazer! - e de chorarem disciplinadamente e de forma fria enquanto negociavam poderem manter parte da sua riqueza se entregassem todos os seus filhos e mulheres aos mongóis, os germanos abandonaram corajosamente a sua ilha, convencidos de terem tido um comportamento exemplar: Tudo tinha corrido de forma linear, não tinham sujado as ruas das suas aldeias e cidades pacíficas e esterilizadas com o seu sangue. A sua organização e limpeza era a prova de que tinha sido a melhor decisão.
Tambem Achmed achou que tinha sido a conclusão mais feliz possível. Mas séculos depois, quando começou a fartar-se das mossas que as suas grandes mulheres deixavam nas armações das suas camas de prata, Achmed decidiu partir ele mesmo, mais uma vez, com uma grande armada para conquistar mais uma ilha, a mais rica do mundo conhecido em pardais, areia - como o neto de Teodósio MMCCXLIII, Teodósio MMCCXLV, se alegrou por poder expandir lá a sua indústria enviando colonos seus, antigos combatentes mongóis, incrivelmente ingénuos e estúpidos! - e sobretudo, a mais rica em rubis.
A grande armada, com uma caravela baptizada em honra de cada uma das mulheres e concubinas e amantes de Achmed I, estava a metade do caminho quando foi assomada por uma terrível tempestade que destruiu toda a frota e todos os náufragos foram levados por correntes diferentes, e afogaram-se ou morreram de fome ou sede enquanto flutuavam. Outros, ainda, foram levados em grupo pelas correntes até bancos de areia no meio do oceano, onde tentaram estabelecer pequenas indústrias de extracção de areia. Naturalmente, isto revelou-se uma perda de tempo, pois também morreriam de fome. Que bárbaros mongóis tão incrivelmente ingénuos e estúpidos!...
Achmed, enfim, não teria a sorte de morrer sozinho. Estava sozinho, no meio do mar, destronado de um império que se desfaria depois da sua morte não por não deixar sucessores, mas por ter criado desses em demasia. Quando o seu estômago rosnava, perguntava-se se não tinha sido um pouco-tanto ganancioso e se aquilo, no fundo, era evitável e indesejável.
Estava a morrer de fome e de sede, mas foi salvo por uma frota de navios. A princípio ficou eufórico por já não morrer, por poder pagar aos marinheiros com terras suas se o levassem de novo a qualquer cidade do seu império.
Mas não teve essa sorte. Eram piratas sujos, de traços cruéis e duros que se divertiam desancando gatos e chupando o tutano dos oços de prisioneiros vivos. Acorrentaram o sultão Achmed e trouxeram-no à presença do líder daquela frota pirata, que ficou a saber que se chamava Hrocknart, o Doce. E perante os olhos negros daqueles homens que tinham alcunhas como "Faca", "Estripador", "Estripa-Gatos", "Estripa-Imperadores" e "Viola-Sultões", Achmed tremia e contava a sua história. Os piratas olharam entre si uns segundos com olhares que deram arrepios ao sultão por o lembrarem demasiado das suas mulheres e por fim, Hrocknart proferiu a sua sentença:
"Ó grande sultão, somos a tribo germânica que despojaste de mulheres e expulsaste para as entranhas do mar. Para sobreviver, o nosso povo teve de se tornar num de piratas e corsários, raptando novos recrutas, já que não podemos procriar sem fêmeas. Por isso também desenvolvemos hábitos muito, digamos...sui generis."
E todos os piratas anuiram, sorrindo para Achmed e lambendo os beiços. Este perguntou, consternado...
"E que hábitos são esses?"E Hrocknart, o Doce, respondeu:
"Talvez se te apresentar parte da nossa tripulação passes a perceber. Aqui tens o "Faca"... de epíteto, "o Que Nunca Gane".... aqui tens Fraygnir... de epíteto, "o Grande"... Vê como esse querido sorri quando falamos do seu cognome, hehe. Bem, continuando... aqui tens Klauggur... de cognome "o Carrasco".... e Ugmann.... "o Que Usa Cobras e Enguias".... Ó grande sultão, com isto tudo desejo que conheças a nossa natureza, a natureza a que nos forçaste. Décadas do alto-mar para onde nos baniste forçaram-nos a ser o que somos e aquilo em que, por ironia do destino, também te converterás devido à tua ganância. Serás para sempre o nosso prisioneiro, escravo do nosso povo, propriedade do Estado, do único Estado que nos permitiste ter, o do alto-mar, onde ninguém te ouve."E foi assim que o sultão Achmet I, o Grande e o Destronado, navegou para sempre, à procura da aventura, depois de ter engolido o orgulho e quebrado a sua dignidade que sangrara, no início, na companhia do Povo dos Piratas Sodomitas.
A sua vida na corte era ociosa e alegre, os seus conselheiros eram fiéis e úteis, as suas concubinas, de porte generoso, as suas amantes tinham um coração do tamanho das suas ancas e as suas mulheres eram de poucas palavras. Por isso era, ou tinha sido, em tempos, o homem mais feliz do mundo.
O sultão Achmed possuía toda a riqueza do vasto império que tinha conquistado com a ajuda dos seus eternamente fiéis mercenários mongóis, que se alimentavam principalmente do nutritivo leite de camelo, do sangue dos seus cavalos, e do de crianças quando as suas montadas já se tinham esvaído até à morte. Estes tinham-no apoiado na subjugação de um território rico, mas mergulhado até então numa grande guerra entre Aldeias-Estado e principados minúsculos. Até o sultão Achmed ter surgido no seu cavalo branco – que dava pelo nome de Aristóteles – a região via-se dominada por magníficos príncipes que lutariam uns contra os outros até à ruína pela posse de um rochedo ou pelo controle sobre um moinho.
Na longuíssima cronologia das guerras deste país, as batalhas mais marcantes tinham sido a do Celeiro Grande, a das Ovelhas e a do Areal.
Na primeira, o exército do príncipe cristão Teodoro CCXXV tinha-se barricado num celeiro que defendeu até à morte do príncipe mouro Maomé LVI, o Sangrento, que esfomeou as hostes de Teodoro até à morte durante o cerco, o que chacinou todos os dezasseis guerreiros cristãos e o príncipe.Os camponeses armados de Maomé LVI fizeram questão de exibir esses 17 corpos na sua aldeia para comemorar a grande vitória que tinha alcançado apesar da ofuscante desvantagem numérica. Demorou um dia inteiro quatro aos homens que compunham as hostes de Maomé para os arrastar até à sua aldeia.
A grande e longa Batalha das Ovelhas ocorreu na noite do festejo do quinto aniversário da Batalha do Celeiro Grande. O aliado de Teodoro CCXXV, Teodorico CCXXIV, o Leproso, passara os últimos 5 anos a planear a vingança da derrota do seu irmão em Cristo. Planeava destruir a economia do território de Maomé LVI roubando-lhe as ovelhas da sua aldeia. Teodorico, o Leproso, reunira o maior exército alguma vez avistado na região – trinta e um guerreiros que faziam o chão tremer e os céus chorar! – e liderava-os, em pessoa, para roubar os ditos ovídeos. Os espiões de Maomé, mascarados de tapetes no palácio de três assoalhadas de Teodorico, haviam-no precavido desta incursão cobarde no meio da noite, pelo que o príncipe mouro pôde organizar a defesa do gado do seu país de forma engenhosa. Mascarou o seu exército inteiro – todos os onze soldados e meio e ele mesmo! – de ovelhas, armados até aos dentes com punhais sob as peles que vestiam, e esperou pacientemente pela vinda dos cobardes nazarenos de Teodorico, o Leproso.
Esperaram longamente a noite fora, até madrugada, pelo inimigo, mas nada viram senão as ovelhas do rebanho que os soldados de Teodorico ambicionavam levar.
Nisto, até os mais experientes e disciplinados guerreiros de Maomé perderam a paciência e, sem nada que comer nem cristão que matar, um dos mais bravos e poderosos homens da horda, Ali, o Frugal, acabou por suspirar por entre as pregas da sua rechonchudeza, depois de nove horas de espera, ao raiar do dia:
“Agora é que eu despachava uns bifinhos de borrego…”E qual não foi a surpresa geral quando, de repente, algum bárbaro de Teodorico, também disfarçado de ovelha, gritou ao seu príncipe:
“Alteza, estamos cercados! É uma emboscada!”
E ambos os rebanhos, o cristão e o mourisco, à espera um do outro há horas, ergueram-se em pânico, rodeados por ovelhas cuja lealdade não poderia ser discernida na escuridão total em que estavam. Logo, lançaram-se numa chacina sangrenta de todas que encontravam ainda a respirar, lutando umas contra as outras, na sua surpresa, ignorando se eram de Teodorico ou de Maomé. Até que houve luz suficiente para que três soldados do falecido Teodorico CCXXIV se reconhecessem, ofegantes e a tremer, antes de se chacinarem.
A batalha do Areal não foi tão sangrenta, mas igualmente importante na História do continente.
Aí, os exércitos de Ivan MII, o Manso e do basileu grego Teodósio MMCCXLIII defrontaram-se na plena expansão dos seus territórios, por um Areal com ricos depósitos de areia, essencial para a indústria de areia de ambas as Aldeias-Estado. Neste caso, os três cavaleiros de Ivan MII, o Manso, foram completamente derrotados por Teodósio MMCCXLIII que, numa fúria tremenda, os derrotou-os aos quatro com a sua fisga e espalhou o sangue dos bárbaros de Ivan pela areia.
Estas cruéis guerras prolongavam-se há oito mil e quinhentos anos, os títulos dos príncipes e dos seus barões eram transmitidos aos sucessores desde os primórdios do tempo, as batalhas e os seus mortos acumulavam-se, o povo vivia cansado e com medo, os artesãos frustrados de tédio cada vez que os seus príncipes lhes encomendavam mais espadas, mais mosquetes, mais velas para as caravelas das suas armadas, suspiravam “quando poderei finalmente forjar ferramentas?”, “quando poderei criar fogo-de-artifício?” e “quando poderei tecer tapetes ricos?”. E as guerras duravam e duravam, entre as 6327 orgulhosas vilas, Aldeias-Estado, reinos de quinhentas pessoas e impérios de meia légua que há muito se tinham esquecido de porque lutavam entre si.
Foi neste contexto que o sultão Achmed, soberano de uma vila maiorzinha que um dia seria uma capital dourada, pegou nas poupanças milenares dos seus domínios, as colocou num monte enorme na sala do seu trono, e mandou chamar os seus nobres, debatendo o que havia a ser feito no continente para acabar de uma vez por todas com a guerra que parecia não ter fim. Para além do mais, ouviam-se relatos de uma hoste fenomenal de bárbaros mongóis, sujeitos sujos e sangrentos, mas incrivelmente ingénuos e estúpidos.
Foi então do consenso geral da sua corte que a única solução para acabar com as guerras mesquinhas de há milénios seria unificar todos os reinos, fossem eles gregos, árabes, turcos, latinos, germânicos, francos, mouros ou judaicos. E para o fazer, teriam de tornar os mongóis nos seus mercenários para subjugar todo o reino, de forma a que todos os nobres aceitassem Achmed ibn Musa ibn Mehmet ibn Nuh ibn Atif ibn Suleyman ibn Ali como o seu sultão supremo e imperador.
Depois de cavalgar ao seu encontro em pessoa, o sultão Achmed encontrou o acampamento mongol, e prometeu a todos os vinte mil guerreiros três cavalos novos e uma renda anual se o ajudassem a conquistar todos os reinos e Aldeias-Estado. Felizes com a promessa, os mongóis limitaram-se a dividir a sua horda em quarenta exércitos mais pequenos, que então viajaram por todo o continente ordenando aos outros soberanos que se submetessem ao Sultão Achmed I, o Grande, Imperador do Continente. O povo todo esqueceu as etnias e religiões e lançou os braços ao céu, feliz por a guerra acabar, e viu o sultão Achmed como um salvador, e aclamou-o como único soberano digno de governar todo o continente. A maioria dos nobres aceitou prestar-lhe vassalagem de bom grado, e viu nele o mesmo salvador que o povo. Outros nobres, pensando que se tratava de mais um estratagema bélico mesquinho, recusaram-no, gritando que preferiam entregar os seus filhos ao Demónio. Neste caso, os mongóis solicitaram amavelmente que repensassem o que tinham dito após entrarem-lhes pelos palácios adentro e comendo a sua descendência viva.
Os mercenários mongóis tornaram a unificação do império mais fácil, portanto, chamando à razão de forma original todos os que se opunham. Em breve, os mongóis já não seriam necessários, pois um grande orgulho nacional tinha surgido por todo o império surgira, tornando todos os príncipes, barões e cavaleiros fidelíssimos a Achmed, que possuía o maior exército do mundo. Este tinha resolvido as disputas territoriais decretando que já não teriam razões para se guerrearem, pois tudo seria de todos, a pátria era apenas uma e todos tinham o direito de a povoar como entendessem, desde que não tirassem nada a ninguém.
Muito depressa, o comércio, a agricultura e a indústria floresceram, e criou-se uma capital chamada “Viva Achmed” na velha vila do sultão, que se tornaria num pólo de saber, de beleza e de arte. Aí, o imperador e sultão criara uma das cidades mais populosas, limpas e ricas do mundo, sendo o seu centro o seu palácio, construído a partir de ouro puro, angariado por meio de um imposto especial por duvidar do poder de Achmed I, o Grande.
O desenvolvimento rápido do país tornara todos os habitantes felizes, e o sultão também o foi durante séculos, até que se sentiu entediado pelo ócio e pela alegria enfadonha e monótona da sua corte.
O reino crescia rapidamente, até demais, portanto Achmed decidiu que era chegada a altura de solicitar amavelmente aos habitantes de um reino numa ilha vizinha que abandonassem as casas e campos para fomentar actividades no sector imobiliário, de modo a albergar colonos do seu império. Para além do mais, a ilha transbordava de ouro, prata e outros minerais que fariam falta na ala do harém do palácio de Achmed. Desde que chegara ao poder, não o largava a ambição de ter o palácio e a vida mais soberbos e um nome eterno e uma casa-de-banho feita inteiramente de prata.
A conquista do reino da ilha foi célere e sem grandes dificuldades, os guerreiros mongóis demonstraram mais uma vez os seus dotes diplomáticos, chegando a compromissos com os nativos, negociando por um preço adequado - nada - as suas propriedades.
Em pouco tempo, o povo da ilha, uma estirpe de gregos, compreendeu que tinha chegado a sua vez de procurar novos territórios e novas riquezas, portanto reuniu-se, na sua maior parte, nas costas do seu antigo reino e levantou âncoras rumo à glória e às alegrias da aventura. Os restantes foram escravizados.
O povo de Achmed enriquecia ainda mais, o próprio Achmed também alcançava todas as riquezas que procurava. Mas a vida na corte tornava-se de novo monótona, precisava de algo novo para oferecer ao povo e ao seu grande ego de homem que usufrui da companhia de cerca de quatro mil grandes mulheres, milhares de toneladas de feminilidade.
Havia uma outra ilha, conhecida por ser a maior produtora do mundo de pedras de calçada, palha e diamantes. Achmed achou que mais riqueza fazia falta no seu império, portanto mandou os seus mongóis de novo para negociar com os germanos bárbaros que nela viviam, que depois de delinearem muito bem o abandono da ilha e de morrerem de forma hierarquizada e organizada - como apenas os germanos o sabem fazer! - e de chorarem disciplinadamente e de forma fria enquanto negociavam poderem manter parte da sua riqueza se entregassem todos os seus filhos e mulheres aos mongóis, os germanos abandonaram corajosamente a sua ilha, convencidos de terem tido um comportamento exemplar: Tudo tinha corrido de forma linear, não tinham sujado as ruas das suas aldeias e cidades pacíficas e esterilizadas com o seu sangue. A sua organização e limpeza era a prova de que tinha sido a melhor decisão.
Tambem Achmed achou que tinha sido a conclusão mais feliz possível. Mas séculos depois, quando começou a fartar-se das mossas que as suas grandes mulheres deixavam nas armações das suas camas de prata, Achmed decidiu partir ele mesmo, mais uma vez, com uma grande armada para conquistar mais uma ilha, a mais rica do mundo conhecido em pardais, areia - como o neto de Teodósio MMCCXLIII, Teodósio MMCCXLV, se alegrou por poder expandir lá a sua indústria enviando colonos seus, antigos combatentes mongóis, incrivelmente ingénuos e estúpidos! - e sobretudo, a mais rica em rubis.
A grande armada, com uma caravela baptizada em honra de cada uma das mulheres e concubinas e amantes de Achmed I, estava a metade do caminho quando foi assomada por uma terrível tempestade que destruiu toda a frota e todos os náufragos foram levados por correntes diferentes, e afogaram-se ou morreram de fome ou sede enquanto flutuavam. Outros, ainda, foram levados em grupo pelas correntes até bancos de areia no meio do oceano, onde tentaram estabelecer pequenas indústrias de extracção de areia. Naturalmente, isto revelou-se uma perda de tempo, pois também morreriam de fome. Que bárbaros mongóis tão incrivelmente ingénuos e estúpidos!...
Achmed, enfim, não teria a sorte de morrer sozinho. Estava sozinho, no meio do mar, destronado de um império que se desfaria depois da sua morte não por não deixar sucessores, mas por ter criado desses em demasia. Quando o seu estômago rosnava, perguntava-se se não tinha sido um pouco-tanto ganancioso e se aquilo, no fundo, era evitável e indesejável.
Estava a morrer de fome e de sede, mas foi salvo por uma frota de navios. A princípio ficou eufórico por já não morrer, por poder pagar aos marinheiros com terras suas se o levassem de novo a qualquer cidade do seu império.
Mas não teve essa sorte. Eram piratas sujos, de traços cruéis e duros que se divertiam desancando gatos e chupando o tutano dos oços de prisioneiros vivos. Acorrentaram o sultão Achmed e trouxeram-no à presença do líder daquela frota pirata, que ficou a saber que se chamava Hrocknart, o Doce. E perante os olhos negros daqueles homens que tinham alcunhas como "Faca", "Estripador", "Estripa-Gatos", "Estripa-Imperadores" e "Viola-Sultões", Achmed tremia e contava a sua história. Os piratas olharam entre si uns segundos com olhares que deram arrepios ao sultão por o lembrarem demasiado das suas mulheres e por fim, Hrocknart proferiu a sua sentença:
"Ó grande sultão, somos a tribo germânica que despojaste de mulheres e expulsaste para as entranhas do mar. Para sobreviver, o nosso povo teve de se tornar num de piratas e corsários, raptando novos recrutas, já que não podemos procriar sem fêmeas. Por isso também desenvolvemos hábitos muito, digamos...sui generis."
E todos os piratas anuiram, sorrindo para Achmed e lambendo os beiços. Este perguntou, consternado...
"E que hábitos são esses?"E Hrocknart, o Doce, respondeu:
"Talvez se te apresentar parte da nossa tripulação passes a perceber. Aqui tens o "Faca"... de epíteto, "o Que Nunca Gane".... aqui tens Fraygnir... de epíteto, "o Grande"... Vê como esse querido sorri quando falamos do seu cognome, hehe. Bem, continuando... aqui tens Klauggur... de cognome "o Carrasco".... e Ugmann.... "o Que Usa Cobras e Enguias".... Ó grande sultão, com isto tudo desejo que conheças a nossa natureza, a natureza a que nos forçaste. Décadas do alto-mar para onde nos baniste forçaram-nos a ser o que somos e aquilo em que, por ironia do destino, também te converterás devido à tua ganância. Serás para sempre o nosso prisioneiro, escravo do nosso povo, propriedade do Estado, do único Estado que nos permitiste ter, o do alto-mar, onde ninguém te ouve."E foi assim que o sultão Achmet I, o Grande e o Destronado, navegou para sempre, à procura da aventura, depois de ter engolido o orgulho e quebrado a sua dignidade que sangrara, no início, na companhia do Povo dos Piratas Sodomitas.
Mittwoch, 12. März 2008
o síndrome de Gregor Samsa
Para quem ainda não leu "a Metamorfose" do Kafka (que eu não consegui acabar, a coisa toda de "coitadinho, ninguém dá atenção ao bicho" fartou-me um bocado) , posso fazer um resumo muito curto para que saibam do que vou falar.
Gregor Samsa, um homem de negócios, acorda um dia cheio de dores e com um sem-número de patinhas dos lados, com toda a pele transformada numa carapaça.
"Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheueren Ungeziefer verwandelt."
Tinha-se transformado, como Kafka o diz, num "Ungeziefer"... numa barata, num bicho, num bicharoco feio.
O que me assusta não é a short story em si. É o facto de existir uma doença que transforma parte da pele em quitina(ou quinina, não sei ao certo...), a mesma substância de que são feitos os nossos cabelos, as nossas unhas e o exosqueleto dos insectos como escaravelhos ou assim. O nome da doença, não o sei ao certo, mas começa por "displasia".
A pele começa a ficar com a forma de um mosaico de placas duras e criam-se mesmo depósitos compridos... Como antenas...
Gregor Samsa, um homem de negócios, acorda um dia cheio de dores e com um sem-número de patinhas dos lados, com toda a pele transformada numa carapaça.
"Als Gregor Samsa eines Morgens aus unruhigen Träumen erwachte, fand er sich in seinem Bett zu einem ungeheueren Ungeziefer verwandelt."
Tinha-se transformado, como Kafka o diz, num "Ungeziefer"... numa barata, num bicho, num bicharoco feio.
O que me assusta não é a short story em si. É o facto de existir uma doença que transforma parte da pele em quitina(ou quinina, não sei ao certo...), a mesma substância de que são feitos os nossos cabelos, as nossas unhas e o exosqueleto dos insectos como escaravelhos ou assim. O nome da doença, não o sei ao certo, mas começa por "displasia".
A pele começa a ficar com a forma de um mosaico de placas duras e criam-se mesmo depósitos compridos... Como antenas...
Sonntag, 2. März 2008
Antígona
Antígona de Sófocles está a ser representada na Barraca, em Santos. Aconselho: Muito bons actores. Apenas parte da mise-en-scène(para ser um bocado pomposo, para variar) me pareceu um pouco.... desnecessária. Quem vir, há de perceber de que estou a falar.
Enfim. Muito interessante. Pensei que ia achar a peça aborrecida - as tragédias não costumam fazer o meu género - mas não foi, de todo, o caso.
Aconselho!
Enfim. Muito interessante. Pensei que ia achar a peça aborrecida - as tragédias não costumam fazer o meu género - mas não foi, de todo, o caso.
Aconselho!
Samstag, 1. März 2008
Sou
Sou uma réstia de sombra de um ninguém
Naufragada no tempo e pensamento,
Farrapo de mim ao sabor do vento,
O eco turvo entre a Vida e o Além.
Sou o meu reflexo na noite espelhada,
Uma alma estagnada, podre e tão morta...
E no esquecimento, só me conforta
Saber que sou isto tudo e que não sou nada.
Rafael Silveira Neves, 02.2008
Naufragada no tempo e pensamento,
Farrapo de mim ao sabor do vento,
O eco turvo entre a Vida e o Além.
Sou o meu reflexo na noite espelhada,
Uma alma estagnada, podre e tão morta...
E no esquecimento, só me conforta
Saber que sou isto tudo e que não sou nada.
Rafael Silveira Neves, 02.2008
Asteri
Caso não o saibam, já há quatro meses que ando a escrever um livro. Na verdade, é mais um conto comprido.
Retrata a história de um homem que fica preso nos seus sonhos, e neles acorda sem saber quem é. Nas suas viagens lutará para encontrar a sua própria identidade, o seu lugar no novo mundo de que nunca se livrará.
Viaja mesmo do pior dos pesadelos de toda a Humanidade para o Sonho mais harmonioso, para a perfeição.
E escrevo isto hoje porque... Estou quase a acabá-lo. Já comecei o penúltimo capítulo.
Quem estiver interessado no livro, peça-mo, e em breve darei uma cópia.
Retrata a história de um homem que fica preso nos seus sonhos, e neles acorda sem saber quem é. Nas suas viagens lutará para encontrar a sua própria identidade, o seu lugar no novo mundo de que nunca se livrará.
Viaja mesmo do pior dos pesadelos de toda a Humanidade para o Sonho mais harmonioso, para a perfeição.
E escrevo isto hoje porque... Estou quase a acabá-lo. Já comecei o penúltimo capítulo.
Quem estiver interessado no livro, peça-mo, e em breve darei uma cópia.
Sonntag, 24. Februar 2008
Filosofia de Wittgenstein sobre o Mundo
"Neste mundo não há nada de terrível nem nada de maravilhoso, apenas coisas assim-assim"
Fédon: Ideias interessantes
Há alguns tempos pus-me a ler "Fédon" de Platão. Apesar de ser, como todos os diálogos socráticos, uma dialéctica cheia de argumentos muito primitivos, por sua vez cheios de metafísica com 2500 anos, houve uma ideia que me chamou a atenção. Que até acho podermos interpretar num sentido mais amplo...
Na obra relata-se o dia da morte de Sócrates, enfatizando a sua aceitação da morte. Grande parte da sua argumentação a explicar o porquê disso é, a meu ver, uma caca. Os argumentos e exemplos que usa são completamente despropositados e irracionais; as perguntas retóricas manipulativas que coloca metem respostas ainda mais idiotas nas bocas dos seus discípulos, que nada mais fazem a não ser concordar com Sócrates.
No meio disso tudo surge a teoria da alternância dos opostos.
Sócrates afirma que tudo no universo nasce do seu contrário: A vida leva à morte, a morte origina a vida.
Se conhecemos, por outro lado, o significado da palavra "frio", é porque conhecemos o seu oposto para podermos estabelecer comparações: se sabemos o que é o frio, então conhecemos o quente. O frio aquece, dá lugar ao quente, o quente esfria e cria o frio.
Da mesma forma... para determinarmos, na nossa opinião, o que é o "justo", temos também de conhecer o "injusto".
A existência do "bem" tem como pre-requisito a existência do mal.
É a partir dos contrastes, em suma, que orientamos o nosso conhecimento.
Na obra relata-se o dia da morte de Sócrates, enfatizando a sua aceitação da morte. Grande parte da sua argumentação a explicar o porquê disso é, a meu ver, uma caca. Os argumentos e exemplos que usa são completamente despropositados e irracionais; as perguntas retóricas manipulativas que coloca metem respostas ainda mais idiotas nas bocas dos seus discípulos, que nada mais fazem a não ser concordar com Sócrates.
No meio disso tudo surge a teoria da alternância dos opostos.
Sócrates afirma que tudo no universo nasce do seu contrário: A vida leva à morte, a morte origina a vida.
Se conhecemos, por outro lado, o significado da palavra "frio", é porque conhecemos o seu oposto para podermos estabelecer comparações: se sabemos o que é o frio, então conhecemos o quente. O frio aquece, dá lugar ao quente, o quente esfria e cria o frio.
Da mesma forma... para determinarmos, na nossa opinião, o que é o "justo", temos também de conhecer o "injusto".
A existência do "bem" tem como pre-requisito a existência do mal.
É a partir dos contrastes, em suma, que orientamos o nosso conhecimento.
Montag, 4. Februar 2008
O ABISMO
Pascal em si tinha um abismo se movendo.
- Ai, tudo é abismo! - sonho, acção, desejo intenso
,Palavra! E sobre mim, num calafrio, eu penso
Sentir do Medo o vento às vezes se estendendo.
Em volta, no alto, embaixo, a profundeza, o denso
Silêncio, a tumba, o espaço cativante e horrendo...
Em minhas noites, Deus, o sábio dedo erguendo,
Desenha um pesadelo multiforme e imenso.
Tenho medo do sono, o túnel que me esconde,
Cheio de vago horror, levando não sei aonde;
Do infinito, à janela, eu gozo os cruéis prazeres,
E meu espírito, ébrio afeito ao desvario,
Ao nada inveja a insensibilidade e o frio.
- Ah, não sair jamais dos Números e Seres!
Charles Baudelaire
Pascal em si tinha um abismo se movendo.
- Ai, tudo é abismo! - sonho, acção, desejo intenso
,Palavra! E sobre mim, num calafrio, eu penso
Sentir do Medo o vento às vezes se estendendo.
Em volta, no alto, embaixo, a profundeza, o denso
Silêncio, a tumba, o espaço cativante e horrendo...
Em minhas noites, Deus, o sábio dedo erguendo,
Desenha um pesadelo multiforme e imenso.
Tenho medo do sono, o túnel que me esconde,
Cheio de vago horror, levando não sei aonde;
Do infinito, à janela, eu gozo os cruéis prazeres,
E meu espírito, ébrio afeito ao desvario,
Ao nada inveja a insensibilidade e o frio.
- Ah, não sair jamais dos Números e Seres!
Charles Baudelaire
Sonntag, 3. Februar 2008
Maias para crianças?
No outro dia, quando estava numa paragem de autocarro, não pude deixar de reparar num anúncio do semanário Sol, que fazia publicidade a uma adaptação dos Maias de Eça de Queirós para crianças, feita pelo Luis Peixoto.
Quem já tiver lido Os Maias, há de perceber de onde veio o meu espanto - aliás, porque é que toda a rua desatou a olhar para mim quando me viu a dar uma gargalhada enorme e descontrolada quando fiz a ligação:
Os Maias tem como tema central um incesto. Duvido que, independentemente de quão fofinhos os desenhos sejam, as criancinhas inocentes de 4 anos ou assim não perguntem aos papás:
"Papá. O que é adultério?(com enormes olhos de bambi)" "Mamã, o que é incesto?" "mamã, o que quer dizer "aos dezoito anos já tinha o seu bastardozinho"?"
Péssima escolha de livro para fazer a adaptação. É um livro excelente para gente crescida, mas pouco ou nada podem aprender miúdos com aquilo.
Quem já tiver lido Os Maias, há de perceber de onde veio o meu espanto - aliás, porque é que toda a rua desatou a olhar para mim quando me viu a dar uma gargalhada enorme e descontrolada quando fiz a ligação:
Os Maias tem como tema central um incesto. Duvido que, independentemente de quão fofinhos os desenhos sejam, as criancinhas inocentes de 4 anos ou assim não perguntem aos papás:
"Papá. O que é adultério?(com enormes olhos de bambi)" "Mamã, o que é incesto?" "mamã, o que quer dizer "aos dezoito anos já tinha o seu bastardozinho"?"
Péssima escolha de livro para fazer a adaptação. É um livro excelente para gente crescida, mas pouco ou nada podem aprender miúdos com aquilo.
Samstag, 2. Februar 2008
De "Candide"
Ultimamente, ando a ler "Candide", de Voltaire, ou François-Marie Arouet. Já que foi uma obra escrita com todo o espírito do iluminismo, "Candide" tem uma fortíssima componente filosófica. Mas não é por isso que a obra me fascina, apesar de a filosofia transmitida ser muito interessante. O próprio estilo de Voltaire, embebido em ironia e humor, leva leitores a violentos ataques de riso 250 anos depois.
Ainda vou a meio do livro, mas posso fazer um resumo do que tem acontecido: Candide, é um jovem que vive no castelo do Barão de Thunder-ten-tronckh, que, como Voltaire escreve, é o barão mais poderoso da Vestfália, pois "o seu castelo tinha uma porta e janelas". Candide é o seu sobrinho, filho da sua irmã que se recusou casar porque o seu amado só podia provar a ascendência pura e nobre "apenas" até à sexta geração.
No castelo mora também o sábio Pangloss, que ensina a Metafisicó-teologó-cosmolonigologia, que a bela Cunegonde, a amada de Candide, encontra uma vez no jardim a dar uma lição de "física experimental" à criada. Fascinada com o que tinha visto, Cunegonde pratica o mesmo com Candide, sendo apanhados os dois na mesma altura pelo barão, que não é mais do que o pai de Cunegonde.
Candide é expulso a pontapé do paraíso e viaja, vendo os terrores da guerra, aldeias ávaras saqueadas e queimadas pelos búlgaros e aldeias búlgaras às quais os ávaros tinham dado o mesmo tratamento, e acaba por ser recrutado à força para o seu exército. Um dia, como soldado, Candide decide dar um passeio para fora do campo, é apanhado, declarado desertor e castigado com seis mil vergastadas.
Numa certa batalha, deserta mesmo e viaja para a Holanda, onde trabalha para um fabricante holandês de tapetes persas. Um dia, ao ver um pedinte a morrer na rua de sífilis, fica atónito ao saber que é na verdade Pangloss, que tinha sido infectado pela criada, que tinha sido infectada por um franciscano que tinha por sua vez recebido a sífilis de uma velha condessa. Essa devia a doença a oficial, que a devia a uma marquesa, que tinha sido infectada por um pagem que tinha sido contagiado por um jesuíta.
Depois de se tratar de Pangloss, viajam os três (Candide, Pangloss e o fabricante) para Lisboa em negócios.
E é nessa parte que eu fiquei. Como se pode ver, toda a escrita de Voltaire gira à volta do absurdo, do irónico, do sarcástico, do hilariante, da crítica. É o meu sentido de humor.
Ainda vou a meio do livro, mas posso fazer um resumo do que tem acontecido: Candide, é um jovem que vive no castelo do Barão de Thunder-ten-tronckh, que, como Voltaire escreve, é o barão mais poderoso da Vestfália, pois "o seu castelo tinha uma porta e janelas". Candide é o seu sobrinho, filho da sua irmã que se recusou casar porque o seu amado só podia provar a ascendência pura e nobre "apenas" até à sexta geração.
No castelo mora também o sábio Pangloss, que ensina a Metafisicó-teologó-cosmolonigologia, que a bela Cunegonde, a amada de Candide, encontra uma vez no jardim a dar uma lição de "física experimental" à criada. Fascinada com o que tinha visto, Cunegonde pratica o mesmo com Candide, sendo apanhados os dois na mesma altura pelo barão, que não é mais do que o pai de Cunegonde.
Candide é expulso a pontapé do paraíso e viaja, vendo os terrores da guerra, aldeias ávaras saqueadas e queimadas pelos búlgaros e aldeias búlgaras às quais os ávaros tinham dado o mesmo tratamento, e acaba por ser recrutado à força para o seu exército. Um dia, como soldado, Candide decide dar um passeio para fora do campo, é apanhado, declarado desertor e castigado com seis mil vergastadas.
Numa certa batalha, deserta mesmo e viaja para a Holanda, onde trabalha para um fabricante holandês de tapetes persas. Um dia, ao ver um pedinte a morrer na rua de sífilis, fica atónito ao saber que é na verdade Pangloss, que tinha sido infectado pela criada, que tinha sido infectada por um franciscano que tinha por sua vez recebido a sífilis de uma velha condessa. Essa devia a doença a oficial, que a devia a uma marquesa, que tinha sido infectada por um pagem que tinha sido contagiado por um jesuíta.
Depois de se tratar de Pangloss, viajam os três (Candide, Pangloss e o fabricante) para Lisboa em negócios.
E é nessa parte que eu fiquei. Como se pode ver, toda a escrita de Voltaire gira à volta do absurdo, do irónico, do sarcástico, do hilariante, da crítica. É o meu sentido de humor.
Donnerstag, 31. Januar 2008
O Manifesto do ARS VITAE
O ARS VITAE,
considerando o mundo e a vida como a conhecemos,
lamentando a falta de blogs inteligentes na internet,
considerando o mundo e a vida como a conhecemos,
lamentando a falta de blogs inteligentes na internet,
apelando à união de todos os cientistas, artistas e pensadores,
erguendo-se sobre o ideal de que a Vida é Arte e a Arte é Vida,
Declara:
- Que a música, a poesia, a literatura e as artes plásticas são o que mais aproxima o ser humano de um deus por nelas testar as suas capacidades inatas de criação,
- Que o carácter de cada Homem é a sua própria obra prima, e que a ele cabem os critérios estéticos para o formar,
- Que reconhece o direito inato e inalienável de todos os seres humanos a especular e a sonhar para além das fronteiras da racionalidade.
E apela ao debate sobre a maior arte de todas, a arte da vida.
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